Existem palavras que nos ficam a martelar na cabeça. E eu tenho um certo problema com as marteladas – incomodam muito. E quando estas me passam da cabeça para o derramar da veia, tenho que aliviar a tensão e desatar a escrever. Hoje é um desses dias. Tenho alguma aflição interna sem conseguir dar-lhe uma definição. Sem conseguir isolar e limitar as fronteiras do que me está a moer o coração e a alma. Pelo menos parece-me que ainda não fui capaz de pensar serenamente sobre esse assunto. É daquelas vezes que não me apetece fazer este exercício porque na verdade sei o que vou encontrar e tenho que dar asas a algum desaconchego e alguma dor. Mas como não sou de fazer de conta, vou ter que me colocar a caminho de mim própria muito rapidamente. Para deixar doer e depois sarar o melhor possível.
Mas não era sobre isto que eu queria falar. O que me martela é o resultado de uma ótima conversa de almoço tida com a minha estrelinha. A tal que me ilumina que se farta. E ficaram-me umas frases a pulsar: o que é ter sucesso? O que é parecer uma pessoa de sucesso? O que é o sucesso em si próprio? De repente dei conta que não é uma palavra que faça muito parte do meu vocabulário. Não a utilizo muitas vezes. Na verdade nem sequer é um conceito que tenha muito impacto na minha forma de ser ou de ver a vida. Claro que é importante ser-se bem sucedido no que se faz. Conseguir-se fazer aquilo que nos propomos fazer, de preferência, bem. Até S. João de Deus dizia que se deve fazer o bem, bem feito. Tirando isto, os conceitos mais vulgares de sucesso implicam dinheiro, poder, prestígio e coisas afins. Parecer que se é uma pessoa de sucesso será talvez parecer que se é uma pessoa que conquistou o que a vida tem para dar em termos de conforto, prazer e segurança. E será que as pessoas que parecem ter sucesso ou que julgam ter sucesso se sentem verdadeiramente felizes e realizadas com os bens e os estatutos alcançados?
Graças a Deus que os nossos conceitos e a relevância que lhes damos vão mudando ao longo da vida. E quando chegamos a uma altura em que já não sabemos exatamente quem somos e o que parecemos aos olhos dos outros, parece-me que estamos no bom caminho. Quer dizer que não estamos cheinhos de certezas. Quer dizer que já aprendemos umas coisas. Podemos não saber para onde vamos mas pelo menos sabemos por onde não queremos ir. E isso faz toda a diferença na nossa vida. Nesta altura do campeonato, já não faço a mínima ideia do que pareço aos olhos dos outros. Qual o impacto que tenho e como serão capazes de me descrever ou definir. Cada vez menos tenho esta noção. E cada vez menos me importo com isso embora seja desconfortável não ter qualquer previsibilidade sobre o relacionamento que consigo estabelecer com as pessoas em termos pessoais e profissionais. De vez em quando sou surpreendida com um comentário sobre mim sobre o qual não tinha a mínima ideia. Enfim…conversa para outra altura.
Não me interessa nada o sucesso que as pessoas têm. Interessa-me se são felizes. E, para mim, ser-se feliz é a única coisa que verdadeiramente interessa e importa. Porque a felicidade implica também muita paz e muita alegria. E de que vale ser-se ou ter-se seja o que for sem paz e sem alegria? Sem amor? Vale pouco mais do que nada. Cá na minha maneira de ver, claro está. E também gosto muito de coisas bonitas e de coisas que dão conforto e que dão prazer e que dão segurança. Gosto disso tudo. Mas procuro dar-lhes a importância que têm. São apenas o que são, nada mais. Existem pessoas que podem estar carregadinhas dos vulgares fatores de sucesso, ou pelo menos aparentarem, e não me aquecem nem me arrefecem. Se estão bem, fantástico.
Fazem-me toda a diferença as pessoas que têm luz natural, brilho, alma, coragem, inteligência e coração. Estes sim são os fatores que me animam. E uma pessoa de sucesso é aquela que, tendo estes ingredientes, consegue descobrir qual o caminho para ser feliz. Ou os vários caminhos, os trilhos. Pelo menos que seja capaz de fazer essa demanda e de ir juntando muitas gotinhas de felicidade na sua alma. Muitos bocadinhos de amor no seu coração. Que consegue serenar e encontrar a paz e alegria. E então, verdadeiro sucesso à vista! Parece que se está a cumprir a rota original traçada por Deus. Tenho a certeza. A rota original tem sempre que ser uma rota de amor, de alegria e de paz. Nunca de medo nem de “pareceres”. Vale a pena lembrar que a única bagagem que levamos quando retornamos ao Pai é a que consegue caber no nosso coração. Quanto é que somos capazes de amealhar cá dentro? Quanto? De que tamanho é o nosso coração? O que fazemos com ele? Como amamos? Que importância é de damos ao amor, no sentido lato e incondicional e no sentido mais específico e direcionado? Talvez uma pessoa de sucesso seja aquela que ama muito e que é muito amada. Não é preciso ser em quantidade, talvez baste que o seja em profundidade. Em ordem de grandeza.
O que nos coloca um sorriso no rosto ao acordar e ao adormecer? O que nos faz sentir aconchegadinhos? O que nos faz sentir em paz? O que nos faz serenar? O que nos faz dizer que vale tanto a pena viver? O que nos dá alegria? O que nos descansa? O que que nos acalma? O que nos enche o peito? O que nos faz gargalhar?
Quem nos acalma? Quem nos dá paz? Quem nos faz sentir bem sendo nós próprios? Quem nos aceita com tudo, com o melhor e com o pior de nós? Quem não nos coloca um “mas” e um “se’” exigentes, no fim das frases? A quem somos capazes de confiar o nosso “eu” sem termos receio? Quem não nos assusta? Quem é capaz de rir connosco, no mesmo comprimento de onda? Quem lê os nossos olhos? Quem nos olha com olhos de ver e de amor e não com os olhos de crítica? Quem verdadeiramente quer saber de nós?
Tanta pergunta difícil, não é? Conseguimos fazer estas perguntas, honestamente, a nós próprios? E conseguimos encontrar as respostas? Interessa que sejam honestas. Devemos amarmo-nos o suficiente para sermos honestos connosco próprios. Dói. Pode até doer bastante. De repente, até pode destroçar. Mas as respostas a estas perguntas são talvez a diferença entre se encontrar ou não os trilhos certos. Se soubermos chamar a nós o que nos faz bem e quem nos faz bem, estamos sem dúvida nenhuma no caminho certo. O tal sobre o qual nunca se tem a certeza…eu tenho a certeza que o bem supremo, é feito de muitos bocadinhos de “o que nos faz bem” e de “quem nos faz bem”. E, nestes capítulos, se calhar, vale a pena pensar em grande e com coragem. O que nos faz bem a sério e quem nos faz bem a sério. Não vale a pena ser miudinho no que diz respeito à nossa felicidade. Vale a pena ir juntando bocadinhos e descobertas até já se ter uma trouxa capaz de se apresentar em qualquer cantinho do Céu que esteja guardado para nós. E sabem qual é a beleza suprema destas coisas? É tudo feito no pleno exercício da nossa liberdade. Nada nem ninguém nos obriga. Quer dizer, a vida, de vez em quando, vai dando uns jeitinhos. Vai pondo a informação na mesa para que se possa usar o nosso livre arbítrio. O tal que também é sagrado.
Já agora, vale a pena lembrar que as estrelas já trazem todos os ingredientes necessários para encontrarem os seus caminhos. E trazem-nos em abundância. Uma estrela, por inerência e na minha visão das coisas, já é bem sucedida. Por vezes basta brilhar também para dentro. Ser capaz de iluminar e descobrir os mundos por dentro tal como é capaz de o fazer por fora e para os mundos dos que a rodeiam. Ser-se estrela é muito cansativo porque se gasta muita energia a iluminar a noite. E, por vezes, não se aproveita a luz do dia para se descansar, serenar e descobrir o que ilumina por dentro. Uma estrela já tem as pecinhas todas. Só necessita de as colocar na sua ordem natural. Aquela ordem que vai de acordo com a sua essência. Ter sucesso é ser-se uma estrelinha feliz. Ou outra coisa qualquer, desde que feliz.
Fim de semana passada foi da epifania do Senhor (dia de Reis) e a homilia fantastica dessa missa versou sobre o questionamento que cada um de nós (cristãos) deve ter sobre "se somos a estrela que anuncia o Senhor?", se somos suficientemente luminosos, se estamos lá no dia e na noite, na chuva e no sol e se acima de tudo fazemos o caminho com aqueles a quem guiamos. Sim porque os Reis Magos levaram vários dias a chegar ao menino Jesus e a estrela sempre brilhou! Isso implica paciência, preseverança e a certeza de que estamos lá a iluminar.Principalmente aos de "fora" do nosso circulo....Os Reis Magos não faziam parte do "povo escolhido", mas foi no entanto para eles que a estrela brilhou e guiou! Sejamos estrelas que ajudam na mudança de vidas!
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