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Envergadura de asa

Hoje gostava de ser capaz de escrever uma coisa bonita. Daquelas cheias de serenidade, de esperança ou de sorrisos. Ultimamente só tenho escrito dores, saudades e tristezas. Só tenho andado virada para esse lado. Mas é o lado para onde a minha alma se virou. Existem alturas assim na nossa vida. Faz parte. Existem alturas em que a falta que temos do que nos faz tanto bem, nos deixa tristes. Eu acho que sou normalmente uma pessoa tão alegre porque sei bem dar o valor ao quanto custa a tristeza. Quando o coração anda triste, é que se sabe a importância que a alegria tem na nossa vida. A alegria ilumina a alma assim como o sol ilumina o dia. Mas nem sempre o sol está a pino, em todo o seu esplendor. Às vezes também está escondido atrás das nuvens. Também a minha alegria anda escondida. Acredito que um dia destes volta em força, como de costume. E vai voltar quando eu acertar aqui umas coisinhas na minha vida. Tenho andado a pensar sobre muitas coisas. Ando até bastante em paz apesar de triste. Apenas deixo que a tristeza ande por onde quiser sem me descabelar e sem sangrar muito. Anda mais numa de moinha. No entanto, esta moinha tira-me muitos sorrisos, muito bom humor e muita inspiração. E apetecia-me escrever palavras bonitas. Mas só consigo escrever palavras tristonhas. Se estas palavras tivessem voz, o tom seria um bocadinho sumido e sem grande harmonia. Neste momento nem a musica, que tanto adoro, me consegue alegrar. Oiço-a a toda a hora mas é como preventivo. É para não ficar ainda mais triste. Oiço daquela música própria para embalar a tristeza que é para ver se ela não fica muito acordada e ativa. A música adequada anestesia um bocadinho estas maleitas. E ajuda-me.

Estes tempos mais introspetivos também me têm ensinado umas coisas. Ensinaram-me que somos capazes de nos preparar para uma data de coisas. Quase sem darmos por isso. De repente, estamos mais desapegados, mais desligados sem que uma gota de amor tenha saído do nosso coração. Afinal é-se capaz de encontrar soluções pacificadoras cá dentro do nosso íntimo. E parece-me que quando nos preparamos para a perda é que estamos capazes de alcançar a vitória. Tenho andado a refletir muito sobre isto. Conseguimos ganhar quando nos preparamos para perder. Quando conseguimos viver apenas connosco próprios, em paz, então é que a nossa convivência com os outros é verdadeiramente sã. Ando a matutar nesta ideia. Parece que ando a aprender a amar melhor. De forma desprendida. Sem partir o coração por todo o lado. A caminhar para aquele estado do não esperar nada em troca. Eu disse a caminhar…ainda não cheguei lá. Mas estou nesse caminho de viver confortável apenas comigo própria. E tudo o que vem de fora é sempre altamente valorizado porque não se espera. Viver sem expetativas de espécie nenhuma deve ser uma maravilha. Aprender a viver o momento, o dia-a-dia, faz cada vez mais sentido e é cada vez mais gratificante. Dá tanta paz…mas ainda só estou a aprender, ainda não cheguei lá. Nem faço ideia quando é que lá vou chegar. Mas o importante é estar no caminho. Acertando-se o caminho, depois é só ir andando ao ritmo que se conseguir. 

Porque será que se aprendem tantas coisas com a tristeza? Parece que a dor ensina mais do que o bem estar…Isto aborrece-me pois é muito melhor aprender a bem, sem sofrer. E a ideia é sermos felizes, não é andarmos à traulitada connosco próprios e com os outros. Mas, na verdade, existem experiências que temos que sentir na pele para lhes podermos dar o verdadeiro valor. E ficamos muito mais compreensivos e tolerantes. Entendemos muito melhor o porquê das coisas. Existem experiências que também nos fazem olhar para nós com outros olhos. Valorizando o olhar. Descobrindo que afinal somos mais corajosos do que pensávamos ser. Que afinal somos mais fortes do que julgávamos. Uns certos apertos na vida dão-nos muito autoconhecimento. E o autoconhecimento traz generosidade e serena-nos o espírito. E quando somos capazes de nos aceitarmos como somos, também com fragilidades, somos capazes de aceitar melhor as fragilidades dos outros. Sair da zona de conforto é uma das melhoras experiências que podemos ter, a todos os níveis. Permite-nos testar os nossos limites e as nossas capacidades. E, normalmente, as descobertas são fantásticas. Conseguir ir um bocadinho mais além é como ficar com asas maiores, com maior envergadura. E quanto maior é a envergadura de asa, maior pode ser o pássaro, ou mais alto pode voar, ou mais longe, durante mais tempo. Sair da zona de conforto é efetivamente dar asas a quem somos. E lá vamos outra vez ao mesmo: criar asas também dói um bocadinho. Sair da zona de conforto também dói. Parece que afinal, não há parto nenhum que seja sem dor. Por isso é que escrevo muitas vezes que as dores são minhas companheiras de jornada. E eu não sou diferente de ninguém neste sentido: as dores são companheiras de jornada de toda a gente. Uns sabemos disto e outros não. O que procuro é aproveitá-las a meu favor. Já que dói e dói, então tento aprender alguma coisa com isso. Tento aumentar a envergadura da asa. Nem que seja para aguentar cada vez mais firme contra os ventos que de vez em quando sopram com uma força gelada. Com a noção clara de que os ventos fortes e gelados não sopram para sempre. Tudo tem o seu tempo. E todos os dias que começam estão carregados de esperança. E, na verdade, não é necessário um dia inteiro para mudar uma vida. Por vezes, apenas um segundo basta para ficar tudo de pernas para o ar. E como o Céu é infinitamente bom, parece-me que quando a vida se vira de pernas para o ar é porque esse é o lado certo e andámos há uma data de tempo ao contrário. Acredito nisto piamente. 
Agora vou voltar à companhia da minha tristeza. Já chama por mim. É um bocadinho ciumenta…

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