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O estado da arte

Os últimos tempos têm sido "diferentes". Tenho andado em processo de cura. Pedi muito ao Criador que me abençoasse com o dom da cura. De todas formas que fossem necessárias. Caiu-me a ficha sobre a importância deste processo. 
Em primeiro lugar, para mim própria. A primeira obrigação que tenho comigo própria é tratar da alma, da psique e do corpo. O primeiro passo neste processo foi o de perceber que precisava de cura. Foi preciso ter a consciência de que tinha feridas, dores e sofrimentos. Foi necessário dar aquele grito libertador que nos ajuda a mudar a vida, a interna e a externa. Por vezes, as dores e as feridas fazem-nos companhia, habituamo-nos a elas e já fazem parte de nós. Fazem parte da nossa mobília. E vai-se ficando exausta sem se dar por isso. Esta exaustão vai aparecendo de mansinho, como uma névoa suave e vai tomando conta de nós, devagarinho. Quando damos por isso, estamos capazes de nos mandarmos ao chão, com vontade de desistir. Os pensamentos e os sentimentos embrulham-se e, de repente, sentimo-nos doentes, desalentados, desanimados, angustiados, ansiosos ou outra coisa qualquer do género e pouco recomendável.

Antes que o caos se instale, também vindo sabe Deus de onde, é preciso chamar uma réstia de lucidez, dar uns gritos e aterrar na consciência das feridas, das dores, e querer mudar o estado da arte. Pode escolher-se passar o resto da vida na companhia das nossas maleitas já conhecidas. Pode escolher-se não se querer curar. Pode preferir-se ficar no "mal que conheço em vez de mudar para o bem que não conheço". Tudo isto se pode. Mas o preço a pagar é muito alto: ficamos na mesma o resto da vida e as situações continuam a repetir-se e a repetir-se até que se abra o olho. Até que se queira mudar de vida e abraçar a cura. Se continuarmos a insistir no mesmo, a vida presenteia-nos com a perda e com a dor, e o nosso corpo pode não aguentar tanta descarga e tanta contrariedade. Abrir o olho, ter a consciência da ferida e pedir a cura, são o início do processo. Claro que dói. Claro se vai abrir uma caixa de Pandora. Às vezes pensamos que a ferida está num lado e, afinal, está noutro. Descobrimos o que nunca pensamos sequer que existisse. Voltamos a abrir feridas que julgamos que estavam encerradas e cicatrizadas. Para se entrar num processo de cura é preciso que se desarrumem as gavetas e as prateleiras todas. É virar-se do avesso e de cabeça para baixo. É descobrir-se o lado mais sombrio, encará-lo de frente e aceitá-lo como parte integrante da nossa identidade. Para se querer curar é preciso que se tenha a barba rija que é para não dizer uma coisa ainda mais masculina. Sair da zona de conforto é do caraças!

A melhor das decisões que tomei na vida foi esta: quero curar-me de todas as formas e feitios! Quero entrar nesse processo. Vou trilhar esse caminho. E o Pai ouviu-me, como sempre me ouve. O nosso Criador atende sempre ao que pedimos desde que isso seja para o bem supremo da nossa alma ou para um bem maior. Às vezes também nos atende quando pedimos porcaria. Atende-nos que é para percebermos que afinal o que queríamos era mesmo porcaria e não iríamos lá de outra maneira. O Criador sabe sempre o que faz. 

Quando se pede, quando se escolhe utilizando-se a plenitude do nosso livre-arbítrio, os milagres começaram a acontecer!!! Na mesma lógica de "quando o aluno está pronto, o mestre aparece". Tem sido sempre assim comigo. Quando escolho o que me faz bem, todas as ajudas aparecem. Caem-me ao colo. Neste processo tão pessoal, tão intimo, tenho tido a graça de encontrar os terapeutas certos, aqueles que "encaixam" na minha forma de ser e nas minhas necessidades. Esta correspondência é muito importante. Encontrar-se a melhor solução para as minhas especificidades. Eu não gosto de "pensinhos rápidos". Não gosto de coisinhas pela rama nem pseudo-curas. Estou mais centrada em alterações profundas. Estou mais centrada em mudança de estilo do vida do que em cenas do tipo "dieta para o verão". Não tem sido fácil mas tem sido muito importante e pacificador. Sinto-me, finalmente, a encontrar o trilho. O meu trilho. Mas este trilho só se revela quando se investe no autoconhecimento. Naquele que vai mesmo ao fundinho da alma. E eu tenho tentado ir ao fundo da alma. Tenho ido até ao DNA. E vou continuar. Agora que descobri o trilho, quero ver até onde ele me leva. Quero ir por essa estrada a dentro. 

Sinto-me a mudar de pele assim como fazem alguns répteis. Esta imagem não é lá muito bonita mas é a que melhor ilustra a situação atual. Salta fora a pele velha e emerge uma novinha em folha. É assim que me sinto. Estou a deitar fora as camadas de epiderme que já não me servem e começo a ter uma pele nova, autêntica, que vai tomar o lugar da antiga. Estou a sacudir os esqueletos do armário, o pó, o mofo e tudo aqui que possa ser limitante na minha evolução enquanto pessoa e enquanto alma. Ao abrir os meus baús adormecidos, subconscientes e inconscientes, tenho encontrado muitas surpresas. Umas provenientes da minha luz e outras da minha sombra. O trabalho é de aceitação, compreensão e de integração. Não é fácil mas vale muito a pena. Tenho no peito a alegria de estar no rumo certo. E a alegria no peito é um sentimento maravilhoso! 
Autoconhecimento (daquele até à medula) e cura! Recomendo vivamente. 



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