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Escolhas

Há alturas em que não conseguimos gerir a vida de acordo com aquela regra básica para a manutenção do nosso bem estar: afastar quem nos molesta e faz sofrer e chamar a nós, aproximar, quem nos faz bem, quem nos serena e ilumina. Este principio básico da alegria e do bem estar, esta regra simples, tratando-se de vida e de pessoas, tem logo exceções à cabeça. Parece um imposto. Deus me livre!!!

Às vezes, no mesmo momento da nossa vida não nos é possível fazer nem uma coisa nem a outra. Não podemos afastar quem nos faz sofrer, quem nos magoa. É impossível porque quem faz parte integrante da nossa existência e da nossa origem, faz parte de nós, como se fosse um membro. Não se pode afastar um dos nossos membros, por mais doente que esteja. Até pode ter perdido a sua funcionalidade, de forma crónica, mas é nosso na mesma e precisa de ser cuidado. Parece-me que a solução para dar a volta à coisa não está no afastamento do que nos faz mal mas sim na forma de se lidar com o sofrimento que a proximidade nos causa. Parece-me que talvez seja esse o caminho. Passo a vida nisto...a descobrir formas de lidar com o sofrimento e com a tristeza. Como sempre digo, o primeiro passo é sentir o que há para sentir até ao limite. Depois pensar sobre a coisa e encontrar a vereda que nos leva à cura emocional e à paz.

Por outro lado, cruzando a nossa vida com o caminho de pessoas que nos iluminam, que nos causam muita alegria e que nos serenam, não as podemos aproximar mais pelas suas próprias circunstâncias e escolhas. E lá vai a premissa do bem estar toda ao ar! Mais uma vez, saber lidar com a tristeza da ausência de quem nos faz bem. A vida, que é tão maravilhosa e doce, por vezes - também temperamental que só ela - pode ser tão amarga e dura de tragar. A minha sorte é que Deus nos dá as tormentas conforme as forças e a coisa lá vai indo. Esta balança divina bate sempre certinha.

Procuro sempre retirar as aprendizagens das coisas. Procuro encontrar o sumo, a essência das experiências. O que parece ser suposto aprender, experimentar, sentir, valorizar, relativizar...acredito piamente que não existe sofrimento gratuito. Não faria nenhum sentido. Por vezes, o sofrimento serve apenas para percebermos que as nossa escolhas têm sempre consequências. E para repensarmos, ou melhor, (re) sentirmos caminhos. Para mudarmos de direção ou para termos a certeza absoluta de que estamos no trilho certo. E Deus, na sua infinita sabedoria, sempre nos coloca várias opções ao dispor. Tanto no que diz respeito a pessoas (para aproximarmos ou afastarmos de nós) como em termos de caminhos e soluções. A grande questão está na forma como somos capazes de usar a graça do livre arbítrio. Fazemos as nossa escolhas em função do quê? Do medo? Da teimosia? Da segurança? Do controlo? Ou do amor? Da entrega? Da fé? Da liberdade? Da paz?

A paz é um excelente indicador para tudo. É só afinar o coração para a sentir. Com quem sentimos paz e serenidade é, definitivamente, uma pessoa para mantermos na nossa vida. Não são precisas outras análises. Começa-se pela paz. O mesmo acontece nos caminhos e nas opções de vida que fazemos. É uma opção que nos tortura? Com problemas, aborrecimentos, maçadas, com muitos tropeções e sofrimento? Com trocas e baldrocas? Sem paz, sem serenidade? Com poucos sorrisos? É a vida a enviar sinais por todo o lado! É só calibrar o coração para os ler...é porque não é o caminho para nós. Deveremos mudar de caminho, de direção, de continente ou até de planeta, se for necessário. Sem medo. Sem grandes dúvidas. Sempre que seguimos o rasto da paz, estamos no trilho certo. Disto tenho a certeza absoluta! E, não seria exótico, encontrarmos a paz mesmo à frente do nosso nariz, onde sempre esteve, no ponto de origem. Por vezes vamos ao outro lado do mundo procurar aquilo que temos à frente do nosso nariz. Temos um caminho alternativo ao lado da nossa porta e não o conseguimos ver. Principalmente porque nos é difícil lidar com os problemas e as situações que estão na nossa porta. Ou dentro dela. Parece-nos mais fácil deixá-los ficar e ir para o outro lado do mundo encontrar as soluções, a paz e a alegria que teimam em escassear à nossa beira.

Experimentamos caminhos diferentes, saltitamos entre opções, entre as duas margens do rio, empurramos com a barriga, fazemos a fuga para a frente,  ou outra coisa qualquer na esperança, de que no meio das nossas corridas, se encontrem os tesouros que se procura. Há um livro maravilhoso que vale a pena ler que me ensinou muito sobre estes assuntos: "O alquimista" de Paulo Coelho. Vale cada letra.

Por vezes, para termos a certeza do que andamos a fazer e a escolher, a vida apresenta-se com um monte de opções e de encruzilhadas. Com desordem. Fica-se à toa. Com a bússola avariada. Em solidão. Porque as escolhas são sempre solitárias. E devem ser. Mas isto será um assunto com muita conversa, que ficará para uma outra oportunidade.

Também se pode ficar em privação. Porque a vida sabe que a privação ajuda a fazer as melhores escolhas espirituais. Escolhas daquelas que fazem o melhor pela nossa alma. Infelizmente, é muitas vezes na escassez que nos tornamos melhores pessoas e que somos capazes de escolher acreditar de verdade ou amar incondicionalmente, apesar de tudo.

Como escolher entre o que é melhor para nós e o que parece ser melhor, mais fácil? Como uma nuancezinha destas pode fazer toda a diferença na nossa vida. Às vezes, o que parece ser o melhor, não é. Depende do assento da escolha. Por exemplo, falemos de escolher pessoas, relacionamentos mais íntimos. Daqueles esbarramentos que podem acontecer em qualquer altura, sem serem planeados ou previstos. De repente, pode-nos aparecer uma pessoa, que tendo em conta as suas circunstâncias, situações, etc., tem tudo para ser errado e dar errado. Mas o coração diz que está certo. A vida, como é trapaceira, como nos tenta para sabermos o que andamos a fazer, coloca-nos à frente uma outra pessoa com tudo para ser certo e dar certo. Fácil. Suave. Seguro. Mas o coração diz que está errado. E agora? Como usar o livre arbítrio? Como escolher? Em função do quê? Da segurança, do conforto, e da "certeza e correção" fora de nós? Ou em função do que o coração, cá dentro, apita? Sem rede, sem segurança, sem expetativas, sendo apenas o que é? Onde assenta a nossa escolha? Para que lado está o norte? (Não esquecer que nestas alturas, as bússolas avariam todas e os GPS ficam sem bateria...). Parece muito difícil, não é?

Nada difícil se seguirmos o trilho da paz. Onde sentirmos paz está a nossa melhor escolha. Reforço que são os sentimentos de paz e de serenidade. Não os de segurança e de conforto. É fácil confundirem-se estes sentimentos e a sua confusão pode ter um preço muito alto. Para mim, para escolher, basta que o meu coração apite. Normalmente, faço o que ele me diz. Mesmo que dúvidas e receios. Com muita dor na maior parte das vezes. Mas tendo a certeza que estou a seguir o que é melhor para mim, sendo lá porque razão for. Acreditando acima de tudo. Cheia de esperança. Cheia de amor.

Esta minha forma de escolher tem sido fruto de um processo, de muitas aprendizagens, de muitos quebra-cabeças e também de muito pedacinho de coração partido. Sofre-se que se farta. Mas também se ama que se farta. E ainda não descobri melhor forma de fazer as coisas. Não me parece que haja. Vou continuar a investir em melhorar e aprimorar esta coisa de ouvir, de entender e ler o coração, para que cada vez seja mais fácil fazer as escolhas certas. É que no nosso coração está sempre a nossa verdade, a nossa essência, a nossa centelha divina. Está lá Deus. E Deus sabe sempre o que é melhor para nós. Mesmo quando não entendemos nada do que nos está a acontecer...

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