Ele há dias em que me sinto a pessoa mais tolinha que o Criador deitou ao mundo.
Considero-me uma mulher inteligente mas sou muito pouco esperta. Alguém que se cruzou na minha vida há uns anos, disse-me esta pérola: "(...) és uma mulher muito inteligente mas muito pouco esperta (...)". Na altura fiquei podre com a observação. Hoje em dia, dou a mão à palmatória, e parece-me que a tal pessoa estava cheia de razão. Esperteza, de facto, eu não tenho nenhuma. Particularmente porque sou uma pessoa crédula. Acredito no que me dizem. Não sou desconfiada. Não passo a vida a pensar que me vão fazer a folha e muito menos penso que me estão a mentir ou a manipular. Normalmente escolho acreditar no que me dizem. Escolho ver o melhor que as pessoas têm. Parece-me que existe sempre a possibilidade de as pessoas mudarem para melhor. Acredito que se tratarmos as pessoas como se elas fossem melhores do que aquilo que realmente são, estas terão um potencial de desenvolvimento no bom sentido. Se as tratarmos como se fossem melhores pessoas, elas tornam-se melhores pessoas. Nem que seja um bocadinho só, daqueles ínfimos. Não importa. Bocadinho a bocadinho, a alma evolui. Eu faço esta escolha. Acredito, por princípio, e tenho uma esperança infinda que a malta melhore. Claro que este princípio tem, como tudo na vida, o outro lado da moeda. Sendo crédula por natureza, as pessoas engana-me e mentem-me e eu não dou por nada (até ao dia). Na verdade, eu vou tendo sinais, vou tendo pistas que me indicam que qualquer coisa não bate certo. Vou tendo todos os alertas. Como sou a tal rainha das tolas, escolho não ver e escolho não somar 2 e 2. Dou um passo em frente, dou uma segunda e uma terceira ou um mais infinito de oportunidades. Até ao dia em que me dão um grande abanão, tipo tremor de terra em 9 na escala de Richter, ou que transbordo ou que me esgoto. Nesse dia, sai-me o tapete debaixo dos pés e a vida fica cinzenta. Junto as peças todas, faço o puzzle e normalmente descubro mais do que aquilo que queria descobrir. Quando Deus me dá o dom da lucidez, vou até ao fim da linha. Vou até onde doer. Baixa-me uma frieza que nem sei de onde vem e coloco de um lado o meu desejo de que tudo fosse diferente. Do outro lado coloco os factos e as evidências. E uso a inteligência, a tal. E coloco-a ao serviço do coração. Tenho aprendido a usar a cabeça no sentido de servir o meu coração e a minha alma. Analiso, concluo e decido. Sempre desejando que fosse diferente. Lamentando o facto das evidências apontarem todas para o sentido em que eu sou uma grande tola e que a malta sabe aproveitar-se desse facto.
E choro tudo o que há para chorar. E maldigo a sorte e mais um monte de disparates. Deito cá para fora as mágoas que é para o coração cicatrizar mais depressa. Remoer muito nas mágoas é como uma infeção latente que não deixa curar e que vai tornar a ferida maior, com uma cicatriz que deixa marca. Para grandes males, grandes remédios. As decisões, no fim do dia, têm que ser a nosso favor. Uma decisão a nosso favor é aquela que nos preserva o amor próprio, o auto respeito e que não nos deixa viver de migalhas. Uma decisão a nosso favor é aquela que nos pode fazer chorar agora mas que nos evita desgostos maiores lá mais à frente. Uma decisão a nosso favor é aquela que nos dá paz no coração. Por vezes é necessário ter-se uma vontade férrea de não fazer a vontade ao nosso desejo de que tudo fosse diferente ou na vontade de que os outros fossem diferentes. É fácil cair-se na tentação de só se abrir os olhos para o lado que nos interessa. Para o lado que a muito breve prazo nos dá alegria. É fácil cair-se na superficialidade e escolher-se em função de evitar a dor imediata. A dor é muito organizadora. E a dor também tem que ser vivida em profundidade. A minha sorte, apesar de ser muito tola, é o facto de ter muito metros de profundidade nos meus alicerces: coração, cabeça e alma. E reflito sempre em profundidade. E estou habituada à dor. Não lhe dou confiança. Não decido em função do seu evitamento imediato. Não gosto de aspirinas. Gosto mais de tratar as causas das coisas. Mas sou uma grande tola à mesma. Continuo sem ter um pingo de esperteza. Só tenho a minha lucidez. É a minha salvação. Mas vou continuar a ser a maior tolinha que Deus deitou ao mundo. Porque continuo a acreditar no ser humano, continuo a escolher ver o melhor das pessoas e continuo a pensar que uns não têm nada que pagar pelas asneiras dos outros. Portanto, ser tola, faz parte da minha personalidade. Umas vezes esta caraterística coloca-me do lado da luz e outras vezes, do lado da sombra. A boa notícia é ter a consciência destas coisas. Tudo me leva para o mesmo caminho: autoconhecimento.
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