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As lâmpadas do Céu

Existem coisas difíceis de conjugar na nossa vida. Principalmente para quem acredita num mundo espiritual muito mais rico e extenso do que este que conhecemos com os nossos 5 sentidos. Conjugar o nosso bem-estar terreno com o bem supremo da nossa alma é uma coisa bastante complicada. É de ir à lágrima. Também tem dias de uma alegria inexplicável. De uma paz quase surreal. Caminhar para o bem supremo da nossa alma é uma caminhada que se faz com os pés descalços, calcando cada pedrinha que nos aparece no caminho. Os pés ficam cheios de feridas e às vezes já não nos apetece caminhar mais. Apetece desistir e pronto. Apetece calçar umas pantufas muito fofinhas daquelas que nos fazem andar nas nuvens. Mas quando me dão essas vontades (vezes demais para o meu gosto…) vou de joelhos. Tento arrastar-me. Mesmo sangrando. Se sangro é porque não consigo aceitar o que a minha alma necessita para evoluir. Ou então estou a experienciar as consequências das escolhas menos boas que fiz. Tudo para aprender. A questão é que ainda não consigo aprender serenamente todas as lições que a vida me quer ensinar. Ainda esperneio muito. Ainda me enfureço de vez em quando. Ou tenho pena de mim própria o que também é um sentimento pouco nobre. Mas lá vou levando o dia-a-dia da forma possível tentando fazer sempre o que o Céu me indica como melhor. Cá na minha maneira muito particular de escutar o Céu, lá vou dando um passo atrás do outro. E o que interessa é que vou conseguindo. Não é com pantufas fofinhas mas é com a ajuda dos anjos que me aliviam o peso do meu próprio corpo. E o caminhar lá fica mais leve. Eu até gostaria de refilar mais um bocadinho mas não posso. Sei que foi a minha alma que escolheu este caminho. Antes de nascer, a malta combina lá no Céu aquilo que tem que passar, o que tem que experimentar para poder evoluir como alma. E eu (com o meu feitio) devo ter escolhido aprender uma data de coisas de uma assentada só. Devo ter feito uma lista que me permitisse tratar de um montão de assuntos de uma só vez. Para não passar a vida a andar para trás e para a frente de reencarnação em reencarnação. Sabendo disto, como é que a pessoa vai refilar muito e soltar os cavalos maldizendo os tropeções do caminho? Não pode, tem que agradecer bem do fundo do seu coração. Saber das coisas nem sempre traz felicidade. Normalmente traz tristeza e chatices. A ignorância é uma senhora muito feliz! Não se aborrece com nadinha na vida. Tanto se lhe faz como se lhe fez. Saber-se qualquer coisita já traz uma grande responsabilidade. A responsabilidade, em primeira instância, de salvarmos a nossa alma. De aprendermos, de evoluirmos, de nos tornarmos cada vez melhores pessoas e enriquecer a alma com a luz da bondade que vamos conquistando e amealhando no coração. E não vale a pena querer fazer alguma coisa pelos outros antes de começarmos a fazer primeiro por nós próprios. E não, não se trata nada de egoísmo, pelo contrário. Só podemos dar o que temos. Só podemos amparar o que somos capazes de compreender. Só ajudamos a levantar alguém se tivermos força para nos sustermos de pé. Se não formos primeiro cá dentro não conseguimos ser para os outros. Ou então somos de uma forma parasitante. Ajudamos os outros para nos alimentarmos de agradecimentos e de reconhecimentos. Aconchegamos os nossos vazios com a ilusão do que vem de fora para dentro. Coisas um bocadinho complexas. Mas pronto, o ser humano é infinitamente complexo e infinitamente simples dependendo da perspetiva com que se olha. Na minha estranha forma de saber das coisas, sei que o mundo espiritual é muito simples. O Céu é muito simples embora profundo e extenso. Embora cirurgicamente justo, verdadeiro, generoso e livre. A liberdade que o Céu dá por vezes até me assusta. Este poder que tenho nas mãos de escolher o que me der na bolha é altamente assustador…e se a minha bolha se avariar? E eu só escolher fazer asneirada para a minha alma? O Céu deixa. Antes não deixasse. Antes não me desse assim tanta liberdade. Mas é assim mesmo. O respeito pelo ser humano e pelo seu livre arbítrio são sagrados para o Céu. Ninguém tem autorização para mexer no livre-arbítrio de cada um. E como sempre costumo dizer, o maior medo que tenho é de mim própria. De não saber escolher bem as sementeiras. De não saber honrar a confiança que a minha alma depositou em mim quando combinou que eu viria para cá nesta vida aprender o abecedário de A a Z, custasse o que custasse. E limpar uns carmazitos pelo caminho. A minha sorte é que o nosso Pai, na sua infinita generosidade, deixa-nos experimentar o que combinamos mas, pelo sim pelo não, manda-nos umas ajudas suplementares para aguentarmos o trajeto. E o Pai tem sido muito generoso comigo. Tão generoso que por vezes até me sinto mal comigo própria por não conseguir andar mais feliz e alegre. Na sua generosidade, o Pai tem-me capacitado com aquilo que eu nem sonhava poder existir. Tem-me rodeado do que eu necessito. Tem-me dado a força e a presença de espírito que me fazem falta para seguir o tal caminho sem bússola. Tem-me dado o conhecimento e a forma de o colocar em prática para o meu bem e para o bem dos outros. Por vezes receio não conseguir corresponder a tanta confiança que me foi depositada. O que me consola e o que me afasta o medo é ter a certeza de que a paciência do nosso Pai é infinita. E que Ele acredita sempre em nós mesmo quando nós temos todas as dúvidas do mundo. A generosidade é, sem dúvida, mãe da força. A generosidade do Céu é assim como um GPS que nos indica qual a próxima etapa. Ajuda-nos a caminhar até lá, com amparo, mesmo quando os pés doem muito. Todas as dores que temos nos pés são descontadas na alma. A matemática do Céu também é muito simples. Também cada vez mais busco a simplicidade, em todas as suas vertentes. Ou melhor, busco a simplicidade em todas as vertentes da minha vida. A simplicidade é sempre fonte de amor. Cá para mim, o amor é a partícula original de onde salta todo o universo. Simples, como só o amor sabe ser. Nós, na nossa dimensão humana, é que temos a mania de o complicar. Se não fosse a simplicidade do infinito amor do nosso Pai, onde estaria eu? Talvez refastelada no sofá, sem bolhas nos pés e com uns joelhos bonitos. Mas oca, vazia e com a alma chorosa. Tenho a certeza que cada lágrima que me sai dos olhos é menos uma que a minha alma chora. E quanto menos chora, mais brilha. E essa é essência da coisa: tornar a nossa alma tão brilhante que quando voltar a casa vai direitinha para o sítio das lâmpadas, ajudar a encher o Céu de luz. Para sempre.

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