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Uma rima forçada

No dia da pandemia - uma rima um bocadinho forçada.

No dia da pandemia, eu tive que repensar os meus valores. Tive que pensar no que é essencial e no que é acessório ou  fútil.

No dia da pandemia, tive que me centrar na minha força e não no meu medo. Tive que redirecionar o foco, redirecionar a força e o rumo.

No dia da pandemia, descobri que a saída é para dentro. Fui ao encontro de mim própria, dos meus mundos e do meu universo interior. Da luz e da sombra.

No dia da pandemia, escolhi estar do lado da esperança, do copo meio cheio e da oração.

No dia da pandemia, escolhi estar do lado da aprendizagem e da evolução.

No dia da pandemia, escolhi descobrir e desenvolver a força e o poder do EU SOU. Da centelha divina, da essência amorosa e iluminada.

No dia da pandemia,  escolhi estar do lado da harmonia. A harmonia que poderá ligar cada ser humano entre si e com os outros elementos da criação. A harmonia com as plantas, com os animais, com a águas e os ares.

No dia da pandemia, escolhi acreditar que viver vale muito a pena! Que a vida é um bem tão precioso! Eu escolhi viver cada vez mais o momento, o aqui e agora, apesar das minhas imperfeições e limitações.

No dia da pandemia, escolhi aprofundar a minha gratidão à vida. Já tinha iniciado esse processo mas a coisa agudizou-se. Agradeço a cada alegria, a cada gargalhada, a cada flor pequenina, a cada paisagem bonita, a cada sensação boa que passe pelos meus sentidos.

No dia da pandemia, escolhi ser grata ao meu corpo. Apreciá-lo em vez de lhe colocar defeitos. Resolvi amá-lo em vez de o deitar abaixo. Decidi centrar-me nas coisas boas em vez de me centrar nas dores e nas maleitas. Se tenho dores é porque tenho onde doer. Escolhi agradecer aos meus olhos que me deixam ver a beleza da vida e da natureza. Escolhi agradecer aos meus ouvidos que me permitem ouvir coisas bonitas, pessoas bonitas e a música que me corre nas veias. Escolhi agradecer às minhas mãos que me permitem ganhar a vida e escrever as palavras de que tanto gosto. Escolhi agradecer aos meus pés que me levam para todo o lado. Um agradecimento a cada célula do meu corpo e o problema fica resolvido.

No dia da pandemia, resolvi ser grata a esta encarnação. Se estou por aqui nesta altura do campeonato é porque assim foi decidido. E a minha alma assim o pediu ou concordou com o assunto, embora eu não me lembre.

No dia da pandemia, eu escolhi ficar tranquila e aprimorar a serenidade do coração. A isso chama-se fé. Decidi aprofundar a minha fé. Se o abismo está à porta, a fé diz-me que me vão crescer a asas do tamanho necessário para poder voar através dele e chegar ao outro lado sem espinhas.

No dia da pandemia, escolhi olhar e respeitar a minha vida e a dos outros como se fossemos eternos. E, em simultâneo, preparar-me para conseguir partir amanhã, se tal assim tiver escrito. Não deixar máculas no coração. Não acumular rancores ou mágoas e não deixar de dizer coisas bonitas a quem as quero dizer.

No dia da pandemia, resolvi que quero a paz de espírito acima de tudo. Quero ser feliz, quero amar e ser amada mas, essencialmente, quero muita paz de espírito. Este sim é o maior tesouro que se pode ter. Com paz de espírito, tudo o resto se encaixa e complementa. Paz de espírito é completamente diferente do alheamento ou do "não quero saber" - diferença que não vou explicar agora.

No dia da pandemia, descobri que este tempo é um tempo de "vai ou racha". Ou estamos de um lado ou estamos do outro. Ou do lado do medo ou do lado do amor. Do lado da luz ou do lado da sombra. Ou respondemos ao apelo de reflexão interna ou ficamos destruídos por não aguentarmos a pressão. Não há meios termos nem troca tintas. 

No dia da pandemia, resolvi mergulhar nas minhas profundezas e descobrir o meu propósito. Aquele que vem com a alma. Aquele que nos faz saltar da cama, com uma alegria imensa. Ele já cá andava à muito tempo mas eu não sabia que nome lhe chamar. E agora descobri. 

No dia da pandemia, aprendi a importância da delicadeza e da doçura. Foram sempre muito bonitas, no meu conceito, mas nunca me caiu a ficha no entendimento profundo da sua beleza e importância. Neste momento, compreendo como são sublimes para mitigar a dor, o desespero, a solidão, a incerteza, a impermanência e o pânico. São os melhores antídotos para os nervos à flor da pele, às camadas ou às pilhas. 

No dia da pandemia, aprendi que há tempo para tudo. E quando não queremos parar, vem a vida, e pára-nos. Quando não queremos ver, vem a vida, e estatela-nos de cara no assunto. E que afinal, andar sempre a correr, não serve para nada.

No dia da pandemia, aprendi que as pequenas coisas que antes me irritavam ou me faziam perder a paciência, podem ser, afinal, coisas muito engraçadas. Aprendemos a ter saudades daquilo que nos incomodava. Ou que nos dava comichão nas solas dos pés. Se calhar eram cócegas e não uma irritação cutânea. A perspetiva muda. 

No dia da pandemia, aprendi que o problema começa e acaba em mim. Na perspetiva que tenho. Na forma como olho e avalio a realidade e o meio envolvente. Descobri que a aceitação de mim própria e a do outro, é remédio santo para quase tudo. E agora tenho tempo para trabalhar este conceito de aceitação.

No dia da pandemia, a essência de cada um veio ao de cima. A verdade revelou-se, em muitos casos. Uma ameaça invisível veio revelar em cada pessoa, também o que lá estava guardado, a parte invisível do ser e do carácter. E veio fazer isto de forma muito democrática e transversal a todos os seres humanos. Para o melhor e para o pior. 

No dia da pandemia, parece-me que a dualidade da nossa experiência de vida, começa a ir dar umas voltas. O "a preto e branco" começa a esbater-se. O apelo é para, definitivamente, escolhermos qual é o lado onde queremos estar. Na luz ou na sombra? Chega de saltitar entre estas duas realidades. Chega de se estar com um pé num lado e o outro pé no outro. Podemos escolher o que quisermos, em pleno exercício do livre arbítrio. Mas temos que escolher. Acabou-se a indecisão, a hesitação e o passar entre as gotas de chuva. Acabou a cena de se querer "agradar a Deus e ao diabo". Ou sim ou sopas. 

No dia da pandemia, aprendi que não deveria ter sido necessária uma pandemia para eu compreender tantas coisas. Para ficar melhor pessoa. Para ficar melhor alma. Para ficar mais perto da natureza, mais perto de Deus e mais perto de mim própria, da minha essência e do meu propósito. 

No dia da pandemia, afinal, nasce um novo dia. A rima é forçada e barata, sem qualquer valor poético. Mas tenho esperança que seja muito, mas mesmo muito verdadeira.

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