Quero-o bem mais do que perto.
E por mais que procure fechar todas as portas e janelas,
Quando se vai, meu peito fica exposto, aberto.
Correm-me as tristezas pelas veias e não encontro sangue. Só água salgada.
Leva-me o coração consigo e deixa-me a alma gelada.
Fica a noite nos meus olhos e o deserto na minha boca.
Ficam as penas e os poços. Ficam-me as dores e os ossos.
Ficam as saudades e as melancolias.
Ficam os dentes afiados e as raivas frias.
Ficam os prantos e os tormentos.
Ficam os pensamentos e a vontade.
Quando se vai, leva-me o brilho, o ânimo e a liberdade.
Fico vazia.
Quero-o bem mais do que perto.
Junto a mim onde a distância não afasta o seu cuidado.
E há um mar que se interpõe entre o meu querer e o meu peito aberto.
E a esperança esconde-se por detrás de qualquer barco parado.
É um dos que quando não vê com os olhos não sente com o coração.
O meu querer cabe num mundo inteiro e o seu cabe todo numa mão.
Mão pequenina, que se fecha em concha e se enterra nas fundas areias.
Só dá conta do seu umbigo, da sua casca e é água gelada que lhe corre nas veias. Nas minhas, transbordam torrentes salgadas.
Quero-o bem mais do que perto.
As almas conversam sem darmos por isso. Sem querer.
Os corações entendem-se sem esforço, sem intenção, sem feitiço.
Só porque sim. Só por assim ser.
Porque quando está longe esquece-se de mim inteira.
E isso magoa muito mais do que a lonjura.
Fecha o seu peito. E abre o meu. Fica aberto em ferida.
O meu peito aberto deixa sair o que o seu cuidar não procura.
E o vazio deixa-me sem eira nem beira, quase perdida.
E porque não quero crer no que pressente o meu peito aberto,
Quero-o bem mais do que muito perto.
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