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Diferenças, tolerâncias e arrumações

Hoje é dia de balanço, é sexta-feira. Há umas sextas-feiras que são mais propensas a estas coisas de refletir um bocadinho sobre tudo e sobre nada. Hoje apetece-me juntar por aqui alguns pensamentos que fui tendo durante a semana, a propósito de qualquer situação ou acontecimento. 

Esta semana estive muitas horas em ambiente de aprendizagem com um grupo de pessoas de outros países. Todos dentro da mesma área de especialização. Grupo homogéneo pela formação e heterogéneo pelas raízes e contexto cultural. Uma miscelânea interessantíssima de pessoas com histórias de vida completamente diferentes. Eu adoro ambientes misturados e cheios de diferenças culturais! 

A parte mais interessante desta mistura intencional tem a ver com o facto de todos terem que se entender, havendo objetivos individuais que concorrem para um objetivo em comum. De repente, damos por nós a trabalhar com pessoas que conhecemos naquele momento, sem quaisquer referências anteriores. E temos, obrigatoriamente, que o fazer em bem. Com boa atitude, com diplomacia, com imensa vontade de compreender, de aceitar, de ouvir, de encontrar uma plataforma comum de entendimento. Adoro estas experiências em termos de desenvolvimento pessoal. Começamos logo por utilizar uma língua comum que não é a língua mãe de ninguém. Tudo isto são fichinhas de tolerância. Todos temos que fazer um esforço para não desatar logo a utilizar os nossos poupadores de energia e começar a categorizar e a julgar os outros pela primeira impressão que obtemos. Somos todos tão diferentes que não há julgamento que aguente, graças a Deus! 

O mais bonito de tudo é que, de facto, se encontram plataformas comuns onde é possível comunicar, trabalhar e encontrar soluções. E ninguém quer saber quem é quem. Só se querem fazer entender para se chegar a um objetivo comum. Nestes momentos, cada um tem as suas próprias fragilidades que não lhe permitem colocar-se em biquinhos de pés e começar a puxar das certezas, importâncias e verdades universais. Não há galões nem medalhas de honra. Só pessoas a fazerem o melhor que são capazes, com alguns pormenores muito importantes: um sorriso no rosto e com um esforço enorme em se fazer entender e em, sinceramente, conseguir entender os outros. 

Este tipo de ambiente – que me delicia – deveria servir de exemplo para outros ambientes. Começo logo a pensar que se nós fizéssemos este tipo de esforços com as pessoas que nos rodeiam no dia-a-dia, a nossa vida seria tão mais bonita e gratificante. Se fossemos capaz de sistematicamente colocar em prática estas estratégias de entendimento com a nossa família e amigos mais íntimos seriamos muito amados e amaríamos muito melhor. Muito mais sorrisos, muito mais negociação, muito mais esforço em entender o outro ao invés de nos esforçarmos apenas para sermos entendidos e para impor as nossas vontades e ideias. Também em ambiente laboral, seria uma excelente forma de liderança e de inspiração para todos os elementos de uma equipa. Pensando um bocadinho mais macro, como seria se os decisores da vida de um país fizessem este tipo de esforços, em função de um objetivo comum, procurando realmente aceitar e tolerar as diferenças de pensamento?

Como seria se todas as organizações multinacionais, que decidem os destinos do mundo, da paz e da guerra, fossem capazes de respeitar estes princípios tão simples de relacionamento?

Tudo isto seria quase um paraíso, não é verdade? Começávamos em casa a traçar uma rota de felicidade e o mundo seria o limite…

Eu adoro as diferenças de contexto e as diferenças culturais! Aprende-se tanto! O que é elogioso para uns pode ser quase uma ofensa para outros…e isto ajuda-nos a colocar as nossas certezas e princípios no devido lugar. Ajuda-nos a repensar as nossas referências. E o melhor dos pensamentos, na minha opinião, será o que nos lembra que as nossas referências não são as melhores. São apenas as que conhecemos melhor. São as nossas, as que nos ajudam a caminhar pela vida. E existem tantas referências quantas as pessoas. Claro que umas mais parecidas com as nossas do que outras. Outras são diametralmente opostas. E então? A graça está nesta descoberta da diferença. No crescimento pessoal que este tipo de descobertas proporciona. De repente podemos pensar sobre nós ainda de outra perspetiva: se eu tivesse esta ou aquela história de vida, como seria eu? Como me moldaria às circunstâncias? Como seria viver num país assim ou assado? Como e como e como? Um montão de questões em que só podemos imaginar as respostas. Mas este exercício de imaginação e de relatividade é o combustível que mantém o motor da nossa tolerância a carburar. De repente parece-nos que não faz sentido julgar as pessoas por aquilo que elas não escolhem…

Este, como tantas vezes digo, é um dos meus princípios de vida. Nunca julgar ninguém por aquilo que a pessoa não escolhe. Se todos tivéssemos este princípio em mente, não haveria xenofobia, homofobia nem racismo. E tantas vidas teriam sido poupadas ao longo da história. E tantas vidas seriam muito mais felizes nos dias que correm. E é tão simples…verdadeiramente é simples. Basta olharmos para nós ao espelho. Não é preciso fazer-se numa análise meta qualquer coisa para se verificar que nunca opinamos sobre a cor da nossa pele nem dos nossos olhos, nem sobre de que barriga haveríamos de nascer. Nem em que quadradinho do mundo. Então isto não é simples?!

Mesmo quando julgamos por aquilo que a pessoa escolhe, por comportamentos, atitudes, caminhos e rotas, é necessário usar-se muita precaução. O juízo de valor é tão fácil como beber um copo de água. A água faz muito bem ao corpo. O juízo de valor pode fazer muito mal à nossa alma. E à dos outros. Cuidado a ajuizar. Nunca deve ser feito de ânimo leve. A nossa cabeça serve também para se pensar que “se eu tivesse naquelas circunstâncias talvez tivesse escolhido ainda pior”. E faz parte da natureza humana cometer erros. Cair e levantar. Deus, na sua infinita sabedoria, não nos criou perfeitos. E poderia tê-lo feito, não é? Será que ser imperfeito é assim tão mau? Será que errar não faz parte da nossa aprendizagem enquanto almas? Será que fazer e desmanchar não será tudo trabalhar? Se Deus não nos quis perfeitos, quem somos nós para exigirmos a perfeição de nós próprios? E dos outros? Não será que vale a pena pensar sobre isto?

E se o busílis da nossa existência estiver no que somos capazes de aprender enquanto almas e no que conseguimos amealhar no coração? Errar, mudar de ideias, mudar de rumo e de pensamentos não parece ser assim tão mau, pois não? Se calhar até são coisas muito boas, que nos trazem valor acrescentado…e se calhar, se formos capazes de fazer estas coisas todas, também seremos bem mais suaves a julgar os outros e a tirar conclusões precipitadas sobre as outras pessoas e as suas realidades.

Vale a pena adoçar os nossos sentidos críticos. É que são muitos e aguçados. Parece-me que devermos arredondar as pontinhas para que não espetem os outros corações. As pinças com que agarramos os outros também deverão ser mais rombas ou corremos o risco de arrancar penas às asas das outras almas. Vale a pena amaciar as ferramentas que temos ao dispor para colocar o mundo em caixas, gavetas e prateleiras. A ordem e a arrumação nem sempre são assim tão interessantes. Nascem ambas do caos e o caos permite todo o tipo de arranjos e de conjugações que tornam a vida simplesmente maravilhosa!

Cada dia de passa sou menos arrumadinha....tudo ao contrário do suposto!

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