Apetece-me escrever sobre um planeta que fica numa outra dimensão qualquer. Deve ser o meu planeta de origem. Diferente deste onde vivo. Sinto-me tantas vezes uma ET que me parece que devo mesmo vir de outro planeta. Conheço mais gente assim (muito pouquinha, só uns exemplares raríssimos). Se calhar viemos numa fornada qualquer e, por engano, caímos de para-quedas nas nossas famílias. Esta é uma suposição que cada vez me faz mais sentido. É que explica muita coisa. E se este planeta se chamasse o Planeta das Tolas ainda mais coisas explicava. É assim que me sinto neste momento. Uma tola. E as tolas costumam ter um coração cheio de cicatrizes e uma cabeça cheia de interrogações. Não entendem muitos dos registos das outras pessoas. Não entendem as suas formas de relacionamento, de comportamento. Não entendem aquelas coisas de só se pensar no seu próprio umbigo sem se pensar nos umbigos dos outros. Não entendem as relações unívocas em que só se recebe e não se retribuí nada.
No Planeta das Tolas, as pessoas preocupam-se umas com as outras. Querem saber. Não pensam só em si próprias. O que falam é o que verdadeiramente pensam e não têm jeito nenhum para segundos sentidos nem para conversas veladas. Quando as Tolas gostam de alguém, não sacodem as pessoas, não entram em hibernação nem ficam em estado de refrigeração. São transparentes naquilo que sentem e naquilo que dizem. Quando deixam de gostar, vão à sua vida sem abandono, sem ferir, sem desculpas esfarrapadas. São honestas. As Tolas são sensíveis e transparentes. Por isso é que são de outro Planeta. Neste onde vivemos, são uns bichos esquisitos que quase ninguém compreende. A sorte é que o mundo não sabe que as Tolas são ET's. Se soubesse, fechava-as assim nalgum laboratório para estudo. Assim, aparentam ser apenas umas patetas ou tolinhas com a mania que o mundo é cor de rosa. As Tolas sabem que o mundo não é cor de rosa. Mas procuram fazer o melhor que sabem para que assim seja. As Tolas teimam em não querer estar centradas naquilo que os outros têm de pior. Procuram o que há de melhor. Procuram a luz em vez da escuridão. Gostam de simplicidade em vez de intrincados complexos. Neste mundo parece que ser-se simples ou gostar-se de simplicidade é ter-se mau gosto ou ter-se falta de inteligência. Quem é que consegue compreender isto? Nós, as Tolas, não conseguimos. Também não conseguimos entender porque é que as pessoas se relacionam tanto connosco por necessidade, colo, conforto e outras coisas boas que lhes damos sem exigir nada em troca. Apenas precisamos que cuidem e gostem um bocadinho de nós. De forma simples, sem cobranças, sem stresses. Mas pelos vistos, isto é muito difícil. É muito fácil gostar das Tolas assim pela superfície. Estão sempre disponíveis para ajudar e para cuidar dos outros. Sabem gerir o tempo e as focalizações de forma a que haja um bocadinho do dia em que conseguem sempre lembrar-se das pessoas que amam. Sabem que amor é a coisa mais importante do universo. Mas este conhecimento é muito desconhecido pelos não tolos e as Tolas não são compreendidas. E é difícil amá-las. Parece-me que é mesmo muito difícil acreditar que as Tolas são verdadeiramente como são. Sem cartadas na manga. Sem grandes mistérios. Têm muita força de carácter, muita força de alma mas não têm segundos sentidos nem se movem a interesses. São transparentes como a água se se tiver a disponibilidade para se olhar com olhos de ver. Mas esta disponibilidade é qualquer coisa em vias de extinção no mundo dos não tolos. É tudo muito rápido e muito imediato. Já ninguém quer saber, com calma, o que se está a passar. O que é que o outro pensa ou sente. Já ninguém se coloca verdadeiramente no lugar do outro. Essa é uma capacidade que só assiste às Tolas. De tal maneira que se rebentam todas só por compreender como é difícil a vida dos outros. E passam a vida a desculpar e a deixar passar as desconsiderações e descoordenações. Sabem que as linguagens são diferentes. Que as referências são diferentes e que os não tolos não têm culpa de serem tão espertos. A chatice é que as Tolas também não têm culpa nenhuma de serem como são e de terem vindo de outro planeta. Do Planeta das Tolas. Ou, pensando melhor, do Planeta das Tolas ao Quadrado.
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