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Absolutamente Principiante

Estou a ouvir uma canção do David Bowie, Absolute Beginners. Fala de se ser “absolutamente principiante” nas coisas do amor e em mais uma data de coisas relacionadas. Gosto muito da canção porque me lembra como é maravilhosa a pureza da descoberta. De se ser principiante seja no que for. No que diz respeito ao amor, no meu ponto de vista, somos sempre principiantes. E esse é uma das causas do seu encantamento (do amor). Amar aos 16 anos é tão encantador e forte como amar aos 50 anos. Todos os amores que temos são diferentes. Claro que entre os 16 e os 50 há experiência de vida acumulada e já sabemos mais coisas. Mas o frio na barriga é o mesmo. A maravilha é a mesma. O medo é o mesmo. O que muda de uma idade para a outra é a nossa racionalização e capacidade de lidarmos de forma diferente com o que nos acontece. Mas, na verdade, de cada vez que nos apaixonamos é sempre a primeira vez. Ficamos sempre sem jeito, com o coração na boca e com borboletas no estômago. Isto é invariável! E não é tão bom?!

Nesta coisa dos amores nunca ficamos sábios e experientes. Somos sempre principiantes. Absolutamente principiantes. Nesta temática, a experiência de vida acumulada de umas vezes para as outras não nos traz muita vantagem. Não serve para quase nada. Às vezes até atrapalha. Quando se é principiante, é-se são, sem maldade. Não se tem cartadas na manga. Vai-se descobrindo, conhecendo, dando corpo ao amor e deixando fluir sem lhe tolher o caminho. Pois se não se sabe qual é o trilho, não se pode conduzir. E deixar o amor fluir e seguir por onde quer, é uma maravilha! O amor é sempre indomável e incontrolável, graças a Deus!

Gosto de tudo o que não se controla. O que é livre. Isto apesar de ser um bocadinho controladora e de gostar das coisas à minha maneira. Pois é. Parece uma contradição. Mas não é. Já aprendi a aprender com as subtilezas que a vida nos reserva. A vida, no seu plano para me aperfeiçoar enquanto pessoa, reserva-me muitas situações em que tenho que me confrontar e gerir a minha vontade de controlar e de fazer as coisas à minha maneira. Da forma como gosto e como quero. E eu tenho sempre muitos quereres. Então, sou muitas vezes confrontada com situações em que podendo exercer autoridade pura e dura, o devo fazer com sabedoria. Em que as minhas decisões são acatadas não porque posso mandar simplesmente mas porque são reconhecidas como justas e como boas alternativas de resolução. Deus dá-nos sempre o verso e o reverso para podermos aprender tudo como deve de ser. Assim como me ofereceu esta costela controladora, deu-me, em simultâneo, um grande amor pela justiça, pela liberdade e pela paz. Tudo isto para eu não fazer grandes estragos e para aprender a gerir as minhas vontades respeitando profundamente as diferenças entre opiniões e pessoas.

Também no que diz respeito aos relacionamentos mais pessoais e íntimos, começando nas minhas crias e acabando nos meus amores, sempre me batem à porta pessoas intensas, cheias de personalidade e cheias de liberdade. Difíceis! Mas encantadoras…

Deus também me deu o amor por tudo o que é intenso, livre e vincado. Nunca fui grande apreciadora de águas mansas e mornas. Nestas coisas da aprendizagem enquanto pessoas e almas, se formos um bocadinho atentos, verificamos que a vida sempre nos faz confrontar com o que nos desafia. E normalmente amamos o que nos desafia. Nosso Senhor, na sua infinita sabedoria, sabe que se não amarmos o que precisamos experienciar para ficarmos melhores pessoas, fugimos da coisa a sete pés. E já não aprenderíamos. Portanto, temos o desafio mas também as ferramentas para o resolvermos. E, normalmente, o amor ajuda a resolver tudo, sem exceção.

Se formos um bocadinho mais atentos ainda, verificamos que a vida nos confronta muitas vezes connosco próprios. Quem nos aparece à frente é muito parecido connosco apesar de acharmos que é muito diferente! Eu percebo isso muito claramente quando estou a “torcer” a minha cria mais velha. De repente lembro-me de mim e do meu próprio feitio. Com outra idade e com outra experiência. O desafio é aprender a aceitar-me, a aceitar a diferença dos outros e a aceitar a forma como se relacionam comigo. 

Quantas vezes nos apaixonamos por pessoas que nos obrigam a alterar a nossa forma de lidar com as situações? E somos principiantes. E quando olhamos melhor, a pessoa por quem nos apaixonamos refina alguma das nossas características…e lá nos confrontamos connosco próprios, provamos do nosso próprio veneno. Aprendemos a conhecermo-nos muito melhor. E, no caminho, aprendemos que não controlamos absolutamente nada. E que de cada experiência que temos, devemos vivê-la como principiantes. Ávidos de conhecimento, com mente e coração abertos e disponíveis para o que der e vier. Sabendo que é natural cometer erros (afinal, estamos a começar), é natural ter medo, é possível que se esfole os joelhos e que se verta umas lágrimas. Mas ser-se principiante nalguma coisa também tem uma magia própria. Tem os pós de perlimpimpim que nos permite graciosamente ter inquietações sem sentirmos culpa. Tem o encantamento das surpresas.

As boas surpresas são maravilhosas. Eu que tenho alguma dificuldade em gostar pouquinho de alguma coisa – gosto muito ou nada – gosto de surpresas que me farto. Melhor: adoro surpresas! Adoro quando aparece um mimo que não espero. Espontâneo, sentido. Adoro ser surpreendida. E também ando a aprender a não esperar nada de ninguém. A viver um dia de cada vez sem expetativas. Não é nada fácil. Mas esforço-me muito e consigo cada vez melhor. Assim, sou muito mais surpreendida. Bem surpreendida. E com as boas surpresas vem a alegria! Quando a nossa atitude perante a vida é a de absolutamente principiante a cada novo dia, o retorno é imenso. Olhar o mar como se o visse pela primeira vez, é de uma intensidade extraordinária. Há muitas coisas que se forem feitas e vividas como se fosse a primeira vez, seriam sempre muito gratificantes, muito intensas. A intensidade é o meu nome do meio!

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