E se uma gota fosse um mundo?
E se um mundo fosse uma gota?
Assim são as pessoas. Pequeninas como gotas e imensas como mundos! Tudo depende do ponto de vista. Da forma como nos posicionamos. Do ponto de onde estamos a olhar. É a tal história de tudo ser relativo. A relatividade não é apenas uma teoria da física. É talvez um dos maiores pilares da sabedoria. Tudo depende dos olhos com que olhamos para as coisas, para as pessoas e para as situações. Faz-nos sair das nossas "verdades" tão absolutas e tão infalíveis! A relatividade é um lembretes que deveremos ter sempre à mão quando nos atrevemos a fazer juízos de valor, a resolver os problemas dos outros, do país e do mundo. Normalmente à mesa de jantar conseguimos fazer isto tudo! Esquecemo-nos de relativizar as coisas. Num mesmo ponto, cruzam-se uma infinidade de linha retas. Para uma mesma situação podem existir tantos olhares e tantas formas de interpretar. Nunca esquecer que quando estamos a ajuizar a vida dos outros, temos uma tendência de o fazer com as nossas circunstâncias, com as nossas capacidades e com os nossos recursos. É tão fácil resolver a vidinha das outras pessoas. Quando ajuizamos a vida dos outros deveremos ter a humildade profunda de o fazer pensando nas circunstâncias, recursos e capacidades do outro. Quantas vezes, se formos verdadeiramente honestos neste exercício, descobrimos que faríamos bem pior. Nem seríamos capazes de fazer metade!!! Como os outros são lições de vida! Afinal, também nós somos gotinhas neste mar de gente que povoa a nossa zona de influencia. E toda a gente é um mundo. Como se pode ver, tudo é relativo.
Mesmo no que diz respeito a nós próprios, virando os olhos para dentro, a certezas absolutas que temos hoje podem e devem ser relativizadas. Não nos aconteceu já no passado estarmos plenamente convencidos de algo e hoje em dia nem conseguimos perceber como fomos capazes de pensar assim ou assado ou de fazer isto ou aquilo...mais uma vez, tudo é relativo. Ter uma mente aberta, flexível e livre quer essencialmente dizer que somos capazes de relativizar. Sobre o que está dentro de nós e sobre o que está fora. Sobre que tem a ver connosco, com outros e com o mundo. Em nenhum momento da minha vida me esqueço que, se Deus assim o entender, hei-de chegar a velhinha. Também nessa altura, toda força, toda a destreza, toda a rapidez de pensamento, todas as competências e todas as capacidades sofrerão alterações. Nenhum de nós faz ideia de como será quando for velhinho(a). Também aquilo que hoje damos como adquirido, é relativo. E efémero. Todos os caminhos nos apontam para a relatividade e para a necessidade de aprendermos a viver o momento, o dia de hoje. Como se fossemos eternos e, em simultâneo, como se não houvesse amanhã. Equilíbrio difícil, não é?
Com a relatividade, a par, caminham o desprendimento, o desapego e a coragem. Sim a coragem também cá anda. Pois o facto de sermos capazes de relativizar as coisas ajuda-nos a não ter medo. Se não temos medo, temos coragem. Às vezes encaramos certos cenários como se fossem o fim do mundo. Ou pelo menos o fim do nosso mundo. Se formos capazes de sair da dor da própria situação, depois de pacificarmos, de a olharmos o como se estivéssemos fora dela, isto é, se relativizarmos, entendemos que por mais que assim se pense, o mundo não acaba. Nunca acaba. Não há fim do mundo. Nem quando morremos. Nem quando morrem as pessoas que nós tanto amamos. Também a morte é sempre um princípio. E na vida, por mais difícil que pareça, há sempre uma solução, há sempre um caminho. Ou há um fechar de ciclo para se iniciar de outro. A vida é como a água, sempre encontra um caminho, por mais escondido, tortuoso, doloroso, difícil que seja.
Enquanto estamos em sofrimento, a sentir a dor, em stress, não somos capazes de ver caminho nenhum. Somos todos assim. A única coisa que conseguimos ver são as nossas dores. Em pensamento circular. E com a dor que se alimenta si própria. Quando choramos, fechamos os olhos, os ouvidos e o pensamento. Só descarregamos o coração. Daí que seja importante chorar como se de facto fosse o fim do mundo. Até descarregar. Até lavar a alma. Até não haver mais lágrimas. Depois é voltar a erguer o peito para a vida, enxugar os olhos, voltar a abri-los, voltar a escutar, e voltar a desbloquear o pensamento. Depois ainda, já em paz (e afinal percebemos que o mundo não acabou mesmo), já somos capazes de começar a vislumbrar o caminho. Tal como a água. O engraçado é que, na maior parte das vezes, os caminhos já lá estavam. As brechas já existiam. As janelas já estavam abertas. Umas vezes só uma nesgazinha e outras vezes, escancaradas. Mas enquanto estamos a ter pena de nós próprios, a viver o fim do mundo e a chorar a coisa, não somos capazes de ver, ouvir, pensar e sentir de outra forma. De ver os planos que a vida tem para nós. Somos todos assim. Faz parte da nossa condição. Mas esta consciência ajuda-nos a lidar com o fim do mundo. Ajuda-nos a pensar que se calhar, para além do fim do mundo, existem outros mundos a seguir, ou paralelos (que nunca reparamos) e que são maravilhosos. Ou apenas diferentes. E tantas, tantas experiências conseguimos recolher de tantos mundos. E aprender. E sermos melhores pessoas. Portanto, tudo começa em experimentar umas gotinhas de relatividade, não é?
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