Hoje apetece-me escrever sobre uma pessoa em particular. Uma pessoa que eu muito estimo e que se revelou uma belíssima surpresa. Por vezes, conhecemos alguém num determinado contexto, convivemos com ela anos a fio e, tendo em conta esse mesmo contexto, não a conhecemos verdadeiramente. Conhecemos parcialmente, conforme se deixa conhecer e conforme estamos disponíveis para a olhar com olhos de ver. Quando se carregam defesas e muitos filtros, num determinado contexto, passam-nos ao lado, pessoas magníficas. No meu conceito, uma pessoa magnífica não quer dizer a maior dos bonecos da minha bola. Nem a mais isto ou mais aquilo. Uma pessoa magnífica é aquela que se vai descobrindo, devagarinho e, quanto mais se conhece, mais se gosta. Quando, juntando o lado solar (o das coisas boas) e o lado lunar (os das coisas próprias de se ser humano), a balança fica muito descaída para o lado bom. E sou muito grata por esta descoberta. Quando passamos a conhecer alguém que tem uma alma maior e melhor do que o seu próprio ser racional, o sentimento tem de ser de admiração e de gratidão. Admiro todos os que expressam as suas dores, as suas imperfeições, as suas fragilidades e a sua forma de ser, com autenticidade e com alguma liberdade, apesar das amarras naturais de se viver em sociedade. Sou muito grata aos que escolhem partilhar comigo, um bocadinho dessas parcelas de si próprios. Essas pessoas são as que verdadeiramente me interessam. Interessam-me pessoas autênticas, que têm a coragem e a capacidade de baixar os filtros quando se sentem em ambiente seguro. Em primeiro lugar, é preciso que saibam ver onde é que o ambiente é seguro. Não é para todos. Mesmo correndo o risco de se enganar, arriscam que assim pode ser. Depois, não é para todos ser-se capaz de baixar os filtros e as defesas. E isso, na minha maneira de ver a vida e as pessoas, é magnífico!
Se alguém confia em mim, como
sendo um ambiente seguro, fico grata. Todas as pessoas que, de alguma forma,
fazem parte da minha vida, são comparadas a flores. Podiam ser comparadas a
outra coisa qualquer, mas eu gosto muito de flores. Tornam-me a vida mais
interessante e colorida. Esta pessoa em particular, comparo-a a um Girassol.
Isto porque é uma pessoa que procura, do meu ponto de vista, incessantemente, a
luz e a iluminação. Este Girassol, apesar de já ter tido noites tão negras,
renasce no dia seguinte e procura o sol. É esta vontade férrea de procurar a
luz, apesar das suas sombras e das sombras dos outros, que o faz uma pessoa tão
especial. Admiro-o porque não faz de conta que as sombras não existem. Com toda
a coragem, olha-as nos olhos e segue de acordo com a sua consciência. Ser-se
corajoso não é não se ter medo de nada. É seguir-se, com medo e tudo. Este é o
pormenor que faz toda a diferença. Uma pessoa que acolhe o seu próprio medo e o
seu próprio sofrimento, em princípio, sabe acolher o medo e o sofrimento dos
outros. E este é outro pormenor de classe. Este é o pormenor que faz com que se
tenha compaixão no peito. Para mim, a compaixão é a virtude de se compartilhar
o sofrimento do outro, aprovando ou não as razões subjacentes a esse sofrimento,
sejam elas boas ou más. Tratar os outros com dignidade e compaixão, são
qualidades extraordinárias!
O Girassol de quem falo, tem estas qualidades. E podia não ter. Podia ter deixado que as sombras tomassem conta de si. Seria legitimo. Mas não deixou. Trava uma luta diária consigo próprio, no caminho da luz. Como não ser digno de admiração? E é esta, também, a minha definição de força interior. Aquela que nos faz levantar todos os dias da cama, com ganas de se ser melhor e de não se deixar vencer pela vida. Eu acredito que o nosso pior inimigo, encontra-se mesmo à mão de semear, dentro de cada um de nós. E esta é a batalha de uma vida toda, um processo que só termina, digo eu, quando vamos desta para melhor. Quem luta, sistematicamente para ser uma versão melhor de si próprio, é um verdadeiro herói. E isto basta para se ter uma dignidade intrínseca que nada, nem ninguém, nos pode tirar. No fim do dia, o que verdadeiramente importa, é o conceito que temos de nós próprios. Para se travar esta batalha diária, é necessário que sejamos capazes do auto perdão. É importante que se saiba que, em cada momento da vida, fizemos o melhor que fomos capazes, com o conhecimento e as circunstâncias que tínhamos. A sabedoria e a cabeça dos 50 é completamente diferente da dos 20 e dos 30. Auto perdão e aceitação do que somos. Se nos perdoamos e se nos aceitamos, com verdade, somos capazes de nos amar. Este é o processo de uma vida inteira, amealhar amor próprio. Este é o desafio. Todos os outros desafios da vida são circunstanciais e impermanentes. Encontrar e amealhar amor próprio é o único desafio estrutural e permanente. É o busílis da coisa. É a pedra angular de tudo.
E, como é meu hábito, já fiz uma derivada ao
objetivo da conversa. Quando se fala de flores, é assim mesmo. As flores
inspiram-me e também me ajudam a ser melhor pessoa. Este Girassol, em
particular, também me ajuda a ser melhor pessoa. E também lhe estou grata por
isso. E sou-lhe particularmente grata porque me diz a verdade. Sei, no meu
âmago, que me diz a verdade. A sua verdade, independentemente de poder ser uma
verdade diferente da minha. Partilha o seu ponto de vista sem pruridos. E isso,
para mim, é precioso. Eu que aprecio a diferença, o outro ponto de vista, o
outro ângulo das coisas, é muito importante ter alguém que nos ajuda a ver a
pintura de outra forma. A conjugação das várias verdades é mais importante do
que se ter razão. É isso que enriquece a minha forma de ver a vida e faz-me
evoluir como pessoa. E eu busco, como pão para a boca, a evolução. Este magnífico
Girassol, que busca iluminação, também me ilumina. E esta é a base de construção
de uma amizade.
Mais uma flor no meu jardim. Que riqueza!
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