A liberdade pode ser desconcertante. Temos tanta, tanta liberdade, que por vezes nos perdemos nela. Quantas vezes é mais fácil ter alguém que nos diga o que fazer, que nos oriente. Ou até que seja ditador e que nos dirija. É sempre mais fácil ter uma referência para contrariar. É fácil ter que lutar contra qualquer coisa externa. O problema é quando temos que lutar contra qualquer coisa interna. Quando o universo conspira para que mergulhemos, bem fundo, no nosso interior, é uma chatice. Lidar com este universo paralelo, o nosso, o de dentro, pode ser muito difícil e doloroso. Ter que alinhar a nossa cabeça com o nosso coração. Um diz uma coisa e outro diz outra. Parecem duas galáxias em desalinho. Às turras. O engraçado da coisa é que quanto mais procuramos as respostas fora de nós, no ambiente envolvente, mais o universo nos impele para o nosso interior. Obriga-nos a ouvir a sinfonia que vai cá dentro. Às vezes é uma sinfonia muito desafinada, em que cada um toca para o seu lado. Se tocarem todos a mesma música já náo é nada mau.
A vida, no seu constante evoluir a na sua infinita sabedoria, empurra-nos para onde precisamos de ir, de estar ou até onde precisamos de aprender a ser. Por vezes, esta orquestra interna torna-se uma bagunça. Várias dimensões em simultâneo, muitos cenários, muitos pensamentos, muitas dores, muitas emoções, etc. Tudo muito e variado. Bagunça que pode tornar-se caos.
Há que tomar a rédea da coisa, melhor, pegar na batuta, e ser o maestro desta tão complexa e desorganizada orquestra. É possível que se tente arrumar tudo de uma vez e apressarmos a organização porque é muito doloroso viver sem matrizes, sem gavetinhas e sem caminhos bem traçadinhos. Vive-se terrivelmente em desordem interior. E queremos a todo o custo apressar o processo de arrumação, de retorno à paz interior. Esta pressa pode representar uma emenda pior do que o soneto. É difícil dar tempo ao tempo. É difícil encontrarmos o melhor campo de batalha, viver-se a estratégia e aceitar-se os peões que a vida nos está a proporcionar. Parece que os sinais estão todos ao contrário. Nestas lutas que se querem interiores, nestes acertos de alma e neste evoluir, a sinalefa parece não ter coerência nenhuma. É tão fácil lerem-se os sinais dos outros e tão difícil entenderem-se os nossos. É tão fácil perceber os sinais que a vida dá às outras pessoas e é de uma dificuldade extraordinária compreenderem-se os nossos sinais. É a tal história: somos peritos em ver o cisco no olho do outro e não reparamos na trave que se encontra na nossa própria visão. E isto não depende do tamanho dos olhos, claro está! Depende da confusão interna. Quanto mais confusos menos capazes somos de olhar para nós. E então centramo-nos no mais fácil, na vidinha dos outros. Somos peritos nestas manobras defensivas. E quantas vezes dizemos que temos muita vontade de ajudar os outros, de nos darmos, etc. e tal, mas verdadeiramente o que se esconde é a nossa incapacidade para nos ajudarmos a nós próprios. E procuramos fora. Continuamos a procurar fora o que nos morde cá dentro. Ser humano é assim, não é? Ser humano é ter esta liberdade imensa de fazer o que nos der na tola e pronto. E esta liberdade não deixa de ser assustadora. Porque somos nós que temos que colocar os limites e as balizas. Nós podemos mudar o andamento da musica a qualquer momento. Somos nós que temos a batuta nas mãos. E ter a batuta nas mãos relativamente à nossa vida, não é tão fácil como parece. Este poder que cada um tem nas suas mãos pode ser bastante assustador. O salto para que possa ser fantástico, é um processo que pode demorar uma eternidade. E manter isto simples e linear, como convém, como é que se consegue? Para mim, de momento, é relaxar. Dar tempo. Conseguir acalmar. Deixar amálgama assentar. Baixar a poeira. Só ser. Só sentir. Só estar. Tentar não complicar, não me perder no nevoeiro. Não entrar em processo arrumativo sem estar preparada para desorganizar tudo e voltar a arrumar. Às vezes sou muito exigente comigo própria também nesta coisa de arrumar o meus mundos por dentro e de alinhar tudo em conformidade. Nem sempre se consegue arrumar de um dia para o outro. Nem sempre se consegue ser eficientes connosco próprios. Esta mania da eficiência também tem que acabar. Não me dou o tempo necessário para estar desarrumada. Para me deixar estar em bagunça. Não sei se me custa mais a bagunça ou o facto de estar nesse estado. A pressão que coloco a mim mesma para me arrumar deixa-me pior do que a própria desarrumação em si. Esquisita, todos os dias. É assim que me sinto. Esquisita até para mim própria. Talvez liberdade a mais.
Siga a estrelinha, ela certamente ajudará a iluminar e a arrumar a bagunça Quem sabe será essa a razão da dualidade. Estrela a menos 😉
ResponderEliminar