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As cores da vida

Hoje tenho andado a pensar nas cores da vida. Na verdade, esta tem sido uma semana em que tenho refletido bastante sobre a vida em si própria. De vez em quando acontecessem-nos uns imprevistos que nos param - assim de repente - e que nos fazem refletir em tudo. Refletimos sobre a vida e sobre as pessoas que nos são muito queridas. 

Acordam-se-nos um conjunto de pensamentos que se encontram adormecidos a maior parte do tempo. Levamos uma chocalhadela e emerge o que temos de mais profundo. Os abanos da vida são muito importantes. Servem particularmente para alinharmos as prioridades, para não vivermos como se fossemos eternos e para quando morrermos, não morrermos como se não tivéssemos vivido. Este pensamento do Dalai Lama faz-me todo o sentido. E sempre que o relembro, acrescento qualquer reflexão. Quando alguém lhe perguntou o que mais o espantava nos homens, ele respondeu, com a sua imensa sabedoria, que era o facto de os homens viverem como se fossem eternos e de morrerem como se nunca tivessem vivido. Desde que integrei esta gota de sabedoria que me preocupo em viver com finitude e em morrer em plenitude. Mais simples do que possa parecer. Reflito muito sobre o desapego. Sobre o amar intensamente a vida mas com a consciência de que se pode morrer a qualquer momento. E qualquer momento pode ser já e agora. Não precisa de ser uma coisa longínqua que vai acontecer lá para os 100 anos. E penso que se morresse agora, ainda tinha umas coisinhas para dizer a algumas pessoas. Só isto verdadeiramente me interessa. Quem marca uma vida, marca o mundo. E há pessoas que me marcaram a vida pela positiva. E é preciso que saibam isso. Não quero morrer sem abrir o coração a quem mora lá dentro. 

Por outro lado, quero aprender e experienciar tudo o que fizer uma boa diferença na minha alma. Quero aprender a apreciar todos os momentos, todas as alegrias, tudo o que a vida pode marcar no meu coração, para que possa morrer em plenitude. Como acredito noutra forma de vida para além desta que conheço, é muito fácil acreditar que o que levo comigo é o que tenho no meu coração e na minha alma. O que conseguir amealhar de bons sentimentos, de amor e de sabedoria. O corpo fica, mas o resto segue a sua viagem para o outro lado. 

Neste sentido, procuro encontrar a beleza em todos o cantinhos. Mesmo sabendo que o mundo é redondo, tem muitos cantinhos bonitos e cheios de cor. Se formos um bocadinho atentos, a beleza da criação entra-nos pelos olhos a dentro, sem nenhum esforço. As cores da natureza são encantadoras, não é? Hoje estou virada para as cores. Desde que sou gente que o arco-íris me encanta. É a coisa mais magnífica! Os povos antigos pensavam que era um sinal de bom presságio enviado por Deus. E não estariam cheios de razão? Um mimo dos céus para alegrar quem o vê. É impossível ficar-se indiferente à sua beleza. É impossível não se refletir como o arco-íris encerra em si todas as cores presentes no planeta. Um mundo tão grande, com tanta diversidade e tanta beleza, tem as suas cores todas resumidas num lindo arco colorido que de vez em quando aparece nos céus. Também é bonito porque é livre. O arco-íris é muito livre. Só aparece quando lhe apetece, quando as condições estão reunidas para que possa dar o ar da sua graça. Eu gosto de tudo o que é livre. Eu gosto de tudo o que sendo livre, utiliza a sua liberdade para fazer os outros mais felizes e alegres. Quem consegue transmitir assim tanta beleza, tem que ser mágico. O arco-íris é mágico. Pinta o céu com as cores da vida. São estas cores da vida que quero ter no meu coração. Todas, com todas as tonalidades. Cada cor representa, com certeza, um elemento, uma vivência, uma aprendizagem. E é isso que mais me move. A paixão pela vida. A loucura pelas suas cores, pelos seus odores e sabores, pelos seus sons e melodias, pelos seus toques e carícias. A vida no seu pleno. Não sei viver sem paixão pela natureza e por tudo o que me rodeia. Nos poucos dias que fiquei no vazio, o que mais me doeu foi a falta de paixão. Nem sei lidar com isso. Só sei viver de forma intensa e apaixonada. Talvez venha a conseguir morrer de forma serena e pacificada. A dizer, calma e sorridentemente: - “Valeu tanto a pena!”. 

As palavras são realmente como as cerejas! No meu caso são cerejinhas com asas pois desatam a voar por caminhos que não estavam planeados. Também na escrita, tal como na vida, é delicioso deixar fluir e ver onde vamos parar. Deixar que a vida se apresente. E, no caso das minhas escrituras, deixar que as palavras que querem ser escritas se cheguem à frente. Na vida como nas palavras, procuro estar disponível para o que vier ao meu encontro. É verdade que às vezes dói um bocadinho. Faz chorar. Também as palavras podem ser duras, cortantes. Mas é assim mesmo. Também estas têm uma cor própria. A cor do que amarga. Mas o amargo contrasta com o doce. Como o preto contrasta com o branco. É por um existir que se aprecia o outro. Também nas cores, na vida e nas palavras existe esta dualidade divina, tão pedagógica e tão cheia de sabedoria. Todos os pintalgados a negro da minha vida foram muito importantes. Na altura foram dolorosos. Por vezes até foram vermelhos, cor de sangue. Quando rasgaram. Quando fizeram ferida. Depois, com o passar do tempo, deixando assentar a poeira, poderemos ver que do negro e das feridas, saíram muitos arco-íris. Saiu muita sabedoria. Vale a pena nunca esquecer que o negro é a mistura de todas as outras cores. Integra tudo. E que o vermelho, que é a cor do sangue, também é a cor do coração. É a cor da paixão. O amor é cor-de-rosa porque é temperado com um bocadinho de branco, que é a cor da paz. O amor é sempre de paz. A paixão tem sempre muito sangue na guelra. Umas das minhas lutas diárias é temperar a paixão com a paz. É ver tudo de forma mais rosadinha, com muito mais amor, com mais contemplação e com menos olhos esbugalhados e coração aos saltos. Enfim, cada um tem que encontrar as suas tonalidades e as suas receitas próprias e intimas para ver e viver a vida. As cores são maravilhosas!!! São vida e tudo o que ela representa.

Por vezes, até aquilo que é mau, tóxico e venenoso, possui umas cores belíssimas. As cores são tão universais que são transversais à vida e à morte. E existem cores para todos os géneros, mais vivas ou mais discretas, mais brilhantes ou mais mate, básicas ou compostas, sei lá! Há cores para todos os conceitos. Até as mais profundas questões filosóficas devem ter uma cor. Ou uma misturada delas, se forem problemas sem solução. 

De repente lembrei-me que até os sentimentos e emoções são habitualmente adjetivados com cores. Na verdade elas fazem parte do nosso vocabulário conotativo e servem para reforçar as ideias que queremos transmitir. Ou apenas alindam e enfeitam uma ou outra questão. A poesia também tem muitas cores. Primeiro porque a sua essência já é colorida e depois porque os poetas são pintores de palavras. Não existe poesia incolor. A poesia, entrelinhas e entre palavras, deve esconder arcos-íris aos montes. Parece-me que talvez seja o segredo da inspiração poética. Só pode…

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