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Breve sobre uma diferença ténue

Hoje acordei a pensar na pequenina diferença (aparente) que determinados conceitos carregam. Li um texto inspirador sobre a diferença entre teimosia e perseverança. Por vezes existe apenas um ou dois pormenores de classe que dividem estes conceitos e que os coloca na ponta contrária da mesma vareta. Funcionam como o polo positivo e o negativo. E a diferença parece ser poucochinha, quase impercetível. Mas nesta diferença é que se encontra o busílis das coisas. Como diz o autor do tal texto inspirador, a perseverança implica traçar e seguir o rumo que faz bem à nossa alma. Perseverar no caminho da evolução e no sair da nossa zona de conforto sem medo e com fé. No fundo é dar gás à luta diária de sermos cada vez melhores pessoas, de procurarmos seguir o nosso caminho original. A teimosia é continuar a marrar num caminho que já sabemos, ou intuímos, que não nos leva a lado nenhum. Trocando a coisa por miúdos, será talvez isto. Se ouvirmos o coração e seguirmos esse caminho, estamos a perseverar na evolução da nossa alma. E uma boa forma de sabermos se estamos a fazer certo é a sensação de paz. Sempre que tomamos as decisões certas e sempre que estamos no caminho certo, se pararmos, meditarmos e perguntarmos ao nosso coração, ele devolve-nos uma fantástica sensação de paz. É a resposta para a nossa pergunta. É o caminho. E tudo à nossa volta parece que se abre, que se descobre. As soluções surgem e as boas energias fazem os seus milagres. A teimosia é normalmente amiga do medo. Teimamos numa ou noutra coisa, num ou noutro caminho, numa ou noutra relação pelo medo. Ou por orgulho. E se perguntarmos ao nosso coração, este devolve-nos sobressalto e mal-estar. E o caminho que escolhemos parece que se adensa. Parece que tudo se conjuga na dificuldade, na chatice, no moer. Não evoluímos nem um bocadinho. Só sofremos, alguma parte de nós há de sofrer. Pois resumindo, a teimosia não é boa para a alma (nem para mais coisa nenhuma).

Da mesma forma conseguimos encontrar outros conceitos que parecem parecidos mas têm um mundo inteiro de diferença. Por exemplo: pena e compaixão. A pena é um sentimento degradante até porque começa logo da forma errada. A pena pressupõe que quem a sente se coloca num patamar de superioridade relativamente a quem é digno de pena. (Esta expressão em si já mostra claramente que para se sentir pena ainda é preciso que o outro seja digno dela! Não se distribui assim a pena de qualquer forma e de qualquer maneira! Ainda há os que nem dignos de pena são.). O sentimento de pena enegrece o nosso coração e adensa a nossa alma. E não ajuda ninguém. Diminui o outro, torna-o fraco, indefeso e, ao contrário do que diz, não o dignifica em nada. Parece que precisa da nossa caridade para que se levante e volte a andar. A pena faz o alarido próprio de quem usa o sofrimento do outro para se enaltecer. Para mostrar a suposta bondade que tem no coração. A pena é ruidosa e fere os ouvidos de quem é o seu objeto. 

A compaixão é baseada no amor. No olhar do outro como nosso par. A compaixão é discreta e silenciosa. Atua em vez de papaguear. Quando se sente compaixão, sofre-se com o outro que é igual a nós. Olhamos para o outro que sofre com a humildade de quem se vê ao espelho. E, muitas vezes, descobrimos as nossas próprias fraquezas ao sermos confrontados com as situações e com os sofrimentos dos outros. A compaixão faz evoluir a nossa alma. E mobiliza-nos para a ação. Torna-se imperativo contribuir para ajudar. Nem que seja pela oração, em recolhimento. A compaixão é sempre uma das faces do amor. E não melindra nem fragiliza ninguém. A compaixão sai-nos do coração. A pena sai-nos da cabeça. E tudo o que o coração produz é de muito melhor qualidade!

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