Pergunto às ondinhas do mar onde foi que me perdi…
Elas não sabem, não me encontram.
Talvez no inverno, com as águas revoltas. Talvez me vejam. Talvez apareça.
Com o mar calmo, como se encontra o que lhe pertence?
Como se separam gotinhas iguais de outras gotinhas iguais?
Como se encontra a imensidão no meio do oceano?
Nem o mar sabe. Nem o oceano sonha. Sentem-me mas não me encontram. Sabem-me dissolvida e espalhada por toda a sua água mas não me conseguem alcançar nem reconstituir.
Não em calmaria. Não no embalo. Talvez na revolta das ondas ou no meio dos remoinhos me consigam emergir. Pelo menos os bocados partidos. Talvez estes possam ser lançados à praia e colados com a espuma das ondas. Talvez o sal possa enrijecer as estruturas, talvez as estrelas refletidas na água me possam iluminar para que não me volte a dissolver no maravilhoso descanso da água salgada. Do silêncio que encerra e que pacifica o âmago, a alma. O berço do mar é o mais protetor e aconchegante dos berços.
Talvez seja como a menina do mar. Onde nasce, onde pertence, onde se entende e é entendida. Sem perguntas, sem exigências, sem esforço. Só por ser. É suficiente o existir só porque sim. Na superfície ou na profundidade, conforme o encontro com as outras forças da natureza. Conforme o vento, o sol, a chuva. Conforme o dia ou a noite.
E se me encontrarem? Para quê se eu não sei sequer onde me perdi…onde me desliguei…onde desapareci. Nem eu nem ninguém. Também ninguém me procura. Não sabem que me perdi e não se procura o que não se sabe que se perdeu.
A perda de mim própria tal como me conheço tem que dar lugar ao encontrar-me de outra forma. Tenho que voltar a juntar as gotinhas de outra maneira, com outro movimento, com outro balanço. Talvez procura-las em todas as águas. Nas profundas e nas de superfície. Nas cristalinas e nas turvas, nas verdes, nas azuis, nas vermelhas, nas negras, nas plenas de vida e nas de morte. E em todas haverão gotinhas minhas que tenho que encontrar e voltar a unir, a juntar, a fazer fronteira clara e inequívoca com as outras águas sem deixar de lhes pertencer. E ser mar dentro do mar. E ser água dentro da água. E nunca me perder, nem de verão, nem de inverno. Nem em estação nenhuma.
Talvez muito de vez em quando ser água muito profunda e inalcançável pelas intempéries da superfície. Só para descansar um bocadinho. Talvez às vezes um iceberg gelado para que não me descubram na totalidade e para que não rasguem por mim a dentro de qualquer maneira. E sempre que me apetecer, para quem souber apreciar, ser uma água quentinha, tropical, transparente e envolvente. Basta reorganizar as gotinhas. São sempre as mesmas. Apenas se dispõem de formas diferentes. Tão simples, tão linear para quem sabe ver e entender. Tão complexo para a esmagadora maioria. Quem diria que a água, uma molécula tão simples, tem átomos tão complexos…
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