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Asas

Finalmente abri as asas.
Abre as asas quem ensaia o voo. Parece que têm estado colocadas nas minhas costas, desde sempre. Coladas e escondidas, embora eu soubesse que elas lá estavam. O engraçado da questão é que não era eu que estava à espera que elas abrissem. Elas é que têm estado à minha espera. Têm aguardado, serenamente, que eu perceba a importância que o voo tem na vida de uma pessoa. As asas aparecem quando se está pronto para voar. Como o tudo o que faz sentido na vida. É o comprovar-se do tal maravilhoso dizer da sabedoria oriental: "Quando o aluno está pronto, o mestre aparece". 

Quando se adquire o conhecimento de que se pode voar, quando se perde o medo de o fazer e quando efetivamente se quer experimentar o voo, as asas aparecem, abrem e desatam a bater! E é só deixarmo-nos ir. As nossas asas é que sabem qual o caminho. Já vêm equipadas com GPS. Voam no sentido da fluidez da nossa missão, da nossa essência e do nosso percurso original.

Este é um dos grandes enigmas da vida! Tudo acontece de dentro para fora. E até um par de asas pregadas nas nossas costas têm que vir de dentro. Extraordinário! Todos os mundos interiores bem alinhados, bem conhecidos e bem refletidos, fazem crescer pares de asas. Quem diria...

Sinto-me a esticá-las, a espreguiçá-las, a estendê-las, a dar-lhes espaço. A compensar o tão encolhidas que andaram e durante tanto tempo. Neste momento também me sinto em fase de contemplação. As minhas próprias asas ainda me deixam admirada. Ainda me cai o queixo para aí umas 3 vezes por dia, só de olhar para elas. Como é que eu, um bichinho tão careto, consegui ter umas asas tão imensas?! E com tantas cores?! Devo dizer que apesar do espanto e de não saber para onde me levam, vou deixar fluir. As asas são sempre divinas. E tudo o que é divino só nos faz bem. Está certo. 

Uma das coisas mais magnânimas da nossa existência é o facto de num dia ainda só sermos capazes de andar a 4 apoios e, noutro, descobrimos que temos asas. Que somos leves e que podemos voar. E quanto mais gratos formos pelas asas que temos, mais elas crescem e florescem. Mais uma vez, de dentro para fora. Sempre do nosso interior para a vida cá fora. A compreensão desta premissa é talvez uma das maiores descobertas que o Homem pode fazer. A chatice é que parece ser mais difícil do que pôr os pés na Lua ou brincar com a nanotecnologia. Somos capazes de enfrentar exércitos, pestes, tempestades e até o monstro das bolachas, mas temos tantas dificuldades em enfrentar as nossas próprias sombras. Impressionante! Somos capazes de descobrir o caminho para Marte mas não descobrirmos o nosso âmago. Descobrimos curas para a Humanidade e não somos capazes de descobrir as nossas próprias maleitas interiores. Estou convencida de que, a seguir à descoberta da roda, descobrir os mundos interiores, com a luz e com a sombra, é a maior descoberta que cada ser humano pode fazer. A viagem ao mais intimo de si mesmo é muito mais difícil que a viagem ao centro da Terra. Ou ao fim do mundo. Ir ao fim do mundo é uma brincadeira de crianças em comparação com ir ao princípio de si próprio. Mas temos pena...é a vidinha. Sem mergulho em si próprio não se cresce, não se evolui. E nada se transforma. Fica-se empedernido e passa-se pela vida. E passar pela vida não é viver. Não tem graça nenhuma. 

Se os bebés não quisessem viver, no verdadeiro sentido da palavra, nunca sairiam do colo das suas mães. Haverá alguma coisa melhor e mais confortável do que o colo da nossa mãe? Assim de repente não me lembro de nenhuma...mas voltando aos bebés, eles estão desejando de saltar do colo para o chão, para explorarem o mundo, ávidos de saber e de vida. O papel dos bebés é explorar o meio ambiente que os rodeia. E é isso que os vai fazer andar, apesar de já terem pernas desde que nasceram. O papel da gente crescida é explorar o mundo interior que é rodeado pelo seu próprio corpo. E explorar o próprio mundo interior faz voar. Apesar de sempre se ter tido asas.


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