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Rosa de Jericó

Se eu fosse uma pessoa delicada, hoje diria que me sinto como uma flor murcha a quem vão caindo as petalazinhas, uma atrás da outra. Mas como não sou delicada, não sei bem que comparação hei-de fazer. Mas a ideia é esta. Sinto-me a ficar murchinha. Vou murchando de dia para dia. Quando estou numa daquelas fases da vida um bocadinho difíceis, a saborear a impotência, a gerir a perseverança e o cansaço, o melhor que consigo fazer é andar um bocadinho murcha. Eu sei que tudo o que nos acontece tem um propósito e o que está no nosso caminho é sempre provido de sentido e de significância. Eu sei disto tudo. E esforço-me imenso para ser grata ao Céu por todas as experiências que me proporciona. E sei também que o Universo conspira a nosso favor. Mas a gestão que se tem que fazer entre o saber e o sentir é difícil. As experiências e as vivências trazem as suas chamuscadelas. Eu estou tão chamuscadinha que já nem preciso de ir à praia para me bronzear! Na verdade, é o coração que fica com queimaduras do 1º grau. E, se eu fosse a tal florinha, as pétalas cairiam do excesso de calor que apanham. A sorte é que a minha flora é mais do género rosa de Jericó, oriunda dos desertos e que em tempos de escassez, seca, sem perder a vida. Fica sequinha, sequinha parecendo palha transformada num novelinho duro e mirrado. Em tempos de abundância, quando a água chega, abre-se e torna-se verdinha, verdinha e esplendorosa. Vive lindamente totalmente emersa em água. E, tal como eu, não é uma planta nada delicada, é até bastante robusta e resistente e não tem pétalas, como seria de esperar. Por vezes sinto-me como esta planta. Não consigo é fazer-me de morta como esta plantinha é capaz de fazer. A disfarçar à espera que passe o tempo de escassez. Esta parte eu não sei fazer. Vou secando, secando, sem nunca poder ficar quietinha no meu canto em paz e em sossego, a funcionar apenas com os mínimos olímpicos. Mas esta planta de que vos falo diz-se que tem propriedades mágicas. Diz-se que limpa os ambientes de más energias. Onde ela está, o ambiente fica purificado. A mim parece-me ser uma característica bonita. Também gostaria de levar leveza aos sítios por onde vou e de aliviar com quem estou. Poder tornar os ambientes e as outras pessoas leves, limpas e puras deve ser uma virtude estupenda! Diz-se que a rosa de Jericó tem esse condão. Eu cá gostava de o ter. Pode ser que isto passe por osmose…pois é a única flor que me vejo a personificar. A esmagadora maioria das outras flores são delicadinhas demais para eu poder ter qualquer pretensão em traçar semelhanças. Nunca conseguiria encontrar similitudes entre mim e outra rosa qualquer. Com esta, a tal de Jericó, resistente que eu sei lá, consigo encontrar alguns paralelismos. Gostava era também de ter o seu sossego. É uma planta muito sossegadinha. Está sempre metida na sua vidinha sem depender de nada nem de ninguém. Se lhe derem muita água, abre os bracitos e as folhinhas todas e estica-se até mais não! Cresce, desenvolve-se, ultrapassa-se! Se lhe faltar a água e o calor apertar, fecha-se sobre si própria, transforma-se num rolinho cheio de pauzinhos secos e duros e sobrevive com o que tem. E nunca se queixa! Aprendeu a aceitar as circunstâncias da vida, ao seu redor, sem se queixar, sem exigências nem reivindicações. Por isso é que esta planta é admirável! Sabe viver! E eu gostaria de ser como esta rosa tão especial. Gostaria de saber viver em paz e em alegria com todas as circunstâncias com que a vida se me apresenta. Gostaria de me saber adaptar assim tão bem ao ambiente que me rodeia. Gostaria de ser capaz de me transformar sempre que assim for necessário. Gostaria de aceitar o facto de não poder transformar o ambiente à minha volta. Aceitar sem resignação, claro está. Aceitar verdadeiramente implica que não haja sofrimento. A resignação implica sofrimento. E é uma grande chatice. Aceitar as outras pessoas tal como elas são, com as suas telhas e amoques, também deveria ser um bocadinho mais fácil e sem sofrimento. Por vezes ainda me resigno com a forma de ser de cada um em vez de aceitar, sem qualquer espécie de mal estar. Isso é que é amar bem! Aceitar os outros tal e qual como eles são. Mas existem uns outros que são especiais de corrida nesta coisa das telhas. E esses ainda são mais difíceis de entender, de aceitar sem lágrimas e lamentações. Tenho tido tantas provações deste género, na vida, que qualquer dia já não tenho nem uma peninha da alma para torrar nalguma raio de sol mais quentinho que apareça por aí! Esta coisa de ter pena de mim própria também não condiz nada comigo. Aborrece-me. Eu, que gosto tanto da vida e de pessoas! E que tenho sempre um prisma positivo para ver as montras. Sou otimista e esperançosa, graças a Deus. Tenho é medo que o cansaço me apanhe. Tenho andado a correr uma maratona contra o cansaço. Desde há algum tempo. E uma maratona cansa muito, não só pelo tempo tempo que leva como pela distância que tem que ser percorrida. Uma maratona, para quem é mais de corridas em velocidade, é um cabo dos trabalhos...e tudo isto para aprender, para evoluir e para desenvolver a minha alma. Está certo. Mas lá que custa, custa!

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