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Um par de chinelinhas com corações

Hoje apetece-me escrever sobre coisas simples, como por exemplo, um par de chinelinhas de dedo. Eu adoro chinelas e adoro coisas muito simples e especiais. As minhas chinelas são muito especiais. E não é só porque são muito bonitas, cheias de corações vermelhos. Como todas as coisas simples e especiais vão muito para além do que se vê. Do que parecem ser na sua singeleza. 

A verdadeira simplicidade é uma coisa bastante rara e difícil. Normalmente, parece-nos que o complexo e intrincado é que será especial de corrida. Implica muito trabalho intelectual e muita inteligência para ser decifrado. Custa muito e parece que tudo o que custa é que tem verdadeiro valor. Como eu costumo ser ao contrário, valorizo a simplicidade. A emoção, o sentimento e a espontaneidade. Tudo o que tem que ser muito pensado traz normalmente sofrimento associado. Adoro a pureza da simplicidade, adoro tudo o que de forma simples e verdadeira sai do coração. Daí que goste tanto das minhas chinelas - são cheinhas de corações vermelhos. É um grande consolo e descanso saber que até os meus pés caminham apoiados em corações. Como sempre digo que o coração deverá ser o nosso guia principal, que maravilha ter corações nos pés! Nunca tinha pensado na importância de um caminhar também sustentado no coração. Como penso muito, tenho sempre medo que a minha cabeça leve a melhor e que abafe a voz do coração. Passo a vida a ralhar com os remoinhos cerebrais que teimam em querer comandar-me a vida. Meia volta têm que ser colocados no seu lugar. O maior espaço tem que ser sempre dado ao que flui do coração. Da essência, do emocional. Desta forma, compreende-se que andar com corações nos pés, ajudará bastante a conter esta energia que vem do meu âmago, cá de dentro, das entranhas. Com o tempo, com muito trabalho de autoconhecimento e de pacificação, fui aprendendo a ouvir o coração.  Não é de um dia para o outro que isto se faz. É com muita calma, com muita paciência, com muita vontade. Perdendo o medo de olhar para dentro e perdendo o medo do que se passa fora. E confiar e aceitar no que se encontra. Dentro e fora. Tem que ser assim. Contra tudo e contra todos. Por vezes, o nosso coração diz-nos uma coisa que vai contra tudo aquilo que parece ser aceitável. Contra o que parece ser o melhor para nós. Parece a pior das escolhas. Manda-nos escolher o que parece ser o problema em vez de nos ajudar a escolher a solução. É verdade! Mas para se ouvir o coração e para o seguir é preciso ter-se a coragem na ponta dos dedos. A coragem é o impulso que nos leva a seguir o caminho certo. Mesmo quando não se sabe porque é que será o certo. Apenas se sabe que é o caminho que o coração aponta. Se seguirmos o coração, seguimos a nossa essência. A nossa missão. E estaremos em paz. E quando estamos no trilho que devemos, a vida flui, as soluções aparecem. O segredo da vida, em toda a sua plenitude, está no coração de cada um. No seguir os caminhos que ele aponta. E se neste caminho os nossos pés estiverem bem assentes, bem confortáveis e bem livres, melhor será o nosso equilíbrio e os nossos passos serão muito mais firmes e confiantes. Percebe-se então a importância de um belíssimo par de chinelinhas de dedo? Daquelas que fazem os pés repousar do peso do dia a dia, do desconforto dos vários sapatos que temos que usar em função dos diversos contextos em que nos movimentamos? Daquelas chinelinhas que devolvem aos nossos passos a liberdade que nos é cerceada nesta ou naquela situação? 

Quem inventou as chinelinhas de dedo sabia destas coisas todas. Sabia da importância que a simplicidade deve ter nos passos que conduzem as pessoas. Sabia da beleza que é caminhar livremente pela vida, sem apertos, constrangimentos, dores e fricções. Sabia da maravilha que é ser-se o que se é sem se querer parecer mais alto, mais forte ou mais imponente do que se realmente é. Quem inventou as chinelinhas de dedo só podia ser dotado de uma imensa sabedoria. Daquela sabedoria que sai diretamente do coração para os pés, os tais maravilhosos que sustentam toda a nossa estrutura. 

Por tudo isto adoro as minhas chinelinhas de dedo, cheias de corações. Também é verdade que adoro corações. Representados de todas as maneiras e de todas as cores. Assim bem lamechas, melosos, patetas e até ridículos. Adoro corações e pronto! Representam o que cada um de nós tem de melhor. Representam o que cada um sente de melhor. Representam a essência de cada um de nós. Representam a casinha onde Deus mora. Representam ainda, para mim, onde tudo o que somos se une, se interliga. Onde está a maravilhosa amalgama espiritual, que junta os pensamentos, os sentimentos, as emoções e a nossa alma. Tenho a certeza que é no nosso coração que se encontra a centelha divina. A que nos faz ser também um pedacinho de Deus. Como não gostar de corações?! Sempre que amamos desenhamos corações. Sempre que mimamos, corações para cima! Cá para mim, um bombom de chocolate é ainda mais saboroso e consolador se tiver a forma de um coração. Que sonho! Chocolates e corações! A chamada overdose de coisas boas!

Continuando a falar de coisas boas, volto às minhas chinelinhas de dedo, cheias de corações vermelhos. Para além de lindas, são especiais porque me foram oferecidas por uma pessoa especial. Daquelas pessoas que tem um coração também especial. E todos os corações especiais fazem os outros corações sentirem-se especiais. Meu Deus, tanta especialidade por metro quadrado....

Há pessoas na nossa vida que nos fazem muito bem. Iluminam-nos assim como o sol ilumina as flores e as torna mais viçosas e aveludadas. As flores gostam muito de luz. De vez em quando, quando o sol resolve ir brilhar para outro lado, lá ficam com as pétalas murchas. Com o veludo um bocadinho mais baço. Mas todos os pés de flor têm chinelinhas cheias de corações. Parece que lhes ajuda a matar as saudades dos raios de sol. 

Vou seguir o exemplo dos pés de flor e calçar as minhas chinelinhas cheias de corações vermelhos. Vale sempre a pena ir ao encontro do coração...

Comentários

  1. Como é maravilhoso ler a majestade e maravilha da vida! Para receber nao basta que alguem tenha o ato altruista de oferecer. A verdadeira essencia esta em saber receber com a simplicidade de um sorriso, de uma batida de coração, de um chinelo de dedo. E quando isso acontece nossa vida flutua sob um manto de corações sob nossos pés. Com ou sem chinelos :-)

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