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Mensagens

A mostrar mensagens de maio, 2016

A solidão e o monstro das bolachas

Ontem tive uma conversa que me deixou a pensar. Foi sobre solidão. Entre a solidão por se viver sozinho e a solidão acompanhada. Estas conversas são sempre interessantes. Permitem-nos pensar melhor sobre os sentimentos, as emoções, sobre nós próprios e sobre quem nos rodeia. Estar-se sozinho é completamente diferente de se ser solitário e de se viver em solidão. Olhando para mim própria e para a minha experiência pessoal, posso afirmar que hoje em dia estou muito mais sozinha e mas muito menos solitária. Eu já vivi a experiência de sentir uma solidão imensa, embora estivessem muitas pessoas à minha volta. Esta foi a solidão que mais me doeu, a solidão acompanhada. Parece-me que sempre sofri um bocadinho disto. De qualquer forma, desde sempre que necessito de momentos em que tenho que ficar sozinha para pensar, refletir, construir cenários, fazer planeamento e tomar decisões. Adoro caminhar sozinha e adoro conduzir sozinha. Estes movimentos comigo mesma são os que me fazem pensar na vi

Corações à janela

De vez em quando o meu coração sai fora do peito. Deixa um lugar vazio. Cheio de nada. Vai espreitar à janela. Vai ver se existem outros corações como ele, a espreitarem, a ver se encontram o que lhes falta. Quando se espreita à janela de uma casa vazia, vê-se fora uma multidão que ainda torna mais vazia a casa da janela onde se espreita. A janela de onde o meu coração espreita tem uma vista colossal sobre a rua da amargura. Da janela vêem-se outros corações a espreitar. Uns despedaçados, outros partidos. Todos os corações inteiros e de saúde encontram-se dentro do peito onde pertencem. Quanto muito, passeiam de um peito ao outro quando se trocam palavras de amor. Não espreitam à janela de casas vazias. Mas uma casa vazia torna-se muito grande, muito solitária e muito fria para que um coração rasgado possa estar sozinho em paz a sangrar. Tem que se entreter e vai espreitar à janela. Tem que ver se encontra um outro coração com quem possa partilhar as mágoas. E faz adeus aos outros

A leveza da esperança

Hoje estou murcha como as flores quando não lhes regam os pezinhos. Neste caso a murchice instalou-se porque me falta os raios de sol que me iluminam. Por fora e por dentro. Por fora porque esta primavera está muito frouxa. Nunca mais se decide se quer manter-se mais no inverno ou se resolve assumir o verão de uma vez. A primavera está uma dama muito indecisa. Não sabe bem para que lado há-de ir. Coisas femininas também no que diz respeito ao tempo que faz. Como eu sou uma pessoa de sol, estou murcha porque ele anda tapado pelas nuvens cinzentas, gravidíssimas de lágrimas doces e densas. E não há maneira de aparecer o sol para me permitir receber uma boa energia do céu. Devido à chuva, não consigo fazer as minhas caminhadas. E assim não destilo tudo o que se passa cá nos meus mundos mais tristes.  Por outro lado, também se me escaparam os raios de luz que me iluminam por dentro. A minha estrela passa a vida a brilhar de um lado para o outro e fica longe a maior parte do tempo. E s

Um coração malvado

Entre mim e o meu coração existem sempre divergências. Tenho um coração muito intenso, que sente tudo ao milímetro. E com ideias próprias. Com vontade própria. Só faz o que quer. É um órgão fundamental mas muito difícil de gerir. A normalidade dos corações cumpre a suas funções no corpo e na alma e as pessoas levam a vida para a frente. O meu coração é tudo menos normal. Anda sempre num desassossego. E consegue acertar sempre ao lado do que poderia ser um bom caminho para uma vida mais descansada. Neste momento estou em luta com o meu coração. É uma luta latente, que pouco se nota. É cozinhada a banho-maria. Vou aguentando, aguentando, aguentando até explodir. Até não ser capaz de aguentar mais. Bem sei que os meus limites têm dilatado com a idade. Com a experiência de vida. Com a paciência que vamos aprendendo a ter ao longo do caminho. Mas não sei quando chegarei ao ponto de não haver retorno. De não ser capaz de aguentar as tropelias todas que o meu coração inventa. Entre mim e

Amor de tartaruga

Antigamente, haviam uns cromozinhos com umas coisinhas bem lamechas que falavam de amor. E tinham uns bonequinhos simples com uma frase que começava sempre por "Amor é...". Nunca colecionei porque nunca fui de coleções mas olhava assim de soslaio para os cromos que alguém tinha ou colava nas capas dos livros ou dos cadernos. Achava graça mas não percebia muito bem o que queriam dizer algumas das frases. Não atingia nem a profundidade nem a simplicidade dos dizeres. Porque era muito nova. E por isso adoro a idade e o conhecimento e a sabedoria que traz. E de repente, fiquei a pensar (também inspirada por umas musicas que estou a ouvir), se eu tivesse que escrever umas frases sobre "o amor é...", o que seria que eu escreveria? E, de repente, patino um bocadinho. Parece que é mais fácil descrever-se a falta que nos faz ou dizer que sem amor somos isto ou aquilo. É nestas alturas que eu gostava de ter alma de poeta e saber escrever umas coisas lindas  sobre o que de ma