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Mea Culpa

Estava aqui a pensar em como é fácil perder-se a noção das prioridades, da hierarquia das coisas, da importância e do valor. De repente, na primeira contrariedade, tudo se mistura e uma farpazinha num dedo transforma-se numa calamidade física. É tão fácil perdermos a perspetiva e o foco. De repente, já não sabemos para que lado andamos. Aconselho sempre ver o telejornal para que as nossas maçadas se coloquem no devido lugar. Tanta energia que gastamos a preocuparmo-nos com coisas que nem ainda aconteceram, com o futuro e com todos os " e ses" do nosso mundinho pequenino e ridículo. Se olharmos para o que se passa no mundo, com outros iguaizinhos a nós, passa-nos logo a vontade de termos pena de nós próprios e de termos medo de nada e de tudo, principalmente do que não aconteceu. As desgraças que estão a acontecer não podem ser vistas como quem vê um anúncio na TV. Já que infelizmente aconteceram, já agora, vale a pena mostrarmos um bocadinho de respeito e de solidariedade com aquelas pessoas que perderam tudo. E este respeito também se mostra ao reduzirmos os nossos problemas à sua devida insignificância. Continuamos com saúde, com casa, com comida, com roupa, com companhia, com tudo o tivemos até agora. Às vezes perdemos um bocado do nosso orgulho ou a razão. Ou baixamos a crista, ou outra coisa qualquer do género. Tantos outros, espalhados pelo mundo em que a única coisa que não perderam foi a alma. De resto foi-se tudo e com muito sofrimento, com muita desgraça e com muito medo à mistura. No entanto, ficaram com a única parte de si próprios que vale alguma coisa, com o que é eterno, com o que se vai voltar para o Pai. Afinal, aqueles que tanto sofrem pelo mundo, têm o mais importante. E nós, que mantemos tudo, não ligamos nenhuma ao que verdadeiramente importa. A alma. 
Caramba, andamos com as prioridades tão do avesso...poupamos na farinha para gastarmos em farelo. Investimos em quem nos faz mal e partimos do princípio que quem nos faz bem é uma fonte inesgotável de energia, de amor. A chatice é que as fontes inesgotáveis também se esgotam. Se não as tratarem bem, haverá um dia em que deixam de correr. Correr para quê? Correr para onde? Até o inesgotável gosta de ser tratado como se assim não fosse. Não apreciamos o que temos até o perdermos, diz-se por aí. E não é que pode ser verdade? Um dia, quando se deixa de ter saúde num dedo mindinho é que se percebe a falta que este dedinho fazia!  Um dia, depois de descobrirmos que as pessoas não se tiram nem se põem numa prateleira em função da nossas necessidades, é que vão ser elas! Afinal, quem nos dera nem ter tido prateleiras, assim não se corria o risco de colocar lá alguém. E não se corria o risco de tratar o importante como supérfluo. É verdade, a disponibilidade e os braços sempre abertos, por vezes, têm um preço muito alto. Ganhamos muitas cãibras. Ficamos com muito espaço para preencher. E o espaço vazio é muito feio. É estéril. 
Daí que me parece que vale a pena, de uma vez por todas, olharmos as coisas como elas são. E investirmos no que vale realmente a pena. Eu faço regularmente um exercício que me é muito útil. Pergunto a mim própria se hoje fosse o meu último dia de vida, o que é que tinha ficado por fazer e por dizer? (Claro que me centro apenas no que depende exclusivamente da minha vontade e da minha força anímica). E este exercício ajuda-me a investir mais naquilo que importa e a não gastar nervos com tricas e tretas. Vale a pena percebermos seriamente que não temos o dia de amanhã. Que a qualquer momento podemos ir para o outro lado. Então se isto é uma certeza inquestionável, porque não viver em conformidade? Porque não enraizarmos naquilo que é mais significativo para o nosso coração e para a nossa alma? Será que não vale a pena? A mim parece-me que vale muito a pena. Pelo caminho, vale ainda a pena dar Graças a Deus por tudo aquilo que temos em vez de nos queixarmos o tempo todo das desgraças que nem nos passam ao lado. 

Mea culpa mas em aprendizagem...

Comentários

  1. Muito bom, só não gostei da parte de ser o ultimo dia, não podem ser 2 dias e poder fazer mais coisas :-)

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  2. Viver é uma constante aprendizagem. E, de facto, há que compreender o que é superficial e o que não é. E devemos compreender o que nos tira esse discernimento tantas vezes. Beijinhos

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