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O Acaso é de propósito

Hoje apetece-me escrever sobre o propósito. Principalmente sobre o propósito do encontro entre as pessoas. Desde há muito tempo que tenho a plena consciência de que nada acontece por acaso. Como alguém disse, e parafraseando,  “o acaso acontece quando Deus quer utilizar um pseudónimo para escrever o destino”. Isto é, o acaso não existe e as coincidências também não. Acontecem “Deuscidências”.

Tudo nos é colocado na vida com um propósito. O propósito pode ser maior ou menor, mais simples ou mais complexo, mais ou menos duradouro, mas é sempre um propósito (ou mais). Quando duas pessoas se encontram, tendencialmente, esse encontro têm um propósito para ambas as pessoas. À medida do que elas necessitam para aprender e evoluir. Os encontros também se podem dar porque são almas companheiras e combinaram, antes de vir a este mundo, que se encontrariam para se ajudarem mutuamente no caminho da vida, amparando-se nos processos que cada uma tem de fazer. Mesmo assim, existem sempre aprendizagens, oportunidades de evolução e de reparação. O acaso nunca é para aqui chamado. Os encontros dão-se no momento e na altura certa. Sempre. Não é quando queremos, é quando Deus quer. E Ele é que sabe o que é o melhor para nós. Sempre, sem exceção. Mesmo quando não percebemos nada do assunto nem encontramos resposta para as questões que o nosso cérebro coloca. Podemos não saber as respostas, mas devemos confiar que o Pai sabe exatamente o que nós precisamos. Como o plano Divino é sempre um plano maior do que nós próprios ou do que a nossa vida terrena, raramente temos a capacidade de o alcançar e de o entender. A melhor forma de lidar com o assunto é aceitar e confiar. De coração aberto e com toda a disponibilidade de alma. Mesmo quando não estamos a ver um palmo à frente do nariz. Mesmo quando dá medo. Vai-se às escuras, com medo e tudo. Vai-se com a fé de que o nosso Pai amoroso tudo fará para nos colocar no caminho exatamente o que precisamos para evoluir. Para aprender. Para mudar a nossa perspetiva sobre o sentido da vida ou sobre outra qualquer coisa que precisemos de aprender. O evoluir é o evoluir de alma. O evoluir de âmago, de essência. É dentro de nós próprios. Temos tudo cá dentro. Só precisamos de uma ajudinha para a sua revelação. 

A fé é um dom que tenho desde que lembro de mim própria. Apesar de todas as tempestades e intempéries, tem aumentado com o passar dos anos. E é um dom maravilhoso e reconfortante. Costumo definir a fé como o que nos faz saltar de um precipício tendo a certeza absoluta que as asas se vão abrir. Não é pedir asas primeiro e saltar depois. Isso é um negócio. É uma condicional. Se me deres asas, então, eu salto. Fé é exatamente o contrário. Salto primeiro, na certeza absoluta que as asas de abrem e voam. Eu compreendo que não é fácil de digerir, esta comparação. Mas viver não é fácil. Evoluir é ainda menos fácil. A questão é que, a alternativa, é muito pior. Espiritualmente, se eu não conseguir aprender uma lição à primeira, as situações vão-se repetir e repetir até que eu a consiga aprender. De cada vez que aparecem, são um bocadinho mais carregadas a ver se chego lá. Isto é, se não se evolui a bem, evolui-se a mal. Se não se evolui nesta vida, volta-se a tentar na próxima. Uma certeza, porém, havemos de bater tanto com a cabeça, que havemos de lá chegar. Por isso, parece-me que é mais fácil procurar-se ter a disponibilidade de coração e de alma para aprender e evoluir à primeira. Com a fé de que tudo é pelo melhor, mesmo que doa. Normalmente, a dor impele a um movimento de ação qualquer. No mínimo, impele à reflexão. E da reflexão pode nascer a luz. Dou muito valor à reflexão. Exercito-a sistematicamente. Deus não toca no nosso livre-arbítrio. Na nossa capacidade de escolha. Normalmente, mostra-nos as alternativas todas e deixa-nos escolher à vontade. A nossa capacidade de decisão é completamente sagrada. Podemos escolher o que quisermos. Podemos semear o que entendermos. A chatice é que apenas podemos colher o que semeamos. Não podemos plantar batatas e colher feijões. Isto não dá, nas leis do universo. Mais cedo ou mais tarde, colhemos batatas. É a vidinha. É a lei da causa e da consequência, conjugada com a lei do retorno. O que damos ao mundo e aos outros, é o que, também mais cedo ou mais tarde, retorna para nós. Costumamos provar do nosso próprio veneno. Ou do nosso próprio mel se formos perseverantes na mansidão e na doçura. Não podemos esperar que nos retornem com amor se espalharmos a ira. E assim por diante. Mais do que tudo, se continuamos a cair nos mesmos buracos e a atrair situações similares, devemos parar para refletir sobre o assunto. Colocar as questões certas, centradas em nós próprios e não nos outros, e procurar as respostas. Este é um processo difícil, que implica alguma maturidade pessoal e espiritual. É um processo que, na esmagadora maioria das vezes, tem de ser feito com a ajuda de alguém. Autoconhecimento, autoconhecimento e autoconhecimento até ao mais íntimo dos âmagos. E muita reflexão. Muito amor próprio e muita capacidade auto perdão. Ir ao âmago, não é para todos. É preciso ter a barba rija. Quando nos confrontamos com as nossas sombras e com o nosso próprio lado lunar, a coisa aperta. O confronto, em nós, com aquilo que não conseguimos suportar nos outros, é quase devastador. É verdade, tantas vezes temos em nós, bem cá escondido, o que não somos capazes de aceitar nos outros. Fazer estas descobertas e trabalhá-las, com amor próprio e auto perdão, é um desafio de grande monta.

Resumindo, nestes processos de descoberta e libertação interior, o amor é fator essencial. Sem amor, nada se faz de bem feito. Este amor tem de ser atividade dentro de nós. E não pode ser direcionado só para fora, para os outros. Tem de ser bem espalhado também por dentro. Como posso dar ao outro aquilo que não tenho? Como posso ser tolerante com o outro se não me dou ao luxo de ser tolerante comigo próprio? Estas são as bases da evolução enquanto pessoas e almas. Amor próprio, auto perdão e reflexão. Quando se está disposto a isto, as oportunidades evolutivas e as ajudas aparecem. As situações que nos propiciam a aprendizagem, acontecem. E os propósitos revelam-se. Só falta juntar à equação, a decisão livre, de querer ou não, aprender e evoluir. Evoluir enquanto alma, é o verdadeiro propósito da vida. Não há outro maior. É este mesmo. Daí que, a nossa primeira grande responsabilidade, é a de cuidarmos da nossa própria alma. É descobrirmos e curarmos as nossas feridas. É tirarmos lições de tudo o que de bom e de mau nos acontece. É caminharmos na direção da luz. É expormos as nossas próprias sombras para que estas sejam iluminadas. Este é o processo principal da nossa vida. Quando compreendemos isto, a própria vida fica mais leve. Compreendemos as dores. Desinfetamos e curamos as feridas. Cada cicatriz que fica, tendencialmente, passa a ser uma memória de gratidão pela aprendizagem feita.

Tudo isto é mais fácil de escrever do que de fazer. Mas é muito possível e muito desejável. Sermos capazes de nos confrontarmos com os nossos medos mais profundos, com as nossas inibições, malformações, vergonhas e defeitos, é um mergulho sob muita pressão. O oceano dentro do nosso universo interior é tão grande e vasto como o nosso Atlântico. E é um mergulho sem garrafa de oxigénio. Tem de ser um mergulho tocado a fé. A fé de que seremos capazes de respirar por debaixo das nossas próprias águas e de voltar à superfície, mais leves. Com a vontade férrea de mergulhar tantas as vezes quantas as necessárias. Com a resiliência necessária para não se desistir do processo, a meio, só porque dói. A vida também nos dói e nem por isso, por dá cá aquela palha, desistimos dela.

Não é fácil o confronto com os nossos próprios medos. Principalmente quando descobrimos que as principais decisões que tomamos na vida, foram impulsionadas pelo medo. O medo de sermos rejeitados, o medo da solidão, o medo de sofrer, o medo da escassez, o medo de não sermos suficientes, o medo de sermos ridículos, o medo de falhar, etc., etc. Quantas vezes, em vez de escolhermos um caminho por amor, pelo melhor para nós, escolhemos o caminho que evita o sofrimento ou a dor. E fazemos asneira. Na maior parte, das vezes, sem sabermos o que estamos a fazer. Fazemos as escolhas que somos capazes de fazer, com as condições e as capacidades que temos na altura. O problema é que o tempo, grande revelador, vem mostrar que o caminho não foi o certo. E das duas, uma. Ou continuamos a oferecer resistência e a marrar para o mesmo lado ou resolvemos alterar o rumo. Quando resistimos, continuamos a atrair a dor. Asneira ainda maior. Quando queremos mudar de rumo, há festa no Céu, e o nosso Pai coloca-nos no caminho o que precisamos para que a mudança se dê. A verdadeira e primeira mudança, é sempre interior. Mudança de pensamento, de perspetiva, de visão, de vontade, de prioridade e por aí fora. Depois deste trabalhinho estar feito, a mudança no ambiente exterior também acontece. Como é fácil de perceber, se pretendemos mudar, a vida proporciona-nos essa possibilidade. O Céu proporciona-nos as ajudas necessárias para o efeito. Não as que queremos ou pensamos que devem ser. Aparecem as que verdadeiramente nos fazem falta, naquele momento específico. Se aceitarmos isto, saberemos aproveitar o momento. Assim, volta-se ao princípio e verifica-se que não existem acasos nem situações ou encontros desprovidos de propósito. O encontro de duas pessoas, o cruzamento de duas vidas, tem sempre um ou mais propósitos. Sempre. Não há escapatória. E isso não é maravilhoso? Se não oferecermos resistência nem fizermos pressão, se deixarmos fluir, os milagres acontecem. Os propósitos são revelados. A evolução, dá-se. Se quisermos, claro está.

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