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Amor é...

De tantas definições, reflexões e observações que há sobre o amor, há uma que me agrada particularmente: “amor é quando um pedaço de nós já não nos pertence”. E é mesmo verdade. É como se uma parte do nosso coração andasse fora do nosso peito. Andasse por aí sem nós sabermos onde nem como. Isto acontece no amor de todas as formas. No amor pelas nossas crias, pelos nossos amigos, mas, particularmente, por quem nos apaixonamos.

Há uma parte de nós que deixa de nos pertencer, que passa a pertencer ao outro que amamos. E sobre essa parte não temos qualquer influência ou controlo. Pois se não nos pertence…e isto não é fácil de gerir. Pois se algo que nos é tão querido anda por aí fora, tudo pode acontecer. Não sabemos se está bem ou mal, se está feliz, se está a ser bem tratado e cuidado, se é desprezado ou magoado. Enfim….Saber, saber, não sabemos nada. Apenas sentimos. E é este sentir que torna o amor tão especial e precioso. Este coração que passa a bater fora do nosso peito, lá vai mandando as suas mensagens, os seus recados. A intuição é o pombo-correio do coração. É verdade. Se algo acontece ao nosso amor, o coração manda sinal. É por isso que algumas pessoas conseguem pressentir estados de espírito, tristezas e alegrias, dores e maleitas das pessoas que amam. E com uma clareza e uma força que até assusta. Estas pessoas pressentem e intuem na proporção que amam. É o que dá ter o coração fora do peito! Ninguém manda!

Também é o facto de ninguém mandar no coração e no amor que os torna as melhores coisas do mundo! Como digo tantas vezes, no coração e no amor, só Deus manda. E isso é maravilhoso! Como contrariar o caminho que Deus nos aponta?! Impossível! Impossível! Se ele nos coloca o amor no colo, melhor, no coração, então é dar-lhe asas. Deixar voar, deixar fluir. Sem medo. Sem receios e interrogações. Assim como as águas do rio que não temem o que podem encontrar no seu leito nem nas suas margens. Por caminhos mais serenos ou mais ondulados e rochosos, o objetivo é sempre o mesmo: chegar ao mar. E chega-se ao mar quando se trocam corações dentro do peito de cada um. Quando cada um dá o que tem de melhor ao outro. Quando o amor é recíproco e flui como fluem as águas do rio. No objetivo de encontrar a foz. A foz é sempre onde as águas se encontram e se misturam serenamente e com paz, muita paz. E com muita imensidão de coisas boas. O amor é lindo, não é? Eu acho.

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