Tenho andado demasiado ocupada para escrever. E isso não é nada bom. Eu preciso de escrever para lavar a alma. Para deitar cá para fora aquilo que penso por dentro. Quando não escrevo começo a transbordar de pensamentos e de emoções que se desalinham e que se misturam uns nos outros. Escrever permite-me encontrar uma ordem para pensar nas coisas, para as colocar no seu devido lugar, para as vestir de sentido. Claro que é de acordo com as minhas referencias e com os olhos com que vejo a vida. Pode fazer-se de conta que, para mim, escrever será como quem pinta uma tela e lhe dá as cores que entende. Claro que eu seria incapaz de pintar. No dia em que Deus Nosso Senhor distribuiu o jeito para a pintura e a delicadeza de mãos, eu estava na fila das palavras e demorei-me por lá muito tempo...a minha veia artística é só para o lado interior da coisa. Toda a arte me emociona e faz mexer uma data de cordelinhos cá dentro. Mas para fora, nicles.Tudo se passa cá nos meus mundos por dentro. Não sou nada prendada na expressão artística. Mas aprecio com toda a minha alma e cá por dentro tocam orquestras por todo lado e as cores misturam-se em formas e tonalidades que só eu entendo. Mas tudo se passa cá por dentro. Quem vê de fora, não dá nada por isso. O par de olhos que abro por dentro quando fecho o par cá de fora mostram-me outras dimensões do mundo, da vida e de mim própria. Os olhos que tenho virados para dentro são os que me salvam a vida que vejo cá fora. E aprendi que tudo se passa por esta ordem: de dentro para fora. Esta terá talvez sido a maior das minhas aprendizagens. Tudo começa por dentro de nós. Tudo se passa por dentro para poder ter expressão fora. E, verdadeiramente, aquilo que buscamos com todas as nossas forças, na maior parte das vezes, está tão ao nosso alcance que nem damos por isso. Está dentro de nós. Guardadinho à espera de ser descoberto, à espera de ser encontrado. O sentido da vida, a essência das coisas, sempre no interior, no nosso âmago. E quando nós o descobrimos e fazemos as nossas escolhas em função daquilo que está cá dentro, a vida cá fora ajeita-se nesse sentido. A vida faz-nos a vontade. Tudo isto é como quem diz, a providência divina providencia o melhor para nós. Coloca-nos no caminho as soluções que complementam as nossas escolhas interiores. Podemos encarar a fé desta maneira. Não basta falar de fé nos círculos religiosos, nos cultos e momentos propícios para o efeito. Não basta usar e abusar da palavra. Como se diz que se tem fé - daquela à prova de bala - se depois não somos capazes de confiar na providência divina? Confiar implica entregar incondicionalmente a nossa escolha. Ser capaz de escolher pelo lado do amor, mesmo não sabendo o que vai acontecer. Ter fé é dar um salto sem rede sabendo que Deus nunca o deixará cair. E, se cair, não se magoará e será apenas uma forma perfeita de se tornar a levantar sem carregar o peso do que ficou para trás. Como eu gostaria que a fé saísse dos templos e dos livros sagrados e que tivesse morada no coração de cada um de nós. Se se pensar que planear o acordar de amanhã já é um ato de fé, será muito mais fácil tomar-se outras decisões que podem parecer assustadoras como saltos no vazio. Se se pensar que o amanhã não existe. Se se pensar que a centelha da vida se pode apagar de um momento para o outro. Se se pensar que tudo é tão efémero, é tão mais fácil saltar-se sem se saber onde se vai poisar. Se se pensar na fragilidade da própria vida, não se gasta tanta energia a ter medo nem a correr atrás de qualquer coisa que nem se sabe bem o que é. Por isso é que vale tanto a pena parar, pensar, meditar, contemplar e encontrar o montão de tesouros que trazemos dentro de nós. É dentro de nós que se encontra a satisfação, a calma, a paz, o amor e a felicidade. É verdade, tudo isto não se pode encontrar fora. E, quanto mais pensamos que está fora de nós, mais corremos atrás, mais perseguimos. E, quanto mais perseguimos, mais nos foge. Pois quanto mais corremos por fora, mais nos afastamos do nosso interior, da nossa essência e daquilo que cá dentro se encontra. E há pessoas tão importantes para mim que correm tanto! E eu vejo-as correr sem poder fazer nada. Quanto mais correm mais se afastam de si próprios e de todos os que amam e de quem os ama. É preciso fazer-se muita força para não se desistir de acompanhar quem corre constantemente a mil à hora. Muitas vezes, este acompanhamento é feito à distância, conforme se pode. Também a correr, sem tempo para o que é importante. Sempre a gerir-se a urgência. Não há coração que aguente. Tarde ou cedo, os corações cedem às correrias. Os corações de quem tanto corre e os corações de quem procura acompanhar. Esta é que é a verdade. Ou há para aí um par de travões que apareça e que faça travar esta velocidade suicida ou vejo alguns casos mal parados. Talvez tenha duas pessoas que adoro de paixão, nestas circunstâncias. E dói-me tanto ver um muro a aproximar-se vertiginosamente sobre cada uma delas. Mas estas pessoas tão queridas não vêem. Apenas olham para a frente e correm com toda a força que têm fazendo o melhor que são capazes. Correm para não terem que enfrentar o medo do desconhecido. O medo do julgamento do mundo. O medo de não usufruírem da providência divina. Na sua correria esqueceram-se que Deus sempre os acompanha. E que ainda os acompanha mais quando estão a fazer asneira. Principalmente porque a asneira é feita sem maldade, sem querer prejudicar ninguém. A asneira é feita por se querer resolver tudo sozinho, sem preocupar ninguém. Castigam-se a eles próprios. Parece-me que lá nos seus íntimos não se julgam assim tão merecedores do amor e da proteção do Pai do Céu. Ainda não aprenderam que primeiro temos que fazer a nossa parte para que a vida se apresente em conformidade. E a nossa parte é descobrir o caminho da felicidade. Escolher em função do que é melhor para nós em profundo amor próprio e em profunda confiança no Divino. Sem medo. Se corremos atrás do trabalho acima de todas as coisas, ele foge-nos. Se corremos atrás do dinheiro acima de todas as coisas, ele foge-nos. O dinheiro e o trabalho são instrumentos que estão ao nosso serviço. Não somos nós que devemos estar ao serviços deles. Nós temos que servir o amor. Escolher o caminho da evolução da nossa alma. Escolher o que nos faz bem. Quando escolhemos o que nos faz bem, somos capazes de fazer bem aos outros. Quando encontramos a paz interior, conseguimos dar paz aos outros. Só conseguimos dar aquilo que temos. Esta também é uma verdade incontornável. Não podemos dar nada do que não temos. Não podemos partilhar o que não é nosso. Assim, mais uma vez se chega ao mesmo ponto de partida: tudo começa por dentro, em conversa com o nosso coração e com a nossa alma. Toda a descoberta tem inicio no nosso próprio umbigo. Quem haveria de dizer....como é importante um tu cá tu lá connosco próprios.
Tenho medo que as tais pessoas que eu adoro e que correm, e que não vêem o tal muro que se aproxima, se estampem de frente. E tenho medo que a vida os pare porque não são capazes de parar sozinhos. E tenho medo que de tanto estarem ausentes do resto da vida e das pessoas que os amam, que um dia deixem de fazer falta. E que a correria dê em acidente e em solidão. Tenho medo que lhes aconteça estas coisas todas. E peço a Deus que os ilumine para que possam arrepiar caminho enquanto é tempo. E lembro-me sempre da lei divina do livre arbítrio: temos toda a liberdade de escolha sobre o que plantamos. Mas a tolerância é zero no que diz respeito à colheita que fazemos. Tarde ou cedo, vivenciamos as consequências das nossas escolhas. Impreterivelmente. Por isso é que tudo começa em nós. No principio e no fim.
Tenho medo que as tais pessoas que eu adoro e que correm, e que não vêem o tal muro que se aproxima, se estampem de frente. E tenho medo que a vida os pare porque não são capazes de parar sozinhos. E tenho medo que de tanto estarem ausentes do resto da vida e das pessoas que os amam, que um dia deixem de fazer falta. E que a correria dê em acidente e em solidão. Tenho medo que lhes aconteça estas coisas todas. E peço a Deus que os ilumine para que possam arrepiar caminho enquanto é tempo. E lembro-me sempre da lei divina do livre arbítrio: temos toda a liberdade de escolha sobre o que plantamos. Mas a tolerância é zero no que diz respeito à colheita que fazemos. Tarde ou cedo, vivenciamos as consequências das nossas escolhas. Impreterivelmente. Por isso é que tudo começa em nós. No principio e no fim.
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