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Primavera

Apesar de não estar nos meus melhores momentos por andar a pingar de saudades e preocupações por um lado e a pensar nas desgraças que vão no mundo por outro, a primavera sempre me traz alguma alegria. Eu gosto da primavera. Principalmente porque é o pronúncio do verão. Como se sabe, não sou muito dada a nada morno, nem sequer às estações do ano intermédias. Eu adoro mesmo é o verão. O sol a pino o tempo inteiro e uma luz inigualável. Lindos nasceres e pores de sol. Noites quentes com estrelas por todo o lado. Praia e mar sereno. Quase que há luz a mais e serenidade a mais, como se isto fosse possível. Parece que no verão tudo é mais fácil e abundante. Como se diz popularmente, o verão é capa de órfãos. E é verdade. Pelo menos neste maravilhoso país onde vivo, é assim. O verão em Portugal tem a mais fantástica luz.

Mas agora estamos na primavera. Também merece toda a minha atenção. Por mais primaveras que passe, sempre me deslumbro com os milagres que acontecem. Até me parece que a primavera é a estação dos milagres. É quando a vida se renova. Quando o sol volta à sua alegria, as águas aos seus leitos e as flores aos seus jardins. A primavera é feminina, cheia de cores, humores e belezas. Tem uma extraordinária força delicada e discreta. Começa devagarinho, devagarinho e de um dia para o outro, quase sem se dar por isso, todo o esplendor da vida acontece! De vez em quando também se avaria e desengonça as hormonas. E lá aparece um dia de tempestade ou cinzento, dependendo do humor em que se encontra. Mas também é altamente resolutiva. Dá solução a tudo o que o inverno levou ou deixou estragado. Por isso, não há dúvida que a primavera é uma senhora. Adoro ver as ervinhas a espreitarem por entre as pedras da calçada. O verde das plantas é mais verde. As cores da vida são todas voltadas a pintar de fresco. Respira-se renascimento todos os dias. E eu gosto de tudo o que renasce. Renascer é mais uma oportunidade de se fazer de novo. De se tentar outra vez. De se fazer diferente para melhor. Também é assim no nosso caminho. Tropeçamos e levantamo-nos. Começamos do zero as vezes que Nosso Senhor assim o entender. Para renascermos melhores pessoas, melhores almas. Há sempre mais uma oportunidade de aprendermos. De seguirmos por esta ou por aquela vereda. Deus dá-nos muito mais primaveras do que as das estações do ano. Dá-nos todas as que necessitarmos para seguirmos o nosso caminho original. Aquele que combinamos lá no Céu antes de nascermos neste lindo planeta azul. E só poderia ser azul este planeta! Eu adoro a cor azul em todas as suas tonalidades. De cor azul são as coisas mais bonitas do mundo: o céu, o mar e a outra água quando está muito juntinha. Assim de repente também me lembro de um lindo par de olhos azuis que têm lá dentro o céu e o mar, tudo junto. Decididamente, o azul é a minha cor favorita! E, na primavera, o azul é ainda mais bonito.

Mesmo estando um bocadinho triste, sendo primavera, a tristeza dissipa-se mais facilmente. Consigo distrair-me com as coisas bonitas que vão acontecendo à minha volta. E a primavera também é senhora de esperança. Este clima de renascimento, de luz e de beleza traz consigo uma esperança de renovação e concretização. Tenho a esperança que tudo encontre o seu devido lugar. Que a calma aconteça. Que a serenidade se instale. Todos os dias têm mais uns minutinhos de luz. E uns minutinhos de luz fazem toda a diferença na nossa vida. Podem fazer a diferença. Por vezes, basta uma fração de segundo de iluminação e inspiração para mudarmos de rumo. Para nos cair a fichinha que faltava para conseguirmos voltar à traça original. Parece-me que a primavera será propícia a estas coisas. Cá para mim é quando as fadas e os anjos se soltam para voltarem a iluminar o mundo. Acordam do recolhimento do inverno e, cheios de energia, desatam a espalhar pó de perlim-pim-pim em tudo o que mexe. Que espalhem! Que venham os milagres! Muita falta nos fazem…

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