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O meu aniversário

Ontem foi o dia do meu aniversário. Antigamente não lhe dava muita importância. Hoje em dia já dou. É um dia de agradecimento por ter nascido. Por ter tido a oportunidade de viver neste mundo que, apesar de tudo, é maravilhoso. Eu adoro a vida e todas as suas coisas boas, as suas graças, as suas belezas, os seus prazeres. Apesar de por vezes ser atacada (à má fila) pela tristeza, pelo cansaço, pela ira ou pelas saudades, sou uma pessoa de essência muito alegre e energética. Adoro festa, rir e gargalhar. Adoro tudo o que me faz bem. E comecei a tentar fazer, pelo menos uma vez por dia, uma coisinha qualquer que me dê muito prazer, que me faça muito bem ou que eu goste particularmente. Só por causa da tosse. Todos os dias tenho que fazer alguma coisa de útil para a minha alma ou para o meu coração. Ando a ver se sou disciplinada no cumprimento deste propósito. Como já tive a experiência de ir desta para outra melhor, dou muito valor às coisas boas da vida. E essas coisas boas têm sempre reflexo no meu coração. Ou o reflexo do meu coração. Tenho esta noção clara de que tenho que aproveitar o melhor que for capaz. E detesto estar triste, carrancuda, chorona, telhuda e outras coisas do género. Nestas alturas estou a perder vida. Estou a gastar energia com o que não me ajuda a viver melhor.

A idade é uma coisa maravilhosa. Claro que em termos físicos adoraria ficar jovem para sempre. Aborrecem-me os efeitos da força da gravidade e os cabelos brancos que ando a colecionar animadamente. Aborrece-me acordar com uma dor diferente todos os dias. Aborrecem-me as maleitas do corpo, em resumo. Por outro lado, o que se vai degradando em termos físicos vai-se amealhando em termos psicológicos e espirituais. Internamente, a idade é o melhor presente que podemos ter dos céus! Hoje em dia, aos quarenta e tal, sou muito mais feliz que era aos vinte e picos. O Céu tem-me dado muitas graças. Tenho muito mais sabedoria. Sou muito mais paciente (embora ainda não o suficiente) e muito mais tolerante. Emociono-me cada vez mais. Já não me gasto com coisinhas miudinhas. Já estabeleço prioridades. Aprendi a aceitar-me melhor. Sou menos exigente com os outros e comigo própria. E aprendi a escolher sempre o amor. Na dúvida, procuro ouvir o meu coração. E como um grande cientista dizia (Einstein), podemos escolher entre o amor e o mundo. Se escolhemos o mundo, perdemos o amor. Se escolhemos o amor, ganhamos o mundo. Bonito, não é? Também gosto. E procuro sempre fazer escolhas de amor e não de medo. A idade também me tem ajudado a ser menos crítica, a fazer juízos de valor com muito mais cuidado. A ter mais pezinhos de lã. Mas a ser cada vez mais, eu própria. E isso é muito bom. Ser honesta comigo própria é uma necessidade premente. Ser verdadeira é como respirar. Saí pouco jeitosa para terrenos pantanosos e areias movediças. Sou pouco elaborada nessa coisa das deambulações. Não tenho pachorra para mentiras nem meias verdades, nem para cartadas na manga. Enfadam-me. Sou mais do género pão, pão, queijo, queijo, como se costuma dizer. No entanto, tenho aprendido a não ter  o coração tão ao pé da boca e a reservar-me mais. Aprendi que ser verdadeira não implica necessariamente mostrar tudo o que tenho, pelo contrário. A idade tem-me ensinado a defender sem deixar de viver e sem deixar de passar pelas coisas. Cada vez aceito melhor o que a vida me traz e a forma como se apresenta. A diferença é que me protejo mais e sofro menos. Corrijo: não sofro menos, aprendi a sofrer melhor. A perceber o porquê das coisas. A tirar lições e aprendizagens de todos os dissabores. E a confiar plenamente no Céu. E a saber que tudo que me acontece é para o bem supremo da minha alma. Para mim, o sofrimento deixou de ser gratuito. Haverá sempre um propósito, uma causa e uma consequência. Uma lição e um melhoramento de alma.  

Também aprendi que a paz no coração é a maior das graças. Resume o resto da vida toda. Trabalho muito na procura e no restabelecimento da paz. A calma e a serenidade são ingredientes fundamentais para se saber viver. Ainda não sei viver como deve de ser. Mas esforço-me, tento com muita, muita força.

A idade tem-me ajudado a reservar, como já disse anteriormente, mas também a oferecer o que tenho de melhor sem grandes pruridos. Tenho aperfeiçoado o uso das palavras. Procuro utiliza-las na melhor das formas. E neste contexto, procuro dizer, com as letras todas, o quanto gosto de quem gosto. O quão são importantes as pessoas que moram no meu coração. Não quero saber se posso parecer lamechas ou ridícula. Ridículo é amarmos as pessoas e elas não saberem. É não usarmos o afeto que temos por alguém como forma de fazer essa pessoa um bocadinho mais feliz. Já me deixei dessas coisas – gosto, digo. Mesmo quando as pessoas ficam atrapalhadas porque não estão habituadas a ouvirem coisas bonitas. Mais depressa estão habituadas a levarem ralhetes e a serem criticadas. Eu que sou um bicho esquisito, procuro dizer coisas bonitas e abrir o coração com quem posso. E procuro ainda pacificar-me com quem me magoou. Nem sempre é fácil, mas tento. Também tenho uma memória meio avariada, baseada nas impressões emocionais e lembro-me muito melhor de quem me fez bem do que de quem me fez mal. Não gosto de gastar células de memória com coisas menos boas e inúteis. Ainda bem que a minha memória é meia maluca. É melhor para a minha alma.

No dia do meu aniversário, para além de ter umas longas conversas com o Céu, com pedidos, desabafos e agradecimentos, procuro igualmente fazer um pequenino balanço de vida. Procuro melhorar qualquer coisinha. Aperfeiçoar-me um bocadinho. Olhar para dentro e dar uma voltinha pelos meus mundos interiores. Infelizmente ontem não tive a oportunidade de dar a volta completa, mas os dias vão seguindo uns atrás dos outros e irei terminar a ronda. Resumindo, ontem foi um dia feliz. Para além das bênçãos do Céu, pude partilhar uns momentos e/ou umas conversas com as pessoas que são mais importantes na minha vida. Destaco as minhas crias e a minha irmã de coração. Dedicaram-me o seu tempo e o seu amor. E isso para mim vale um império! E escreveram-me coisas tão bonitas...para quem gosta de palavras como eu, palavras que vem do coração ou da alma (não das outras), ter recebido os mimos que recebi valeram o dia todo. Dizerem-nos para continuarmos a ser como somos e para não nos atrevermos a mudar nada em nós porque assim é que vale a pena, é muito bonito, não é? Principalmente quando somos exigentes connosco próprios, sempre procurando limar esta ou aquela aresta. Faltou-me a presença da minha estrelinha que anda a brilhar por outros céus. É difícil conseguir-se partilhar momentos com todas as pessoas que gostaríamos, num só mesmo dia. É muita conjuntura para acertar. Enfim...outros dias virão que tornarão possível a partilha com todos os que moram no meu coração. 

Quem mora no meu coração está sempre presente na minha vida. É assim como as fadas e os duendes das florestas - não se vêem mas devem andar por lá a fazer das suas, a tornar tudo mais bonito. A dar cor às flores, a dar brilho às folhinhas, a pintalgar os animais, a tornar os cursos de água mais transparentes e etc. Não aparecem mas fazem as suas magias. Assim são as estrelinhas que estão longe. Não se dá conta mas continuam a brilhar na minha vida da mesma forma. Também fazem a sua magia. Iluminam apesar da distância. Estrela que é estrela tem este efeito sobre as pessoas! 

Brincadeiras à parte, parece-me sempre importante fazer-se um esforço para darmos graças a Deus por aquilo que temos e por quem se cruza na nossa vida. Faz-me lembrar aquele pensamento que reza assim qualquer coisa do género: se não pudermos ter tudo o que gostamos ou da forma como gostamos, pelo menos deveremos tentar gostar de tudo o que temos. E eu tento dar valor a tudo o que tenho e a todas as pessoas que se cruzam na minha vida em bem. Mesmo que não seja como eu gostaria. Procuro ser feliz com o que tenho e com as pessoas que amo, mais assim ou mais assado, mais perto ou mais longe. Claro que existem dias mais tristes e mais difíceis. Mas esses dias também só têm 24 horas e as emoções menos boas também passam. Não têm outro remédio. Eu sou tão dada à lágrima como sou ao sorriso e à gargalhada. E gosto muito mais das gargalhadas. Corro atrás delas. Assim, devagarinho e como me é possível, vou tentando tirar o melhor partido da vida. O melhor partido de tudo e de todos quantos se cruzam comigo. E adoro viver! E gosto de celebrar os dias de aniversário. Mas, apesar de reconhecer a sua importância e a sua beleza, e de saber que são um marco na nossa existência, gosto ainda mais dos outros dias todos. Importa-me quem me acompanha nos outros dias. Importa-me quem se lembra de mim sem ser preciso haver uma razão especial qualquer. Importam-me todas as outras celebrações que acontecem nos outros dias do ano. O dia de aniversário, para mim, tem principalmente um significado espiritual. Aqui é que reside o mistério e a maravilha da coisa. Os principais presentes que recebemos são os que o Céu nos envia. Se pudéssemos ver o que Céu nos manda no dia do nosso aniversário, eu diria que poderíamos ver uma chuva de flores e de corações, pérolas de fé, cristais com as cores do arco-íris, a oferecerem  graças e talentos e ainda gotinhas cor de rubi. Estas gotinhas rubi, que lembram o sangue de Cristo, são as embalagens onde vem os milagres. E cada milagrinho que nos é oferecido é exatamente o que necessitamos para continuarmos no nosso caminho original. Com muita alegria e amor no coração.

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