Hoje é Sexta-feira Santa. Dia em que se reflete sobre a paixão de Cristo. Para mim a época mais difícil do calendário Cristão. Ou melhor: tem sido, habitualmente, a época mais difícil. Penso que este ano está a ser muito mais fácil. Consegui acertar uns azimutes cá na minha maneira de ver as coisas e penso que dei um passo em frente. Consegui deixar de sofrer que nem uma desgraçada por ficar centrada na Via Sacra e no sacrifício de Jesus. Estou contente, espiritualmente falando, porque consegui ver e sentir para além do sofrimento. Penso que consegui tirar a lição suprema de tudo isto. Consegui, finalmente, tirar Jesus da cruz e sentir internamente a essência de tudo isto. Apesar de se ter o conhecimento das coisas, é preciso sentir para as podermos entender verdadeiramente. É necessário que caiam umas fichinhas espirituais para que as coisas façam sentido e para que também a minha alma possa evoluir.
Finalmente, parece que me consigo centrar na questão do amor incondicional que Jesus personificou. No amor incondicional e na fé. Estes dois conceitos sobre os quais se fala tantas vezes mas tão poucas se aplica de verdade....E Jesus, de uma assentada, deu um exemplo tão claro para toda a humanidade. Foi de forma dura e sofrida. Sob a forma de sacrifício supremo. Mas na verdade, talvez tenha sido a única forma de fazer com que o seu exemplo e os seus ensinamentos atravessassem a nossa história e as várias gerações até aos nossos dias. Teve que ser com terror da época. Da forma mais vil e chocante. Mas todo o sofrimento de Jesus ficou lá atrás. Não é isso que importa, essa foi a forma de perpetuar a verdadeira essência de Cristo e de Deus Pai. Amor incondicional e fé. Jesus mostrou divinamente o que é amar incondicionalmente a todos, até aos seus inimigos. E incondicionalmente quer dizer sem ses, sem mas e sem medo. Jesus deixou-se torturar e matar por amor. Escolheu o amor apesar do preço que sabia que isso iria ter. Escolheu o amor. Podia ter escolhido defender-se do medo que sentiu. Tal como todos nós, também Jesus pôde escolher, em sagrado livre arbítrio, entre o amor e o medo. E escolheu o amor. Sempre que tenho medo, lembro-me de Jesus e peço-lhe que me dê forças para ser capaz de escolher o amor. Sempre. Peço-lhe que coloque no meu coração uma gota do seu divino sangue para que também eu possa ser corajosa.
E sempre que sofro, que sinto o coração destroçado, lembro-me da sua Bendita Mãe que deverá ser a mulher que mais sofreu em toda a história das mães. E peço-lhe um bocadinho da sua serenidade para também eu ser capaz de aguentar o sofrimento de forma serena e aceitante. Sabendo que tudo é feito para o bem supremo das nossas almas. Mesmo quando não compreendo peço ajuda à Virgem Maria que, pura e simplesmente, se entregou à vontade do Pai. E entregou-se igualmente por amor. Escolhendo o amor incondicional. Sem medo. Daí que a Páscoa seja uma época tão especial. Já compreendo que encerra em si própria a essência do Divino.
Por outro lado, Jesus, contra tudo e contra todos, afirma a sua fé. E afirmar a sua fé não é apenas gritá-la aos sete ventos. Esta é apenas a parte da palavra. Ter fé não é apenas acreditar em Deus e afirmar que Ele existe. Se não sairmos disto, é uma fé estéril. Inconsequente. A fé que Jesus nos mostra é aquela que o fez entregar-se ao destino que lhe estava reservado pelo Pai, sem reservas. Confiando. Entregando-se integralmente à vontade de Deus. E este é busílis de toda a Páscoa. Parece-me que a mensagem é a de ultrapassar a cruz de uma vez por todas. A mensagem é de luz, não é de cruz. A mensagem é de amor incondicional e de fé incondicional. De luz suprema. De liberdade suprema.
Vale a pena pensarmos se na nossa vida, escolhemos entre o amor ou o medo. Se as diversas formas de sentirmos, vivermos e partilharmos o amor são condicionadas. Ou andamos a caminhar para o tal amor incondicional, sereno, desapegado. Consubstanciado nas nossas opções de vida. Ou apenas existe em forma de palavra que sai da nossa boca?
Vale a pena refletir se a fé que dizemos ter é uma fé solida, robusta. Que crê, confia e entrega. De olhos fechados. Será que também é apenas uma palavra ou vai a caminho de ser uma chama que mobiliza a nossa coragem? Já por aqui escrevi um texto sobre a minha forma de ver a fé. E chama-se exatamente isso: Fé. Expressa o que entendo ser este sentimento tão profundo que Jesus tão divinamente nos ensinou.
Parece-me que cada um de nós tem que deixar de viver a Páscoa de uma forma sofrida. Vamos ter que sair dos locais e dos rituais de culto e dar um salto ao nosso interior. Ao nosso coração. E, ao olharmos lá para dentro, convém verificar se por lá encontramos duas gotitas de sangue de Cristo. Aquelas que nos ensinam a ter amor e a ter fé. E a Páscoa, verdadeiramente, poderá acontecer em todo o seu esplendor. Não vale a pena cantar aleluias se não formos capazes de sentir essa alegria de renovação, cá dentro, no nosso coração. Cristo volta à terra sempre que os nossos corações O honram com amor e com fé. Sempre que perpetuamos os Seus ensinamentos estamos a dizer-lhe que a Sua entrega valeu a pena. Que não foi em vão. Que fez toda a diferença na nossa vida.
Este caminho do amor e da fé não é nada fácil. É um caminho tão duro, tão sofrido que por vezes se caminha de joelhos no chão. Rasgados e ensanguentados. Por vezes é um caminho muito solitário porque a maioria das outras pessoas não nos entende, nem um bocadinho. Porque é um caminho de luta sistemática connosco próprios. É mais fácil ter medo do que coragem. É mais fácil responder na mesma moeda do que encontrar uma forma nova de fazer a paz. É mais fácil ver para crer do que confiar. É mais dar vazão à ira do que ser terno. É mais fácil perder a cabeça do que manter o coração. É mais fácil julgar do que compreender. É mais fácil prender do que dar liberdade. É mais fácil receber do que dar. É mais fácil pensar com a cabeça do que com o coração. É mais fácil dar razão à razão do que à alma. É mais fácil fugir do que enfrentar. É muito mais fácil não amar. Sofre-se muito menos. É muito mais fácil fazer-se escolhas carregadinhas de segurança e de condições. É um lugar comum dizer-se que nem tudo o que é fácil é necessariamente o melhor para nós. Neste caso, assim parece ser. O melhor dos caminhos, é o mais difícil. Mas em tudo na nossa vida, podemos escolher o que queremos. Em pleno exercício do nosso livre arbítrio. Também podemos escolher ter uma Páscoa verdadeira, cá dentro, no coração e na alma. Ou podemos apenas cumprir os rituais habituais da época. E na segunda feira retomamos a nossa vidinha como se nada tivesse acontecido. Sem nenhum florescimento, apenas com continuidade. Amor e fé continuarão a ser apenas palavras e, quanto muito, desejos. A nossa vida, a nossas escolhas e decisões, desde as mais pequeninas às maiores, têm que ser feitas por amor e com fé. Sem medo e com entrega. Deus sabe exatamente o que é melhor para nós. E como Pai extremoso que é, como poderia deixar de nos entregar todo o resultado da nossa confiança?
Deveria ser Páscoa, pelo menos, uma vez por mês. À força de tanto amor e de tanta fé, haveríamos mesmo de nos tornar melhores pessoas. É que não adianta nada dizer que temos amor a Deus e fé se não somos capazes de nos amarmos a nós próprios e aos que nos rodeiam. Se não sabemos cuidar de quem amamos, como cuidamos do amor a Deus? Se não não somos capazes de escolher não sabendo o que vamos encontrar, que raio de confiança e de entrega é essa? Que fé é que temos? Se prefiro o mal que conheço ao bem que não conheço, de que fé estamos a falar? Ou melhor, a sentir?
Eu acredito que tudo o que se sente tem que ter uma expressão qualquer, ou não vale a pena. O amor tem que ter expressão ou é apenas uma linda pintura que apenas se observa. A fé tem que ter expressão ou é apenas uma teoria que se discute até à exaustão e não se consubstancia em coisa nenhuma. Tudo árido e infértil. Sem chama. Sem primavera. Sem Páscoa.
Deveria ser Páscoa, pelo menos, uma vez por mês. À força de tanto amor e de tanta fé, haveríamos mesmo de nos tornar melhores pessoas. É que não adianta nada dizer que temos amor a Deus e fé se não somos capazes de nos amarmos a nós próprios e aos que nos rodeiam. Se não sabemos cuidar de quem amamos, como cuidamos do amor a Deus? Se não não somos capazes de escolher não sabendo o que vamos encontrar, que raio de confiança e de entrega é essa? Que fé é que temos? Se prefiro o mal que conheço ao bem que não conheço, de que fé estamos a falar? Ou melhor, a sentir?
Eu acredito que tudo o que se sente tem que ter uma expressão qualquer, ou não vale a pena. O amor tem que ter expressão ou é apenas uma linda pintura que apenas se observa. A fé tem que ter expressão ou é apenas uma teoria que se discute até à exaustão e não se consubstancia em coisa nenhuma. Tudo árido e infértil. Sem chama. Sem primavera. Sem Páscoa.
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