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As 19 coisas mais importantes para ensinar às crias

Hoje apetece-me muito deixar escrito, para luas que hão-de vir, todas as coisas que gostaria de ter ensinado às minhas crias. Poderia ser uma ensinadela por dia, mas não sei se tenho 365 coisas para ensinar. Não faço a mínima ideia do que é que tenho para ensinar nem do quanto tenho que o fazer. É difícil a sua quantificação. Quando cada uma delas estava para nascer, a maior graça que pedi a Deus, para ambas, foi que tivesse um bom coração. As mães pedem sempre um rol de graças: que os bebés tenham saúde, que sejam perfeitinhos, bonitos, inteligentes e mais uma infinidade de coisas boas. Como sou uma pessoa prática e procuro ser lúcida, no final da conversa com o Criador, resolvi o assunto pedindo a maior das qualidades que um ser humano pode ter: um bom coração, cheio de compaixão, de justiça e de amor. E o Pai do Céu ouviu-me. Com a Graça de Deus, as minhas crias têm bom coração. Mesmo tendo personalidades completamente diferentes, têm um coração muito maior que elas próprias. Estou descansada. Um bom coração permite evoluir enquanto alma. Permite a compaixão pelo próximo e pelo mundo. Um bom coração é a base, a estrutura para se ser gente em todas as dimensões. É no coração que elas vão amealhar os créditos que levam para o outro lado e vão crescer espiritualmente. A qualidade dos corações delas descansa o meu. Sinto-me como o oleiro que apenas ajuda a moldar o barro com a força do seu movimento e com a delicadeza das suas mãos. Cada peça que cria é uma peça única. E não a guarda, pois não é sua. Apenas deu uma ajudinha para que uma argila de boa qualidade, pudesse vir a transformar-se numa peça muito bonita. Com vida própria. Pronta para o mundo. 
Nas peças lá de casa, gostava de deixar umas marcas ou umas ensinadelas, daquelas que moldam o carácter e que influenciam a forma de viver, as suas e dos outros. Então vamos lá:

1. Tratar sempre os outros como gostamos de ser tratados. Cuidar dos outros como gostamos de ser cuidados. Todos gostamos de um leitinho quentinho quando estamos na cama (vá, também pode ser uma bebida vegetal se forem anti lactose e anti leite das vaquinhas). Todos sentimos dores, amores, afetos, medos e tudo o que faz parte de se ser pessoa. Cada um sente à sua maneira (e isto é um aspeto muito importante) e cada um tem a sua referência. 

2. Não tirar conclusões precipitadas, julgar o menos possível e aprenderem a colocar-se nos pés dos outros, com as circunstâncias dos outros. Compreendam mais e julguem menos. Lembrem-se que nem tudo parece o que verdadeiramente é. Pensem que um excesso normalmente esconde uma carência. Lembrem-se que um sorriso pode disfarçar uma grande tristeza. Aprenda a ver com os olhos de dentro e não só com os de fora. 

3. Não se julga ninguém por aquilo que a pessoa não escolhe. Não se julga pela cor da pele, pelo país onde nasceu, pela família, pela cor dos olhos, etc, etc. Não se julga pela orientação sexual ou por outra qualquer característica ou situação que não dependa do livre arbítrio de cada um. Sejam inclusivas e tolerantes.

4. Aprendam a ser equitativas. A darem aquilo que cada um precisa para chegar onde deve chegar.  A igualdade não é a melhor das descobertas desde que se inventou a roda. A equidade sim. Dar a cada um o danoninho de que precisa para poder ter as mesmas oportunidades do que os outros, isso sim, é de valor. Para se partilhar da mesma refeição, à mesma mesa, não se devem colocar cadeiras iguais nem talheres iguais. As regras de etiqueta dizem que sim. As regras sociais, tal como a etiqueta, estão cheinhas de igualdades, que só servem para os que estão no padrão, na média. E os outros? Para que todos possam desfrutar da mesma refeição, há os que precisam de uma cadeira mais baixa porque são muito altos e não convém que tenham que ficar com uma marreca para poderem almoçar. Por outro lado, existem os que são baixinhos e que precisam de uma cadeira mais alta para poderem chegar à mesa. Também os talheres podem ter tamanhos e comprimentos diferentes exatamente pelas mesmas razões. Cada um precisa do que lhe faz falta para poder ter as mesmas oportunidades do que os outros. E no que diz respeito a pessoas, as médias e os padrões são uma treta. As respostas médias não respondem às perguntas de ninguém.

5. Não deixem para amanhã o que podem dizer de bom, hoje. Digam às pessoas o que sentem por elas. Usem e abusem das palavras mimosas, dos gestos carinhosos, peçam mimos e ofereçam mimos. Não tenham medo de ser lamechas. Não tenham medo de ser melosas. Se todos tivéssemos mais demonstrações de carinho não teríamos tantos arrependimentos. Se nos soubéssemos amar melhor, o mundo era muito mais agradável. Não tenham medo de elogiar, de dizer coisas bonitas, de pingarem amor, mel, gomas, chocolate e tudo ao mesmo tempo. Tenham medo de deixar alguém partir sem lhe dizerem o quanto foi importante para vós. Mesmo que os outros vos critiquem por serem meigas, isso é um problema deles, não vosso. As demonstrações de carinho não são demonstrações de fragilidade. São de força, de carácter. É tão mais fácil dizer coisas más, criticar, julgar, fazer reparos aos outros, não é? Pois aí vem a ensinadela seguinte:

6. Respirem e contem até 100 antes de dizerem alguma coisa que pode magoar alguém. Pensem bem antes de falar, se se fizer um estrago, já não se pode voltar atrás. Uma palavra dita não volta para dentro da boca. Pode magoar de morte. E um pedido de desculpa só pode colar caquinhos, não deixa as coisas tal como estavam. Usem e abusem das palavras boas e utilizem as outras com muita atenção e com muita consideração pelo próximo.

7. Não são melhores nem piores do que ninguém. Nunca olhem para ninguém do alto da vossa importância. Sejam humildes, olhem para os outros no mesmo comprimento de onda. Somos todos diferentes, todos iguais e todos nascemos e morremos da mesma maneira. E, como costumo dizer na intimidade, todos vamos à casa de banho fazer as mesmas coisas. Pensem que as outras pessoas são tão ou mais inteligentes do que vocês próprias. Se assim fizerem, serão capazes de respeitar toda a gente. Existem pessoas que parecem não merecer o nosso respeito. Lembrem-se que não devemos julgar e que não fazemos ideia das circunstâncias daquela pessoa. O ser humano merece todo o nosso respeito. Mesmo quando faz porcaria da grossa.  A pessoa, a essência deve ser respeitada. Condenem o comportamento mas nunca condenem a pessoa enquanto tal. E quem não faz asneiras? Conhecem alguém que não tenha feito? Eu não conheço. Portanto, o respeito ao próximo é uma palavra de ordem. Lembrem-se que a história de cada um condiciona muito o seu comportamento e a sua maneira de ser. E nem toda a gente é capaz de aprender depressa. Nem toda a gente consegue ver todas as perspetivas. Aliás, há uma tendência para cada um só se preocupar com o seu próprio umbigo. Preocupem-se com o vosso umbigo mas preocupem-se também com o umbigo dos outros. Lembrem-se que existe uma tendência para repetirmos comportamentos. Um adulto mal tratante, foi, regra geral, uma criança mal tratada. Às vezes, pura e simplesmente não conseguimos fazer melhor do que aquilo que fizeram connosco. 

8. Olhem os outros nos olhos. A direito, sem desvios nem reviranços. É um sinal de respeito para com o outro e para convosco próprias. A vossa coluna vertebral deve estar direita. Não só para não ficarem com as costas tortas mas também numa atitude peituda para a vida. As costas direitas são sinal de consciência tranquila. De segurança e de respeito. De mano a mano.

9. Sejam rijas, fortes mas nunca sejam duras. A dureza faz-vos mal ao coração e magoa os outros. Sejam convictas das vossas ideias mas não sejam rígidas nem intransigentes. Mudar de ideias é um sinal de inteligência. Mudar de forma de pensar, é um sinal de inteligência. Ouvir a opinião dos outros é um sinal de inteligência. Uma opinião é sempre boa nem que se seja para contrariar. Nunca sejam donas da razão. Até porque o coração tem razões que a razão desconhece. Quanto maior for a diferença, maior a aprendizagem. Quanto mais conhecemos fora de nós, melhor conseguirmos alinhar aquilo que nos está por dentro. Melhor sabemos o que somos e o que queremos ser. Mais facilmente descobrimos o nosso propósito, a nossa missão.

10. Utilizem todos os vossos sentidos para conhecer e entender o mundo. Oiçam muito, vejam muito, observem, cheirem, saboreiem. O mundo é MARAVILHOSO! Sintam-no com todos os vossos sentidos. Comunguem com a natureza, com o mar, com os animais, com toda a criação. Contemplem, observem com vagar e com admiração. Sintam-se parte deste planeta fantástico, mas que nunca vos passe pela cabeça achar que podem dominar seja o que for. Não se domina a natureza, não se dominam os animais. Apenas se admira, contempla e usufrui. Aprendam com os animais. Aprendam como eles fazem a sua parte, sem acharem que são a espécie dominante e a maior dos bonecos da bola. Nunca matam por prazer. Apenas por sobrevivência, por fome ou por medo. Aprendam como o amor dos animais é incondicional, sem julgamento, sem moeda de troca. Aprendam como os animais cuidam dos seus filhos, defendendo-os com a própria vida, mas, no momento exato, deixam-nos ir, deixam-nos seguir o seu caminho. Os animais têm uma sabedoria extraordinária. Ensinam tudo o que podem até os filhotes serem autónomos. Não exigem o retorno, não prendem os filhos, não os impedem de ganhar asas. Pelo contrário, ensinam-nos a voar.

11. Não destruam nada que não possam voltar a construir. Não se pode matar se não se pode devolver a vida. Este é um princípio universal muito importante . É o principio que está por base da abolição da pena de morte. Não se pode tirar a ninguém aquilo que é impossível de ser devolvido. Devemos ter este principio muito presente na nossa conduta. Não podes devolver? Não tires. Não podes fazer? Não desfaças. E este princípio serve para lidarmos com as pessoas e serve para lidarmos com a natureza. É transversal.

12. Amem muito. Até à exaustão. Até caírem para o lado. Mais vale cair para o lado por amor do que por sofrimento. Dêem-se a oportunidade de serem felizes. Não tenham medo de sofrer por amor. É muito pior sofrer por falta dele. Dêem a vocês próprias sempre uma segunda oportunidade. E aos outros também. Se as coisas correrem mal, porque às vezes correm, têm sempre uma à outra para se apoiarem. E enquanto eu por cá andar, têm todo o meu colo. Coração partido é o meu nome do meio. Assim, sei consolar muito bem os corações partidos. Não se importem que o coração se parta. Ele cicatriza e fica muito mais forte, mais tolerante e com mais disponibilidade para os outros. Os corações partidos devem suavizar as pessoas. Devem torná-las mais doces, mais tolerantes. Nunca permitam que a dor do coração partido vos torne amargas, fechadas e com medo de amar. Cada vez que o coração se parte para um lado há de se reconstruir para o outro. E ninguém de novo que apareça a piscar o olho ao vosso coração deve pagar pelos que o maltrataram antes. Não façam umas pessoas pagar pelas outras. Uns não têm culpa das maldades dos outros. Amem muito. Não tenham medo. Mas nunca percam a lucidez e procurem saber qual é o momento próprio para desistir de uma relação. Naquele momento em que a relação já vos faz mais mal do que bem. Naquele momento em que têm que se anular para que uma relação continue. Nunca nos devemos anular por ninguém. Devemos fazer concessões, devemos negociar, devemos fazer o que estiver ao nosso alcance para que o outro seja feliz. Mas não nos devemos esquecer de também ser felizes. Metade da nossa felicidade e alegria pode ser a alegria dos outros. Pode ser a felicidade dos outros. Mas também existe a nossa quota. A nossa metade, a nossa alegria e a nossa felicidade. E isto, numa relação, tem que ser equilibrado. Não se esqueçam de serem felizes. Se não forem felizes numa relação, então não vale a pena. Mas lembrem-se que não existem relações perfeitas nem pessoas perfeitas. E amar é aceitar os outros tal como são, pelo que são e apesar do que são. Amem muito mas amem-se também a vocês próprias com ardor. Com força. O amor é a maior força do universo. E ninguém sabe amar se não tiver amor por si própria. Ninguém sabe desculpar as patarequices dos outros se não se souber desculpar a si mesmo. Saibam ser suaves convosco. Sejam doces com os outros e guardem muita doçura também para vocês. Tudo tem que ser muito equilibrado. Não sejam muito exigentes com os outros. Não tenham muitas expetativas e não sofrerão muito. Amem e deixem que o resto flua. Juro que as dores de um coração partido são ruins mas passam. Dão forte mas passam. E são sempre dores de crescimento.

13. Saibam rir-se de vocês próprias. Isso é uma grande qualidade. Rir de si próprio é sinal de uma grande maturidade. Sabermos que não somos perfeitos, que somos trapalhões ou outra coisa qualquer. A mãe é trapalhona e deixa cair coisas com facilidade. De vez em quando lá entorno qualquer coisa. Tenho duas escolhas: rir de mim e da situação e limpar a porcaria feita, ou ficar podre, furiosa, dizer umas asneiras e limpar a porcaria feita. Mais vale rir porque dá igual no que diz respeito ao limpar a porcaria. Quando a pessoa se ri está a libertar uma data de coisas boas e a predispor bem. Vale muito a pena. Rir é muito bom. Saibam rir-se muito. De vocês e com os outros. Não se riam dos outros mas riam-se muito com os outros. Todos têm as suas imperfeições, as suas maleitas, a suas zoeiras. E essa também é a beleza do ser humano. Apreciem a beleza das pessoas em todas as suas dimensões. Já há muita gente ocupada em apontar o dedo e em descobrir os defeitos dos outros. Saibam fazer a diferença nesse sentido.

14. Sejam corajosas. E ser corajosa não é não ter medo. Ser corajosa é ir com medo e tudo. É saber que se tem medo, sem inventar desculpas e sem se fazer de conta que não se tem, e olhar o medo de frente. Nos olhos. Quando olhamos os nossos medos nos olhos e quando falamos deles, eles começam a encolher, a ficar mais pequenos. Nunca tomem decisões porque têm medo. Tomem porque a decisão que tomaram é aquela que pensam que é melhor para vós, no sentido da retidão e da felicidade. Não decidam ir para a esquerda porque têm medo de ir para a direita. Se decidirem ir para a esquerda é porque vos parece que esse é o melhor caminho. O medo é o pior dos conselheiros. Não se esqueçam disso.

15. Lembre-se que errar faz parte da vida. Que crescer dói. Que cair também é uma boa forma de nos aprendermos a levantar. E de todas as vezes que há um fim, vai haver um recomeço. Lembrem-se que depois da noite, o sol vai sempre nascer radioso por mais horrível que a noite tenha sido. Lembrem-se que é esta certeza de que tudo pode ser diferente para melhor que nos ajuda a levantar da cama quando estamos exaustas. Quando nos apetece desistir de qualquer coisa. A esperança no coração é o combustível mais importante que podemos ter. É o que põe os nossos mundos interiores a funcionar. Nunca se esqueçam desta palavra: esperança. Tem que ser o vosso nome do meio. Esperança e amor.

16. Sejam sempre vocês próprias. Com tudo o que isso implica. Procurando fazer o melhor que são capazes com o que têm. Procurando ser o mais felizes possível com o que têm. Procurando tirar da vida tudo o que ela tem de maravilhoso. Tenham muita compaixão pelos outros, muito respeito por aqueles que não são nem tão saudáveis, nem tão inteligentes, nem tão bonitos ou não tão outra coisa qualquer. Estes qualificativos nem deviam de existir entre pessoas. Sejam sempre boas meninas até aos 100 anos. 

17. Não deixem de tentar mudar o mundo, mas não permitam que o mundo vos mude. Sejam sempre fiéis a vocês próprias e aos vossos princípios. 

18. Quando precisarem, peçam ajuda. Não se preocupem com a opinião ou com o julgamento dos outros. Pedir ajuda também é um sinal de inteligência. Não somos nem devemos ser fortes o tempo todo. Não são super mulheres e dar conta das fragilidades é muito importante. Aceitar o nosso lado mais sensível, mais fraco, mais carente, é um sinal de grande maturidade. O ser humano é a dualidade em pessoa. E esta é uma questão incontornável. Temos que saber aceitar todas as partes que nos constituem. A nossa luz e o nosso lado mais sombra. As nossas qualidades e os nossos defeitos. As nossas forças e as nossas fragilidades. E quando não somos capazes de alguma coisa, não ter nenhum problema em pedir ajuda.  A ajuda serve para ser pedida. Sem medos e sem vergonhas. 

19. E por fim, não esquecer que eu estou convosco sempre, incondicionalmente. Aconteça o que acontecer. Se o mundo cair eu cá estarei de pé para vos apoiar. O meu amor por vós não tem tamanho nem medida. 

E tudo isto é o que tenho de mais precioso para vos ensinar. Também eu continuo a aprender a fazer estas estas coisas todas. O melhor que sou capaz. Por mim própria, pela minha alma, mas também porque quero que se sintam orgulhosas de mim. Quando ainda estavam no céu, escolheram-me para vossa mãe. Espero ter honrado essa vossa escolha. Espero continuar a honrar essa escolha para sempre.
By Magdala Gabriel

Comentários

  1. Aplaudo com amor e muito respeito! Esta reflexão é brilhante! Muitos Parabéns

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