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Mensagens

A mostrar mensagens de 2017

O paradoxo do Natal

Que bom voltar a escrever! Tenho andado um pouco arredia. A controlar as emoções de outra forma. São fases, estados de alma. E se me parece que não tenho nada para acrescentar à minha alma ou à dos outros, prefiro não escrever. Se o desabafo não é boa escrita, dou conta dele de outra forma. E assim tem sido. Mas agora tenho muitos paradoxos na cabeça e apetece-me tentar alinhar as ideias desta forma, escrevendo. Esta época festiva é sempre uma época paradoxal. Já nem sei o que deva pensar sobre o assunto. Talvez seja melhor procurar sentir e deixar a cabeça um pouco de lado.  É paradoxal o facto de termos que ser e que fazer uma data de coisas por decreto. Temos que ser bons, amigos da família, solidários, serenos, amenos, amigos, fraternos, inclusivos, tolerantes e mais uma enormidade de qualidades possíveis e desejáveis no ser humano. Festeja-se a família, a paz, a harmonia. Aborrecem-me as coisas por decreto e numa época específica do calendário. E o resto ano??? Podemos pintar

Um elefante numa loja de porcelana

Apesar de ser um elefante cada vez mais pequenino e cor-de-rosa e de as lojas terem corredores mais largos, de vez em quando ainda me sinto como um elefante numa loja de porcelana. Por muito que não queira, tenho um medo desgraçado de fazer estragos. Como a porcelana é muito sensível e eu sou pouco delicada, a coisa pode não correr lá muito bem. Por isso, procuro observar as montras das lojas de porcelana, espreitar lá para dentro, apreciar a beleza e a delicadeza das peças cá de fora, sem que tenha muita possibilidade de fazer estragos. Para se pegar em porcelana ou para simplesmente passar por ela numa atitude apreciativa é preciso que a porcelana esteja preparada para ser pegada ou apreciada. E por vezes, eu, elefante cor-de-rosa, esqueço-me disso. E pronto, entro loja adentro como se não houvesse amanhã. Só depois é que penso que poderia ter feito estragos...e uma peça partida, mesmo que se volte a colar, nunca mais fica na mesma. Fica colada. Mas não fica no seu estado origina

Debaixo da pele

Debaixo da minha pele há mar. Só pode haver mar.  Não existe outro elemento. Debaixo da pele tenho a serenidade azul e transparente de quem encontrou o sentido da vida. Debaixo da pele tenho a fúria das marés que se levanta quando o caminho se torna tortuoso, sinuoso e recôndito. Debaixo da pele tenho a liberdade das ondas e a espuma dos dias. Tenho redemoinhos e correntes. Frias ou quentes. Nunca mornas. Debaixo da pele tenho uma imensidão redonda, sem princípio nem fim. T enho a profundidade dos oceanos e a linha do horizonte. Tenho crateras profundas, rasgadas da crosta e tenho recifes de corais a perder de vista.  Debaixo da pele tenho as salinas de onde as lágrimas se deitaram. Tenho a força dos moinhos de maré que trituram as amarguras semeadas pela vida.  Debaixo da pele tenho guelras que me deixam respirar quando não consigo manter-me à tona da água. Tenho uma carapaça de escamas que não deixa os arpões espetarem. Tenho as cores dos raios de sol que se decompõem n

Andar sobre o fogo

Hoje tive uma conversa que me fez começar a borbulhar. O meu cérebro e o meu coração ligam as turbinas e desatam a produzir umas bolhas de qualquer coisa que têm que saltar cá para fora. E tudo começou com um "cair de ficha", como costumo dizer. De repente, cai-nos uma ficha e descobrimos qualquer coisa que sempre esteve à frente dos olhos e nunca tínhamos conseguido ver. Ou descobrimos uma coisa nova que faz todo o sentido na nossa vida. Ou que tem a ver com o próprio sentido da nossa vida. Estas quedas de ficha também me acontecem de vez em quando. Hoje em dia, as minhas fichas caem muito mais facilmente, sem muito esforço, e sem ser necessário montanhas de sofrimento. Houve muitas aprendizagens e descobertas que fiz, no passado, a toque de caixa. Com muita dor. Com muito coração partido. Com muitas lágrimas. Hoje em dia, parece que sou melhor aluna e as descobertas já não doem tanto. Já são mais fáceis. Quando conseguimos entender que o sentido da nossa vida passa muito p

O Planeta das Tolas

Apetece-me escrever sobre um planeta que fica numa outra dimensão qualquer. Deve ser o meu planeta de origem. Diferente deste onde vivo. Sinto-me tantas vezes uma ET que me parece que devo mesmo vir de outro planeta. Conheço mais gente assim (muito pouquinha, só uns exemplares raríssimos). Se calhar viemos numa fornada qualquer e, por engano, caímos de para-quedas nas nossas famílias. Esta é uma suposição que cada vez me faz mais sentido. É que explica muita coisa. E se este planeta se chamasse o Planeta das Tolas ainda mais coisas explicava. É assim que me sinto neste momento. Uma tola. E as tolas costumam ter um coração cheio de cicatrizes e uma cabeça cheia de interrogações. Não entendem muitos dos registos das outras pessoas. Não entendem as suas formas de relacionamento, de comportamento. Não entendem aquelas coisas de só se pensar no seu próprio umbigo sem se pensar nos umbigos dos outros. Não entendem as relações unívocas em que só se recebe e não se retribuí nada. No Plane

Uma palavra muito feia

Procrastinar. Hoje vou escrever sobre esta arte de “(…) deixar para depois; fazer mais tarde, adiar, etc.” Que palavra feia! Parece um palavrão daqueles bem cabeludos! Um verdadeiro palavrão, ao ser dito, normalmente causa alívio a quem o diz. De vez em quando sai-me um pela boca fora e faz-me um bem desgraçado. Baixa-me a pressão e deita-me água na fervura. Funciona assim como um calmante em modo de SOS. Agora esta palavra feia – procrastinar – tem exatamente o efeito contrário em quem a usa. Carrega a pressão, aumenta o stress, a ansiedade e o sofrimento. Também tem um significado muito impostor: parece que causa algum alívio momentâneo quando deixamos para depois qualquer coisa que nos chateia. Mas esse alívio é mesmo momentâneo. É como quem pára a ganhar balanço para depois se atirar contra a parede com muito mais força, fazendo muito mais estrago. Já entraremos por esta questão adentro.  Hoje falei com alguém (muito importante e que mora no meu coração) que anda com esta

Pesos e medidas

Hoje tenho estado a pensar sobre as medidas da importância. Como é que se pode medir o quanto nos importamos com os outros ou o quanto os outros se importam connosco. Cada um de nós tem o seu peso e a sua medida. Porque não existe uma medida universal para algo tão importante na nossa vida? Não entendo. Existe formas de medir a tendência para o mais infinito e para o menos infinito - que ninguém sabe exatamente o que isso é - e não se mede o quanto somos significantes uns para os outros. Pelos vistos não se consegue encontrar, de forma tangível, a área que ocupamos nos outros corações. O peso que temos na vida desta ou daquela pessoa. Ou a distância que nos separa e aproxima. Nem a velocidade com que nos encontramos. Nem a profundidade com que sentimos. Não sabemos ponta do quanto, de forma palpável, contamos para a felicidade dos outros. Ou que diferença fazemos nas suas vidas. Ou se lhes dividimos as tristezas, pomos em comum os gostos e multiplicamos as alegrias e os sorrisos. Pare

As minhas janeiras

Queria que o Ano Novo cheirasse a morangos. E que fosse macio como as nuvens. E que fosse quentinho como o entardecer de junho. Queria que o Ano Novo fosse sereno e ternurento. Queria que me matasse a sede de calmaria. Queria que fosse um caminho largo e reto, sem curvas. Queria que o Ano Novo soubesse a mar, salpicado a flor de sal. Queria que me matasse a fome de vida. E que me lavasse as mágoas, cruas. Queria que o Ano Novo fosse recém-nascido. E que viesse apenas com a Graça que Deus lhe deu.  E que trouxesse duas estrelas do Céu.  Todos os recém nascidos trazem duas estrelas, uma em cada olho pestanudo. Uma ilumina o dia e a outra ilumina a noite. É o bastante. Queria que o Ano Novo fosse uma cama de rede.  Onde o nanar tem um efeito reparador. E a alma descansa, serena. Queria que o Ano Novo fosse um copo de pé alto. Com dois dedos de bom vinho tinto. Saboreado calma e intensamente, na melhor das companhias.  Queria que o Ano Novo tivesse a pureza e a lib

A sorte não existe

Estou a ouvir uma música que gosto muito e cujo refrão é assim do género "...deixa-te ficar na minha casa, há janelas que tu não abriste...ainda tens que me dizer porque é que nunca partiste...". Estes bocadinhos de refrão resumem a coisa. É difícil deixar partir quem foi muito significante na nossa casa, isto é, no nosso coração. E por mais que se salte de grande amor para fora, se a coisa não ficar bem resolvida, não descola, não desanda. Fica presa ao coração de uma forma viscosa, peganhenta e não há forma de arrancar. Vale a pena pensar nisto. Para se sair de um grande amor, ou se sai à força porque é o amor que sai de nós, da nossa casa, ou é melhor pensar bem sobre o assunto. Tudo tem o seu tempo e o seu momento certo. Claro que por motivos de personalidade, esta é uma das minhas maiores dificuldades: perceber o tempo certo das coisas e das pessoas. É uma aprendizagem diária. E os amores também têm um tempo certo para tudo. Até para serem arrancados do peito. E, mesm