Os bichinhos carpinteiros
são uma maravilha da natureza. São assim como os gambuzinos, nunca ninguém os
viu mas toda a gente sabe que existem.
São aqueles bichinhos que
nos fazem andar de saltarico. Que nos dão energia e curiosidade. É verdade, sem
bichinhos carpinteiros a carpintar, seriamos uns papas-moles, uns bananóides
que se mexiam da cama para o sofá e do sofá para a cama. Sempre a morrer de
tédio e de cansaço.
Esta espécie de bichinho,
que pica por onde ciranda, é aquele que nos aguça a ponta dos dedos. Enfia-se em
bando no nosso cérebro e começa a picar, a picar, a picar até começarmos a
pensar. É por isso que, habitualmente, um gesto que ilustra o pensamento é o de
coçar o alto da cabeça. O cimo do cocuruto. Faz sentido, pois se os bichinhos
carpinteiros lá estão a carpintar, dão muitas picadelas e comichão.
Pensar é uma atividade
maravilhosa. Dá-nos mundos. E os bichinhos carpinteiros sabem disso. Também se
querem expandir para outras paragens e paisagens que só se conseguem criar
através do pensamento. E como são bichinhos inteligentes, também gostam de
saber tudo o que há para saber. E picam até conseguirem.
Existe um outro lugar onde
estes bichinhos gostam de estar a fazer das suas: no coração. Aqui costumam
viver mais bichinhas do que bichinhos. É que também nesta espécie, o género
feminino é mais atreito às coisas do coração. Os bichinhos rapaz gostam mais de
picar cérebros. Não sabem muito bem como se hão-de movimentar no coração.
Também os bichinhos carpinteiros rapaz não perguntam direções a ninguém, e têm
a mania que nunca se perdem. Para não darem as patitas a torcer, acham melhor
nem se aventurarem por caminhos que não conhecem muito bem…é verdade que o
coração pode ter assim uns caminhos tortuosos. Mas as bichinhas não se
importam. Também elas são mais resistentes à dor e às quebras. E desatam a
fazer o seu trabalho. A aguçar o coração, a picar, a moer. Obrigando o coração
a sentir, a sentir, a sentir, sem descanso. Sabiam que são estas bichinhas que
dão à bomba? É verdade! Aquelas taquicardias inesperadas são trabalhinho seu!
Está a pessoa descansada da vida e, de repente, desata o coração a bater
descontroladamente. Lá tem a pessoa que descobrir a causa de tanto alarido e
batidela. Já se sabe que são as bichinhas carpinteiras a darem sinal, a fazerem
uma festa, porque alguma coisa aconteceu no nosso coração. São umas safadas,
estas bichinhas! Para além de safadas, são gulosas. E gostam dos corações
cheios de coisas boas a transbordar. Se um dia, inadvertidamente, chocarem com
uma bichinha carpinteira gordita, já sabem que vive num bom coração.
Existem ainda outros
bichinhos que vão morar noutros locais do nosso corpo. Conforme lhes apetece. Às
vezes vão para a barriga. E nós pensamos, romanticamente, que são borboletas,
causadas pelas paixonites agudas. Mentira. São bichinhos carpinteiros a carpintar,
a insistir na paixão. Sabem ser obstinados e inconvenientes estes bicharocos! Adoram pregar partidas e colocar a malta em estado de sítio...
Nos pés também é certinho
que por lá se estabeleçam. É o que nos põe a mexer para a vida. Por vezes
pesam-nos mais. Outras vezes parece que temos asinhas! É que, tal como nós, os
bichinhos carpinteiros também são temperamentais e dados a mudanças bruscas de
humor. Mas são eles que nos temperam a vida. Que nos dão aquele nervoso miudinho que nos obriga a irmos em frente. Ou para qualquer lado. Simplificando: a ir. A mexer.
Os bichinhos carpinteiros são energia pura a rabiar. E a pessoa que se amole!!!
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