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Estrelinha em bem

Por vezes a pessoa cansa-se de andar aborrecida a maldizer a vida. Quando começo a passar dos limites tenho que fazer qualquer coisa para contrariar o estado de espírito mais carrapeto e obtuso. Quando a chuva aparece e não me deixa fazer um montão de coisas que gosto, nem que seja espreitar o sol, desato a praguejar. Mas isto não é vida. Desperdiçar tempo a resmungar e a rosnar é a maior das parvoíces. Quando penso bem sobre esta história do mau humor só me apetece dar um valente raspanete a mim própria. Tantas coisas bonitas que se podem fazer ou pensar. Este tempo choroso não pode ter qualquer influência na meteorologia interna. Isso é que era doce! Basta começar a fazer uma listinha das coisas bonitas que povoam a minha vida. Que me iluminam apesar das nuvens e do sol se pôr logo depois de almoçar (o preguiçoso!). 

Se refletir bem sobre a vida e sobre as pessoas que a cruzam, os sorrisos e as alegrias retomam o seu devido lugar. Nunca daquilo que é doloroso pode ser mais poderoso do que o que nos dá alegria. Este é um dos meus princípios de vida que nem sempre consigo seguir à risca. Mas tento que me farto...com muita força. Não posso deixar que as mágoas sejam mais fortes que os amores. Que quem me magoa seja mais importante ou que lhe dedique mais energia do que a quem me faz bem e me ama. A ruga não pode ser mais importante do que o rosto. É assim que tento levar a vida e a minha relação com os outros. Daí que me reserve cada vez mais para quem não está no mesmo comprimento de onda (o que também é difícil devido ao meu tipo de onda) mas que tente ser o mais genuína possível para quem me importa. Procuro focalizar-me no mais importante, no que verdadeiramente interessa, não gastando energia nem recursos com futilidades. 

De vez em quando, estou eu na minha vidinha, perdida nos meus pensamentos e, uma palavra, uma situação, qualquer coisa pequenina, faz com que me caia uma fichinha muito grande. E consigo pôr de pé aquilo que sinto e que ainda não tinha sido capaz de colocar em palavras ou de verbalizar de forma fluída. De vez em quando acontecem-me destas coisas. Sei que é assim mas não sei porquê. E, depois, do quase nada, cai-me uma ficha e sou capaz de perceber o porquê das coisas. Este processo é muito importante particularmente quando estamos imbuídos de emoções que nos fazem doer um bocadinho. Existe uma estrela na minha vida que de brilhar tão longe me causa muitas saudades. Todos os dias. De vez em quando, essas saudades vão para além da parte boa e transformam-se em tristeza. Daquela miudinha, que vai minando, corroendo, devagarinho, criando garras daquelas que se aferrolham e custam a sair. Estas emoções retiram-me a alegria. E a alegria faz parte de mim. Portanto, sinto a perda, sinto a falta. Como procuro sempre o lado positivo das coisas, procuro concentrar-me no que verdadeiramente me ilumina. E já sou capaz de encaminhar as palavras neste sentido. E de dizer claramente porque é que esta estrela, apesar de longe, me ilumina tanto e me tem feito tanto bem. E como as pessoas nos podem fazer bem sem saberem, sem darem por isso, sem sequer lhes passar pelo estreito! E nós, cá deste lado, também não costumamos dizer o bem que os outros nos fazem. Parece que é sempre mais fácil falar mal dos outros e enunciar o mal que nos foi feito e o quanto nos incomodam. Pois eu tenho esta facilidade que Deus me deu em falar as linguagens do coração. Despejo essas coisas com toda a facilidade. O meu receio ou o meu travão tem sempre a ver com o saber se o outro quer ou está preparado para ouvir destas coisas. Apesar de ser fluente nesta linguagem, respeito muitíssimo e considero precioso tudo o que sai do coração. E tento fazer a gestão destas coisas com pés de lã enquanto não tenho a certeza onde piso. Ou melhor, de como posso pisar sem magoar ou sem ser intrusiva no outro.

Voltando à minha estrela e ao bem que me tem feito sem dar por isso. Tem-me feito muito bem só por ser o que é. Simplesmente. E eu sou o produto da minha história e das minhas vivências. Das minhas convicções, das minhas forças e das minhas fragilidades. Quando esta minhas estrela apareceu no meu céu a brilhar, decidi, intuitivamente, ser quem era, mostrar-me tal como sou. Decidi que não esconderia os meus mundos, as minhas telhas, as minhas formas, as minhas cores e representações. Fui reservando e desvendando o que entendi, como entendi, no momento em que entendi. Sem segundos sentidos (até porque não gosto), sem cartadas na manga (não tenho jeito), sem quebra-cabeças nem jogos de outro género. Não tenho nem nunca tive paciência para essas coisas. Sempre com o princípio de: ou reservo ou o que desvendo, é honesto e verdadeiro. Já não quero passar a vida ser só metade de mim própria. Quem entra no meu coração, ou quem eu deixo que entre, tem que respeitar o que encontra. Mesmo que por vezes não entenda. Mesmo que tenha dúvidas que é assim mesmo. Mesmo que se perca lá dentro. Mesmo que não encontre principio nem fim. Mesmo que as antíteses sejam muitas. Para se respeitar o que se encontra em mim tem que se ser corajoso. Não se pode ter medo. E esta estrelinha, no meio da sua vida virada do avesso, tem conseguido respeitar o que vai conhecendo. E tem dado o benefício da dúvida. E começa-me a parecer que acredita no que encontra. Que entende o que é genuíno e espontâneo. E não se assusta com o que é diferente. A diferença não lhe mete medo. Sabe ouvi-la. Faz melhor, escuta-a.  E vê-a com uns magníficos olhos de mar. E eu sei disto tudo porque eu e o mar nos entendemos lindamente. E tudo isto me tem feito muito bem. Este é o prato da balança que equilibra o outro, aquele que verga com o peso das saudades.

E numa altura da vida em que a minha estrela tem a agulha da sua bússola a rodopiar sobre todos os pontos cardeais, de vez em quando pára e espalha a sua luz sobre a minha noite. Sem se dar conta de como brilha. E de como me ilumina. Todo este brilho vem-lhe do coração. O tal que a minha estrela negligencia mas de onde lhe vem todo o seu entendimento. Toda a sua força de vida. Toda a sua sabedoria. Toda a sua essência. É o coração que manda no mar dos olhos. No calor dos abraços. Na força e na delicadeza das mãos. Na musica das gargalhadas. Também sei disto tudo porque ambos temos corações que falam um com o outro, sem nós darmos por isso. O meu, depois, é um tagarela e conta tudo o que vê. Tudo o que sabe. Ou quase tudo. Parece-me que apesar da tagarelice, de vez em quando, os corações também fazem uns acordos de cavalheiros e reservam umas coisinhas só lá entre eles. 

Se ou quando a minha estrela souber das minhas histórias, das de dentro e das de fora, vai entender melhor o bem que me tem feito. Por enquanto, basta que acredite na minha palavra. E o bem que me tem feito é mais importante que a distancia e ausência. Quem mora no nosso coração, nunca está muito longe. Está à distância de uma batidela!


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