Hoje vou escrever sobre os bichinhos da seda. Não é que eu perceba alguma coisa do assunto. Cientificamente não sei nada. Apenas me encantam desde que me lembro de ser gente. Como qualquer outra criança, também tive uma caixinha de sapatos vazia com uns bichinhos da seda lá a morar. Lembro-me de como as lagartinhas eram macias ao toque. Tão macias e delicadas. Se fechar os olhos, ainda consigo sentir a suavidade dos seus corpitos cinzentos. Lembro-me que os contemplavam muito. Passava muito tempo, perdida nas minhas observações e pensamentos, a fazer companhia aos meus bichinhos da seda. Lembro-me de pensar como eram engraçados a traçar as suas veredas nas folhas de amoreira. E como deveriam enjoar por comer sempre a mesma coisa. E porque seria que só comiam folhas de amoreira? E porque não uma verde e fresquinha folha de alface? É verdade, uma vez resolvi mudar-lhes a dieta e matei uma data deles. Fartei-me de chorar. Mas foi uma lição aprendida: não bulir com as leis da natureza. Respeitar o equilíbrio natural das coisas.
Hoje, pensando bem sobre estes bichinhos, retiro tantas aprendizagens e lições. Uns bichinhos tão delicados e frágeis, que parecem umas vulgares e simples lagartas das couves, são capazes de produzir um fio tão resistente e tão bonito. O fio com que se faz a seda. Um tecido tão lindo e valioso! Teve historicamente um papel fundamental nas relações comerciais entre os povos. Até existiu a famosa Rota das Sedas, não é? E tudo partiu de um conjunto de lagartinhas cinzentas…
(Como se chamará a um conjunto de lagartas? Não há-de ser um bando nem uma manada, com certeza. Uma aprendizagem ainda por fazer.)
Os bichinhos da seda são a prova viva de como não podemos descurar a importância das coisas pequeninas, delicadas e frágeis. Ninguém dá nada por eles e são capazes de coisas tão bonitas! Sabem exactamente o que devem fazer e qual a sua missão. Quando chega a hora certa, que só eles e Deus sabem quando é, constroem o seu próprio casulo e enfiam-se lá dentro sem precisarem da ajuda de ninguém.
Como eu gostaria, de vez em quando, de construir o meu próprio casulo, assim macio, protetor e pacificador! Metia-me lá dentro até que me apetecesse e descansava a alma! Gostava tanto de descansar a alma! De soltar os pensamentos sem pressas. No meu tempo, com as minhas demoras e associações. Meditar, esvaziar a cabeça, sossegar o coração e mais outras coisas que na altura me apetecessem fazer…sem tempo contado.
Quando se descansa profundamente, dá-se espaço a que as metamorfoses ocorram. Tal como os bichinhos da seda, também nós precisamos de um espaço e tempo próprios, de um momento de descanso, em ambiente protegido, para podermos alterar a nossa forma, o nosso ser. Para melhor e mais bonito. Para se ir de lagarta a crisálida, e de crisálida a linda borboleta. Como são fantásticos os bichinhos da seda!!! Como são o reflexo de um processo tão importante para a nossa evolução e crescimento enquanto pessoas e almas. E penso que se os bichinhos da seda tivessem lábios, eles estariam sempre rasgados num lindo sorriso. Aquelo sorriso de quem sabe exactamente qual é a sua missão e que a aceita com toda a alegria. De quem sabe que tudo o que lhe acontece é para um bem maior, transcendente e divino. E têm o dom de saber que uma feia lagartinha rastejante esconde uma maravilhosa borboleta colorida e alada que pode pairar sobre toda a criação! E com o poder de dar vida a novas lagartinhas e a outras borboletas, que nascerão no mais delicado e confortável dos berços: um casulo feito de fio de seda!
Como são prendados estes bichinhos. Como é delicado e poderoso este ciclo de vida.
Como sou pequenina perante esta maravilha da natureza!
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