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Amor

Hoje apetece-me falar sobre o amor entre duas pessoas. O chamado amor romântico, para diferenciar do amor universal ou de outra espécie qualquer de amor. É verdade, o amor sendo tão universal pode ser aplicado a tudo e a todos. Tenho vontade de escrever sobre este género de amor. Também tem que ser incondicional ou não é verdadeiramente amor. Pode ser paixão, atração, amizade colorida ou outra coisa qualquer que agora não me consigo lembrar. Mas também não importa. Importa é frisar que esta qualidade de amor também tem que ser incondicional. Como a própria palavra indica, amor incondicional é amor sem condições. Sem “se’s”, sem “mas”, sem medo. Sim, é difícil. Muito difícil. Talvez porque temos muito medo de não sermos correspondidos. Medo de sermos rejeitados. Medo de não nos aceitarem como somos e apesar do que somos. Medo de não sermos suficientemente interessantes para merecermos o amor do outro. A nossa cabeça embrulha e racionaliza um conjunto de medos e de questões que às vezes mata o próprio amor. Enreda, enrola e cria nós e laços apertados por todo o lado. Graças a Deus que o amor está no coração e não na cabeça. Ela já faz estragos que cheguem. A cabeça julga, racionaliza, culpa, quer colocar à sua medida, interpreta o comportamento do outro, pesa e mede o amor do outro. Resumindo, no que diz respeito a este tipo de amor, a cabeça só faz asneiras. Umas atrás das outras. Isto porque liga o complicómetro e desata a ter medo. O medo e o amor são incompatíveis. O medo estraga o amor. E se não o estraga totalmente, prende-o, condiciona-o, quer transformá-lo num cinto de segurança em vez de lhe dar liberdade. Portanto, primeira lição: manter a cabeça no seu lugar quando falamos de amor, quando o sentimos e o vivenciamos a dois. Manter a cabeça e a racionalidade o mais sossegadinhas possível. Quietas. Atentas, observadoras, aprendentes e disponíveis mas não executivas. 

Quem deve comandar as tropas neste tipo de relação amorosa é o nosso coração. Muitas vezes fala-se do coração como se ele fosse um leviano irreverente que não tem ponta de juízo. Desenganem-se. O nosso coração é mil vezes mais inteligente e sábio do que a nossa cabeça e racionalidade. Em primeiro lugar, é lá que mora Deus. Só pode ser um lugar sagrado e importante. Depois, no nosso coração, está a nossa essência, a nossa verdade, a nossa força de vida e energia. Tudo de bom que temos está no nosso coração. O nosso mundo de afetos, emoções, intuições e sabedoria profunda, divina e espiritual está no nosso coração. Deve ser por isso que temos um medo dele que nos pelamos. Sabemos que estão lá muitas coisas importantes e fortes mas não sabemos o quê. E o desconhecido dá-nos medo.


Não fomos educados a sentir. Fomos educados para pensar, racionalizar, encontrar a lógica. Esquecemo-nos de aprender a sentir, a intuir, a ouvir a voz de Deus, que é como quem diz, de ouvir o coração.

O coração é muito mais simples do que à partida pode parecer. Se deixarmos fluir e confiarmos no seu juízo e na sua direção, dá sempre bom resultado. Claro que o bom resultado também pode fazer doer. Claro que por vezes, um bom resultado é uma lição bem aprendida. Mas esse também é o propósito de tantas e tantas coisas que nos acontecem. Também é propósitos dos amores (para além de sermos felizes, claro).

Pode acontecer apaixonarmo-nos pela pessoa que, à partida, parece errada (aqui está o julgamento). O contexto não é o certo, as circunstâncias e mais uma infinidade de coisas que, se usarmos a cabeça, atalhamos logo o mal pela raiz. Bom resultado improvável ou até impossível, parece-nos. E dizemos para os nossos botões:

-“A questão não é se vou ou não partir o coração. A questão é quando vou partir o coração. Mais tarde ou mais cedo vai acontecer. É melhor desistir enquanto é tempo, enquanto ainda pode não doer assim tanto a rachadela.”

Para se amar à séria é também preciso ter-se muita coragem. A coragem de fazermos frente à nossa própria racionalidade e a coragem de encararmos os nossos medos nos olhos. E ainda a coragem de ouvirmos o nosso coração e de termos fé. Fé incondicional tal como deve ser o amor. Neste caso, ter fé é acreditarmos em nós. Amarmo-nos também a nós próprios como deve de ser, com o pacote todo. Sem medo e sem exigência. Como podemos ter fé no outro, acreditar que podemos ser amados incondicionalmente se nós próprios não somos capazes de o fazer? Se não nos amamos? Que culpa tem o outro disso? E ter fé no outro é ser capaz de lhe dar o tempo e o espaço, e o que for necessário, para que ambos os corações se encontrem. Em par e sem reservas. Ter fé no outro é ser-se capaz de acreditar que o outro nos ama, pelo que somos e apesar do que somos. Respeitando a sua forma de amar que pode ser diametralmente diferente da nossa. Com outra linguagem, com outro gesto. Com outra expressão. Amar é receber sem juízo de valor o que o outro é capaz de nos oferecer mesmo quando não entendemos. Mesmo quando é diferente das nossas oferendas. As diferenças deverão ser sempre pontos de aprofundamento das relações. Pontos de atração e nunca de afastamento. As diferenças deverão ser forças de complementaridade. Se eu só for capaz de amar o que é igual a mim, que pobreza! Não consigo evoluir, ver mais além, abrir horizontes. Sempre que eu integro diferenças, a minha alma cresce. Fico uma pessoa mais rica e mais iluminada.

Um amor grande e bonito deve fluir naturalmente. É como as águas de um rio, sempre encontram o caminho para o mar. Se tivermos a coragem de permitir, o amor sempre encontra o seu caminho, a sua foz. Não vale a pena criar barreiras nem barragens. Ou perdemos tempo ou esborrachamos o coração. É melhor deixar seguir o seu curso mesmo quando não sabemos por onde vai. Também é preciso ter coragem para o deixar seguir o seu rumo, e irmos com ele, sem sabermos para onde, nem como. É deixar fluir sem amarras. Sem correntes, sem regras nem condicionantes. Se não podermos fazer melhor, é deixar sentir e crescer no peito e pronto. Acreditar no que o nosso coração nos impele a fazer. A amar com muita força, independentemente de tudo.

O amor é um pássaro livre. Amor e liberdade. Indissociáveis. Se não houver liberdade, não há amor. Há domínio, há cobrança, há condições, repressão e anulações, mas não há amor. O amor livre também carece de muita coragem e de muita fé. Não é para qualquer um. A coragem é uma virtude rara. Principalmente a que tem a ver com as coisas dos corações e dos sentimentos. Conheço pessoas muito corajosas e admiráveis para a vida que, em simultâneo, são tão pouco corajosas para os assuntos do coração. Para assumir e falar de sentimentos e de amores. Parece que falar de amor e de sentimentos é um segredo de estado! Têm a ideia que se fragilizam frente ao outro. E não é nada verdade. Como sempre digo, mais forte é quem é capaz de enfrentar os seus medos e receios mais íntimos e é capaz de assumir e falar claramente no que sente. Sem mais nada. Simplesmente. Sem cartadas na manga, sem segundos sentidos nem intenções, sem expectativas e sem planeamentos. Falar apenas. Dar expressão ao se passa no coração. Não será que o outro, objeto de tão grande amor, não gostará de saber que é amado? Quem não gosta de saber que é amado?! Ainda não conheci ninguém que não gostasse. E acho que não vou conhecer.

Também me parece que uma outra das palavras de ordem será a dádiva. Nem que seja apenas a dádiva do sentimento. Do "eu" para o "tu". Por vezes o amor não se pode consubstanciar de outra forma. Mas pode ter a sua expressão na dádiva. No oferecer ao outro, fazendo-o sentir o que vai no nosso peito. É muito bonito. As coisas verdadeiramente bonitas são habitualmente muito simples e muito frontais. E quando amamos verdadeiramente, dizer "amo-te" deverá ser uma linda oferenda que somos capazes de oferecer a quem amamos. O mais simples e o mais precioso do nosso coração. O nosso amor pertence a quem amamos. Não é só nosso. Haveria de haver um decreto que obrigasse as pessoas que amam a dizê-lo, pelos menos 2 vezes por dia. A malta andaria muito mais animada e feliz. Tenho a certeza. Uns tinham combatido os seus medos mais profundos e os outros andavam com a sua auto-estima nos píncaros. Sentir-se amado é o maior dos organizadores pessoais. Sentir a felicidade de fazer os outros felizes é um dos maiores organizadores da alma.

O amor de verdade nunca é em excesso. Sempre se encontra por onde o distribuir, por onde o guardar, por onde o oferecer. O amor é uma maravilha. É a essência de Deus. E tal como Deus, o nome do amor nunca, mas nunca deve ser prenunciado ou utilizado em vão.

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