Avançar para o conteúdo principal

Mãe de flor

A rosinha encantada do meu jardim, a minha cria mais nova, festejou o seu aniversário. Uma azáfama como devem ser as festas de aniversário. E, no meio da confusão e dos preparativos, vou pensando sobre o dia lindo em que esta rosinha veio ao mundo. Há uma dúzia de anos atrás. E penso em como fui abençoada como mãe. Por mais que pareça uma coisa inerente à maternidade, não é verdade, de forma generalizada, que entre pais e filhos exista um amor assim tão forte. Existe na maior parte dos casos. Infelizmente existem exceções em que pais e filhos se detestam e violentam-se mutuamente. Chegam a matar-se. Quase não se fala disto mas existem casos demais.

No que me diz respeito, amo as minhas crias mais do que a minha própria vida. E é um amor que cresce todos os dias. E elas também me dedicam muito amor. É um amor tão grande que quase dói. As minhas crias são muito diferentes uma da outra e ambas têm-me ensinado tanta coisa! Nunca pensei que fosse possível! E, se olhar com os olhos da alma sou capaz de ver o meu próprio reflexo em cada uma delas. Este confronto comigo própria, em dose dupla, também não é fácil! Mas já lá vamos a este assunto. Quero só ainda lembrar que esta cria mais nova talvez me tenha salvo a vida. Ou a razão de viver da forma como sei, com paixão. Quando esta rosinha nasceu, estava a viver em pleno a pior época da minha vida. Esta rosinha, a criar raízes no meu ventre e na minha alma, ajudou-me a sobreviver e a ultrapassar o lado mais amargo da vida. Ajudou a manter a serenidade e a força que me caracterizam mesmo quando o mundo está a cair. E o meu caiu tal como o conhecia. O desabrochar desta florinha tão especial deu-me toda a garra necessária para agarrar a vida e fazer dela o melhor que fosse capaz. Até nisto as minhas crias são antagónicas. A mais velha veio no momento mais feliz da minha vida, em plena felicidade e alegria. A mais nova em plena tristeza. Mas ambas têm um denominador comum: são as flores mais especiais do meu jardim. Uma é uma florinha selvagem, como já tive oportunidade de escrever e outra a tal rosinha encantada também com um texto só para ela.

A cria mais velha é a personificação da liberdade e mais nova, a do amor. Impressionante. Nas minhas conversas com Deus já tive a oportunidade de lhe dizer: “Deste-me as coisas que mais prezo na vida, liberdade e amor”. E também eu tenho estes valores dentro de mim. E sou confrontada com eles todos os dias ao acordar. Tem que se lhe diga. O confronto connosco próprios não é qualquer coisa que se leve de forma ligeira. Tem que ser refletido. Para se ser mãe deste tipo de crias, que aprimoraram as minhas características tem que se estar à altura. E por vezes não se sabe que altura é essa. A única forma de descobrir é pensando bastante e decidir ouvindo o coração. As duas com a sensibilidade à flor da pele. Com o coração na boca. Emocionalmente muito intensas com formas diferentes de gerir esta intensidade. E eu lá tenho que ir gerindo a coisa. O que resulta para uma não é indicado para a outra. O que para uma é óbvio, para a outra é uma descoberta. Como costumo dizer, tenho uma cria de cada marca. Uma é livre desde a raiz dos cabelos até às unhas dos pés. Tem que ser educada e gerida em liberdade. O busílis é ensinar as balizas que a liberdade tem que ter. É ávida de vida e de saber, de experiencia. É tão livre como o vento. E tão justa como uma balança. O “porque sim e o porque não” não são razões que entrem lá no seu dicionário. Têm que haver uma razão lógica e justa para tudo. Não sei que idade é que esta minha cria tem. Cronologicamente falando, sei qual o dia em que nasceu. A idade mental, não sei. A idade emocional, também não. Apesar de ser uma adolescente típica, sabe coisas, entende coisas e preocupa-se com coisas que adultos de 50 anos não sabem sequer do que se fala. Preocupa-se com a natureza, com o mundo, e, apesar de parecer desprendida e distraída, tem uma preocupação profunda embora reservada das pessoas que moram no seu coração. Nem sempre sabe o que fazer com o que sente. Bem-vinda ao clube! Não é uma garota de toque nem de muito mimo. Embora muito temperamental e regida a hormona, tem um mundo emocional, o tal do coração muito escondidinho e virado para dentro. Chora melhor debaixo dos lençóis, sozinha, do que acompanhada. Mas é uma menina de bem. De defesa do frágil, do mais pequeno, do mais fraco. É uma menina de causas.

A minha rosa encantada é uma menina de serenidade, de paz. De amor sentido de forma até exacerbada. Meiga. Mimosa. Mas tão dona do seu nariz e tão segura de si própria. Uma líder nata. Com o argumento que nos deixa desarmada num segundo. Cirúrgico, dito com o melhor dos sorrisos. Sempre com um beijo pronto nos lábios e um abraço ternurento e apertado a pedir para ser dado. Chora os males do mundo e sente beleza da natureza com uma facilidade incrível. 

Estas minhas crias são um tratado! Insolentes também, como crias que se prezam! São um tratado de maternidade. São um desafio diário. Ter filhos é ter o coração fora do peito o tempo todo. O que mais custa a gerir é não querer que elas errem. Não quero que cometam os erros que eu cometi. E não quero que elas cometam os erros que são delas. Quero que sejam perfeitas. Mas não são. E eu também não sou perfeita, longe disso. Este é o maior desafio de gestão. Saber que o impulso é um mas que temos que as educar de outra forma, contrariando o impulso da perfeição e da exigência. Educar é ajudar a crescer. Dar os valores e os princípios que achamos que são os mais valiosos. Dar o exemplo. Acompanhar. E quando erram, ajudá-las a levantar do chão e a aprender com o erro. E a saber que as crias não nos pertencem. Deus confiou-as na minha mão para as ajudar a serem boas pessoas. Todos os dias as entrego à proteção Divina e peço a Deus para que me ajude a estar à altura de cumprir esta missão. Espero conseguir ajudar a que cada uma delas seja verdadeira consigo própria, com a sua essência. Que cada uma delas consiga traçar e seguir um rumo que seja pautado pelo coração, pelo bem, pelo respeito profundo pelo próximo e pela vida. Espero que sejam felizes no caminho que forem capazes de ir traçando.

Enquanto mãe, procuro fazer o melhor que sou capaz. Deitar-me todas as noites com a consciência muito tranquila. Ajudá-las a ganhar asas para irem à vida delas. E, no dia em que eu for para o céu, gostaria que elas me guardassem no coração como a pessoa que mais as amou na vida. É esta a lembrança que quero que tenham minha. Uma lembrança de amor profundo e incondicional. O resto é acessório. 

Comentários

As mais lidas...

Os olhos da alma

Existem olhares que matam. Não matam a vida mas matam o coração e a alma. Hoje estou neste comprimento de onda. A pensar na importância que os olhares têm. Eu, que sou uma pessoa cheia de palavras e que adoro este tipo de expressão, sou uma franca apreciadora de olhares. Não só de olhares como também de todo o conjunto de formas não verbais de comunicarmos uns com os outros. Da mesma forma que o nosso subconsciente e o nosso coração são muito mais inteligentes que o nosso cérebro e que a nossa racionalidade, o não verbal expressa muito mais sinceramente o que o outro está a pensar ou a sentir. E o olhar é majestoso nesta forma de comunicar. Penso que existem olhares que salvam e olhares que condenam. E não são necessárias quaisquer palavras a acompanhar o que se diz com os olhos.  Neste momento tenho os pensamentos a mil à hora (o que não é difícil, tratando-se de mim). E penso nestas coisas dos olhares. Da importância que tem olharmos os outros, olhos nos olhos, de igual para igu

Corações à janela

De vez em quando o meu coração sai fora do peito. Deixa um lugar vazio. Cheio de nada. Vai espreitar à janela. Vai ver se existem outros corações como ele, a espreitarem, a ver se encontram o que lhes falta. Quando se espreita à janela de uma casa vazia, vê-se fora uma multidão que ainda torna mais vazia a casa da janela onde se espreita. A janela de onde o meu coração espreita tem uma vista colossal sobre a rua da amargura. Da janela vêem-se outros corações a espreitar. Uns despedaçados, outros partidos. Todos os corações inteiros e de saúde encontram-se dentro do peito onde pertencem. Quanto muito, passeiam de um peito ao outro quando se trocam palavras de amor. Não espreitam à janela de casas vazias. Mas uma casa vazia torna-se muito grande, muito solitária e muito fria para que um coração rasgado possa estar sozinho em paz a sangrar. Tem que se entreter e vai espreitar à janela. Tem que ver se encontra um outro coração com quem possa partilhar as mágoas. E faz adeus aos outros

A parvoíce de verão

Resolvi renovar a imagem deste blog. Os meus mundos necessitam de ser dinâmicos. Diz-se que as aquarianas são assim. Detestam rotinas e mais do mesmo. Assim, vou alterando o que posso alterar. Com tantas cores que a vida tem, não é necessário andar-se  sempre com os mesmos tons. Por outro lado, quando não se consegue mudar questões estruturais da nossa vida (embora nos apeteça) vamos mudando o que podemos mudar, o que está ao nosso alcance.  Resolvi então arejar um dos meus mundos mais queridos, o da escrita. Como sou eu própria, mantenho uma certa constância em termos cromáticos e de forma. Há coisas que aqui, tal como na vida, não abdico. São muito próprias, muito minhas. De resto, adoro experimentar tudo o que é diferente de mim. O que é meu eu já conheço. Interessa-me experimentar tudo o que é novo. Deve ser mesmo por ser aquariana de signo com ascendente em aquário. Muito aquário por metro quadrado! Não me safo do exotismo deste arquétipo. Falo disto como se percebesse alguma