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Uma breve sobre Lavoisier

Existe uma pessoa que eu admiro muito, particularmente pelo seu carácter. Um carácter fortíssimo para o lado bom, mas de uma brandura impressionante. Por vezes dá ideia que as pessoas brandas, serenas e doces não terão um caráter fortíssimo. É mesmo apenas uma ideia. Esta pessoa que eu conheço, que me faz lembrar um maravilhoso pinheiro manso, tem a meu ver, um carácter irrepreensível. Em bom. Tenho a mania de comparar as pessoas à fauna ou à flora da Criação. Faz-me sentido. Se fossemos mais observadores da natureza e da Criação, seriamos melhores pessoas. Aceitaríamos as diferenças, aprendíamos a ter paciência e a respeitar o ritmo da vida. Na Criação, há variedades para todos os gostos e tempos para tudo. Em tudo o que é visível e no que é invisível ao olho humano. E, na verdade, a contemplação é uma das melhores formas de aprendizagem. 
Hoje em dia, quando faço um bocadinho de meditação, vejo-me sempre como uma árvore. É o que melhor me descreve enquanto Ser humano e espiritual, integrando tudo aquilo em que acredito. Raízes bem fortes, aceitando a materialidade, agradecendo por esta experiência de vida, com os pés bem firmes na terra. Tronco grosso, forte e o suporte de toda a atividade mental e espiritual, que é como quem diz, o que permite os ramos, as folhas, as flores e as sementes, crescerem em diâmetro e em direção ao alto. Esta é a imagem perfeita do que sou, nesta altura da minha vida. Enraizar bem e direcionar-me, cada vez mais, em direção ao alto. A dualidade da experiência terrena também se manifesta por este equilíbrio entre a vida material e a espiritual sem que uma seja mais importante do que a outra. O segredo está no profundo equilíbrio e na serena harmonia que estas duas vertentes devem que estar presentes na nossa vida. É uma aprendizagem diária. É um processo. Toda a nossa existência é um processo. Isto para quem gosta de resolver assuntos e fechar processos, como é o meu caso, tem sido uma grande aprendizagem! Eu gosto é de comer, não é de cozinhar. Gosto de ver a coisa pronta, a meta, o fim, etc. Tudo o que seja concluir, é a minha praia. Ora a vida é exatamente ao contrário. Há poucos princípios e  poucos fins. Há processos e transições com muita farturinha. Há mudanças de estado e, como dizia o outro senhor, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Por vezes tenho cá um pó ao Lavoisier...que só Deus sabe!

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