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Sorrisos

Quando uma palavra faz toda a diferença. Hoje estive a falar para um grupo de pessoas. Foi só um bocadinho embora suficiente para o objetivo em causa. Eu adoro falar para as pessoas. Esta coisa das palavras não é só escrita, é falada também. Pelo-me por ter um grupo à frente e abrir conversa. Baixa-me uma coisa e aqui vai disto. Parece que fico com os pezinhos no ar! É muito interessante perceber o que acontece no ambiente, principalmente o não verbal dos outros e o meu próprio não verbal. Mais do que a conversa propriamente dita, desta vez procurei estar atenta também a mim própria e à alegria que sinto quando estou a conversar com um grupo de pessoas. Claro que assunto é bom senão a alegria não seria assim tanta.

Consegui perceber, em mim própria, o sorriso rasgado, o cantar da voz e o endireitar de toda a postura. Uma postura corporal consistente com o bem estar sentido. E automaticamente, parece que isto é contagioso! É verdade, ao contrário do que se possa pensar, os sorrisos e a alegria são pior do que a gripe ou a varicela! Ainda bem não chegaram já se estão a pegar aos outros! E isto é uma maravilha! Poucas coisas me dão mais satisfação na vida do que colocar um grupo inteiro de pessoas um bocadinho mais felizes. Mesmo sendo por um momento, por um bocadinho. Vale muito a pena. Se todos os dias tivermos pelo menos um momento de alegria, os nossos dias serão melhores. É melhor um bocadinho pequenino do que nenhum. E as coisas boas permanecem no nosso coração. Deixam rasto. Hoje fui capaz de pensar nos muitos anos que estive a trabalhar com grupos de pessoas em sala e em comentários que alguns observadores faziam em função de uma ou outra situação. Coisas que eu nem entendia na época. Hoje consigo entender. E adoro quando me caem uma fichinhas de entendimento! Mesmo que sejam muito simples, é uma fichinha que encaixa no lugar certo. E assim vou construindo o meu puzzle. O puzzle que me define. O meu mapa de autoconhecimento.

Há muitos anos atrás, ainda eu era muito verdinha nesta coisa de falar para as pessoas, com grupos difíceis e temas difíceis, uma colega disse-me que nunca corria mal porque eu tinha característica imbatível – usava o meu sorriso como se fosse uma arma branca. Que desmanchava qualquer agressividade respondendo com um sorriso. Na altura não percebi nada o que a pessoa estava a dizer. Fiquei admiradíssima com o comentário. Sorrir sempre foi muito fácil. Mas também tinha mau feitio, era respondona, nariz empinado e às vezes até insolente. E não tinha a sabedoria para saber um sorriso pode valer um mundo inteiro. Que pode desmanchar um batalhão ou salvar uma vida. Hoje já tenho esta consciência e lembrei-me deste episódio. Na verdade, continuo a sorrir à mesma. A diferença é que tenho uma melhor noção do impacto que pode ter nos outros. E tudo o que faz bem aos outros deve ser um recurso a ser utilizado. Claro que só funciona se for com naturalidade. Se não for um sorriso amarelo. Para mim isso não é um problema. Sorrir é-me tão natural como respirar. Exceto quando acordo…quando acordo apetece-me resmungar e dizer mal da vida. Os sorrisos só aparecem depois de muitos beijinhos das crias ou então depois do primeiro café…e, mesmo assim, não é certo. Preciso que o sol me brilhe em cima para me inundar de alegria. Depois é o que se quiser, desde que a alegria permaneça no coração. 

Voltando ao sorriso. Quantas vezes se desmancham as pessoas que vêm carregadas de maus fígados e de agressividade com um sorriso rasgado. É desconcertante. E ao ser desconcertante, baixa a pressão e a agressividade tende a esmorecer. É verdade. São regras de comportamento puro e duro. Mas para ter efeito, tem que ser natural, tem que fazer parte da pessoa. Tem que ser um recurso natural, não resulta se for industrial ou transgénico. Não tem o mesmo impacto e pode ainda ter efeitos colaterais muito adversos. Alguém que só sorri com os lábios e mantém uns olhos frios como gelo, ainda atiça mais a bílis dos outros. A minha, pelo menos, fica ao rubro. Nada me aborrece mais do que a frieza nas expressões, o fingimento e a imposturice. Sou muito, muito atenta ao não verbal. São outro tipo de palavras. São palavras muito mais verdadeiras do que aquelas que saem pela boca. O nosso corpo diz normalmente a verdade. E eu gosto da verdade acima de tudo.

Quantas vezes um sorriso é um cobertor quentinho que se coloca nos ombros de quem está frio e desconsolado. Não mata o frio nem a tristeza mas ajuda. Aconchega. Um sorriso é sempre uma partilha de qualquer coisa boa. Sempre, universalmente. 

Penso que os sorrisos, os risos e as gargalhadas dizem muito sobre as pessoas. As mãos, os sorrisos e os olhos são o triangular necessário para se poder ajuizar o tipo de pessoa que temos à frente. Isto porque as mãos, os sorrisos e os olhos nunca mentem. Nem sempre sei ler o que dizem. Mas lá mentir não mentem. Nem que a pessoa se esforce muito. Nós é que podemos reconhecer ou não o código que utilizam. Este código não verbal, para mim, são palavras preciosas. São tesourinhos incorruptíveis. Por isso eu gosto tanto de conversar presencialmente. Olhos nos olhos. Posso ver com olhos de ver o que é dito (entra-me pelos olhos para além de entrar pelos ouvidos). E podem ver-me também, verdadeiramente, tal como sou. Só vantagens. De vez em quando, as surpresas podem acontecer. E podem nem ser assim tão boas. Mas para quem gosta da verdade acima de tudo, de vez em quando, lá se leva um murro no estômago. Mas mais vale a dor deste murro pontual do que ir sangrando tempos a fio. Eu não gosto de verdades a prestações. Não gosto de dissimulações, de meias palavras e outras meias coisas. Não tenho jeito nenhum para elas. Fazem-me desperdiçar energia a adivinhar a outra metade da coisa. A intenção escondida. O que está para além de. Enerva-me. E eu não sou nada dada a nervos. Sou dada a alegria, a tristeza, às vezes a um bocadinho de angústia, a sorrisos e a lágrimas mas não a nervos. Os nervos enervam-me, como será de calcular. Portanto, não gosto de meias coisas nem de nervos. Por isso também gosto tanto de sorrisos – não há meios sorrisos! E são o melhor remédio contra os nervos! E isto acompanhado de um quadradinho de bom chocolate, alegria ao rubro!!!

Voltando ao meu quadradinho de chocolate de hoje, a tal conversa com o tal grupo de pessoas. Para além da minha alegria e dos meus sorrisos, foi possível encher uma sala inteira de sorrisos, de endireitar de costas. De espetar uma setinha, fundamental, no coração das pessoas - a esperança! A esperança é tão importante para que a vida seja mais cor-de-rosa. Porque as amarguras, as cabeças baixas e as tristezas combatem-se, numa primeira instância, com esperança. A esperança é mãe da fé e do amor. Tenho a certeza. 

Sempre que tenho oportunidade, gosto de oferecer palavras de esperança. Chamo-lhes, cá no meu íntimo, palavras de sol. Daquelas que aquecem os corações. Daquelas que iluminam o olhar e as almas. Daquelas que fazem com que as pessoas, nem que seja só por um segundo, gostem da vida e de si próprias. Agradeço sempre a Deus estes momentos. Porque, verdadeiramente, eu sou tão feliz quando consigo ajudar a rasgar sorrisos. Fico com o coração cheio, a transbordar. Carrego as baterias e até a vida, que às vezes é uma marota mal comportada, desata a sorrir para mim! Hoje tive um bocadinho de vida tão bom!

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