Conheço uma estrelinha que anda há procura de si própria. Que ainda não se conseguiu encontrar. E eu não consigo ajudar esta estrelinha. Talvez porque estes processos sejam muito íntimos e solitários. São processos que rasgam para dentro, que perfuram até ao núcleo da essência estrelar. O que quer dizer que a estrela tem que se encontrar dentro de si própria. Tem que encontrar as suas respostas no âmago da sua essência e não ao seu redor.
Quando se passa muito tempo a tentar encontrar fora aquilo que deveria estar dentro, um dia acorda-se e sente-se o vazio. A solidão. A imensidão da tristeza que está dentro do peito. E é como se se tivesse perdido meia vida. Nada preenche, nada anima. Porque se procurou construir tudo fora e não se construiu nada por dentro. Seguiu-se o correto, a segurança, o aprovável, em vez de se seguir a felicidade e a vontade própria. Tomaram-se decisões para evitar o sofrimento em vez de se tomarem decisões para arriscar no amor, na vida, na alegria. E quando a vida nos acha bons demais para não vivermos de acordo com a nossa essência, com aquilo que somos de verdade, manda-nos ao chão. Quando a vida acha que não estamos a fazer o nosso caminho, que andamos a fazer de conta que caminhamos ou andamos a fazer o caminho dos outros, passa-nos uma rasteira e caímos de cara na lama. É sempre assim. A vida gosta mais de nós do aquilo que nós gostamos dela. E tal como o nosso Pai do Céu, escreve direito por linhas tão tortas! Sempre que lhe perdemos o sentido ela dá-nos um abanão que é para não nos esquecermos de como ela é tão preciosa! Tão maravilhosa! Quando a nossa vida está muito torta é porque nos está a dar a oportunidade de a endireitarmos. Tenho a certeza absolutinha disto!
A vida sempre nos confronta connosco próprios. E essa é a dor maior. O pensar nas nossas escolhas, o colher os frutos das sementes que deitamos à terra, o amargo na boca e, mais uma vez, a solidão do sentir as consequências. A solidão do que integramos. O cair em si próprio, por vezes, é cair estatelado no chão. Sem apoio, sem rede. Sem terra macia. A dureza da queda pode quebrar até a alma. Cair em si próprio pode ser a maior das quedas. A mais dura das quedas. Mas pode ser a queda que quebra todas as estruturas que não interessam para nada, que só eram de faz de conta e que deixa a descoberto a essência. Aquela que andava escondida por baixo da casca dura. Cair em si próprio pode trazer a vantagem de desfazer o casulo e de trazer à luz do dia a maravilhosa borboleta que tinha medo do sol. Para se sair do casulo é necessário muita coragem. E quando não se tem coragem, a vida trata de providenciar. Também na queda, existe uma escolha. Podemos escolher a atitude com que a encaramos. E a atitude é meio caminho andado para nos levantarmos, sacudirmos o pó e começarmos a andar outra vez. Mesmo que ainda não se saiba o caminho e mesmo que se sinta perdida, como a tal estrelinha. Eu respeito muito as quedas. Sei que são a resposta para o que se necessita. Mesmo quando não temos essa consciência. E, na verdade, a queda só vem quando não conseguimos aprender nada com os tropeções que tivemos ao longo do caminho. Quando teimamos em seguir aquilo que já sabíamos que era asneira. A queda é o remédio para a nossa alma. É um implorar do Céu para que se siga por onde se deveria ter ido desde o início, pelo caminho do amor e da felicidade. É o Céu a rogar por nós, para que sigamos a nossa essência. Aquela que veio connosco quando nascemos, aquela que nos foi oferecida pelo nosso Pai. A nossa essência é o nosso GPS. Se não lhe ligamos nenhuma, sabe-se lá onde vamos parar e que caminhos tortuosos é que trilhamos.
E volto à minha estrelinha perdida. A sensação de se estar perdido dá muito medo. E quando o medo é grande de mais não deixa ver mais nada. Parece que se corre à procura do caminho, mas, na verdade, está-se a correr à frente do medo. Para ver se se foge dele. Na verdade, a primeira coisa a fazer-se é parar e olhar o medo nos olhos, de frente. De peito aberto. Dói mas cura. Arde mas desinfeta. Se não se enfrentar o próprio medo não se consegue evoluir para a fase seguinte. Para a fase de reconciliação consigo próprio, chutando a culpa porta fora. E quando a culpa já foi de abalada, o medo torna-se mais pequeno e é dominado por nós em vez de nos dominar. Co-habita mas não é o dono da nossa casa. É apenas um hóspede que mais cedo ou mais tarde vai ter que dar lugar a outro.
A boa notícia vem a seguir: quando se sabe que se está perdido, como é o caso da minha estrelinha, é porque metade do caminho já está encontrado. É porque já existem muitas respostas. Já existem muitas reflexões e isso é muito bom. Só se consegue encontrar quem sabe que se perdeu. Não há volta a dar. E esta é uma boa noticia. Conhecendo a minha estrela como conheço, arriscaria dizer que a esmagadora maioria das respostas estão encontradas. A minha estrela não sabe é o que há-de fazer com elas. Sabe quais os caminhos. Talvez não tenha ainda conseguido olhar o medo nos olhos e desalojá-lo para dar lugar à coragem. A minha estrela conhece a sua essência, mas ela é tão grande e tão bonita que o assusta. Teme a sua própria essência. E também por isso, sofre. E ninguém teve tempo de o ensinar que o medo faz parte da vida. Que a insegurança faz parte da vida. E que o controlo é uma mera fantasia. Não se controla nada nem ninguém. Não se tem que ter as soluções nem as respostas para tudo. Ninguém ensinou à minha estrela que o caminho se faz caminhando. Que é preciso andar em vez de correr. E que é preciso saber colocar as pessoas antes das razões, dos porquês e das coisas. A minha estrelinha não sabe o que há-de fazer com o que tem dentro do seu coração. Também ninguém lhe ensinou que o coração contém o seu melhor. E que se alguém já lhe partiu o coração em mil bocadinhos, haverá sempre alguém que o saberá remendar. Se alguém já espezinhou um coração estrelar, haverá alguém capaz de o curar e de o proteger. Quem vem a seguir não pode pagar pelas maldades de quem veio antes. Quem vem a seguir deve ter, no mínimo, o benefício da dúvida. Ou não será justo. E uma estrela deverá cuidar, em primeiro lugar, do seu coração. Pois é no seu coração que mora a sua essência e todas as coisas maravilhosas que Deus lhe deu. Quando se renega o nosso coração, estamos a renegar a nossa centelha divina. O nosso caminho original. E lá se vai a nossa bússola e perde-se o norte.
A minha estrelinha precisa de se encontrar. A mim parece-me que precisa de tempo para integrar as suas descobertas, o seu cair em si próprio, os seus sofrimentos e todas as respostas às suas perguntas. Precisa de saber o que há-de fazer com tudo aquilo que já sabe. Com tudo aquilo que já descobriu e com tudo o que sente. Precisa de despejar o medo e hospedar a coragem de ser verdadeiro consigo próprio e com o seu coração. Era bom que a minha estrelinha não demorasse muito tempo a encontrar-se. Sabendo-se que estes processos são muito solitários e virados para dentro, não se tem tempo nem disposição para se cuidar das coisinhas boas que se tem à volta. Apesar de haver este lapso temporal para se encontrar a sua própria dimensão, o tempo, cá por fora, não pára. Os outros, importantes para a minha estrelinha, continuam as suas vidas e as suas caminhadas. As crias continuam a precisar de ser criadas. As amizades a precisarem de serem regadas. E os amores a precisarem também de qualquer coisa. Se demoramos tempo demais a descobrir o que efetivamente somos e queremos, e decidimos, afinal, retomar qualquer coisa que deixamos lá atrás, como a vida continuou a girar, a tal coisa já não está lá atrás, já foi à sua própria vida. E não é culpa de ninguém. É assim mesmo. É o lado B da questão.
O meu maior desejo é que a minha estrela se encontre. Mais do que tudo, que se oiça. Que oiça o seu coração e que tenha a coragem de o seguir. Pela sua felicidade, para o seu bem, para o bem supremo da sua alma. Só assim encontrará a paz de espírito que tanto anseia. Que Deus a ajude!
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