Eu adoro plantas, flores, vasos, canteiros, árvores, jardins, parques, bosques, florestas e tudo o que tenha verde e água. No fundo, a vida em todo o seu esplendor. Independentemente do tamanho. Pode ser um vasinho pequenino ou a floresta amazónica. Cada um no seu lugar, mas olho com o mesmo encantamento. Da mesma forma que me parece que não conseguiria viver muito tempo longe do mar, também não conseguia viver longe da natureza e de espaços verdes. E qualquer jardinzinho citadino me aconchega. Não é preciso ir ao Gerês para ficar contente. Na verdade, no Gerês não se fica contente. Fica-se maravilhado!
Costumam dizer que eu tenho uma mão verde. Herdei o dom da minha avó materna que qualquer coisa que espetava num vaso, crescia. Não percebo nada de plantas nem de flores mas elas dão-se bem comigo e eu muito bem com elas. Temos uma relação de muito respeito. E elas sabem. Elas sabem que eu gosto muito delas e que as cuido sem lhes pedir nada em troca. Apenas que sejam o que são e saudáveis. E que me deem a alegria da sua existência. Que me deixem apreciar a sua companhia. As plantas sentem estas coisas, parece-me. Lá como, eu não sei. Mas que sabem que eu gosto delas, sabem. Se calhar, um dia destes ainda se vai descobrir que afinal, as plantinhas também têm coração. Há-de ser verde, com certeza. E há-de estar na raiz. Porque as plantas não tendo cérebro, são muito inteligentes: começam sempre pelo princípio, criando raízes, fortes que as sustentem. São os seus princípios, os seus valores, e deles não abdicam. As raízes são o que as fazem ser tão seguras de si próprias. E isso é bom. Não é qualquer tornadozinho ou chuvada que as faz cair por terra. Podem vergar, mas raramente quebram. Isto também porque têm a sabedoria suficiente para serem flexíveis. Já tiveram a paciência de aprender que a flexibilidade permite sobreviver com dignidade às intempéries e ajuda a dar boas sementes.
As flores, as plantas e as árvores pacificam-me. Sempre me fez impressão o facto de não se mexerem. Apenas ali ficam, altivas, observadoras, imponentes ou simples mas afirmativas da sua essência. São o que são e todas se acham belas por isso. Sem preconceitos, nem estereótipos, sem vergonha da sua beleza e sem inveja da beleza das outras. Sabem muito bem o que são, e para que lado hão-de crescer. Apenas se mexem com o vento, que é como quem diz, com a vida. Vão tranquilamente para onde a vida as leva. E sabem que a vida tem várias estações, e sabem ainda que aquilo que o outono tira, a primavera há-de devolver. Têm a certeza disto. E então, nada temem. Estes seres vivos, são seres de fé. Acreditam na renovação constante dos tempos e têm a calma necessária para irem adquirindo experiência e aprendendo, sem pressas, quais os obstáculos a ultrapassar e como fazê-lo. Têm a noção exata do que necessitam para viver e não perdem tempo com coisas que não interessam. Querem água e luz. Ponto. O resto são enfeites e lacinhos ou, melhor ainda, florinhas.
Também gosto muito das verduras todas porque são umas sobreviventes. Mesmo nos ambientes mais inóspitos, haverá sempre uma plantinha minúscula que conseguirá encontrar uma gotinha de água e uma restiazinha de sol. E como está habituada a pouco mais do que nada, o que encontra é precioso. É muito valorizado. E é suficiente para cumprir a sua missão de plantinha valente e lutadora.
Também as árvores centenárias ou milenares fazem as minhas delícias. Penso sempre como nós somos arrogantes ao acharmos que somos donos do tempo, do espaço e da terra. E das árvores. Estas árvores maravilhosas, se falassem o que não diriam? Já viram passar gerações e gerações, tempestades e bonanças, fogos e chuvas e tantas outras situações daquele contexto e daquele bocadinho de história. Já me têm rolado umas lágrimas quando sei que se corta uma árvore com muitos, muitos, muitos anos. Sinto um misto de revolta e de dor. A arrogância do ser humano deixa-me extasiada! Como é possível destruir nuns minutos aquilo que a natureza de forma tão tranquila, paciente, complexa e maravilhosa levou décadas ou séculos a construir. Às vezes, nós pessoas, somos mesmos pequeninos no sentido da mediocridade. Temos uma falta de respeito por esta força criadora que é a natureza que só visto! Fazemos parte dela mas não é nossa para dominar ou destruir. Tão simples de entender. Se conseguíssemos perceber que a nossa existência física, individual é tão insignificante perante outras espécies de seres vivos e outros elementos da natureza, não teríamos esta arrogância destruidora. As cataratas do Niagara estão cá há quanto tempo? Ainda o homem nem sonhava em ser um parente afastado dos macaquinhos, quanto mais…E todos os animais, no que diz respeito ao ambiente e à natureza (e à sua própria espécie) são muitíssimo mais inteligentes do que nós. Têm sabedoria divina. Apenas utilizam e usufruem sem destruir. Qualquer bicharoco insignificante não estraga o que não utiliza. Ajusta-se, adapta-se e ajuda a construir, a transformar. Tem este conhecimento. Sabe que é uma parte do todo. O homem quer à força adaptar a natureza à sua própria natureza humana. Tem dado mau resultado e vai continuar a dar. Diz-se que Deus perdoa mas que a natureza não.
Enfim, somos capazes de coisas tão belas e de coisas tão feias…que pena.
Mas voltando aos meus verdes: tenho aprendido muito com as flores, com as plantas e com as árvores, com a sua diversidade e beleza. E elas não falam. Apenas são o que são. E ser-se o que se é, tem muito que se lhe diga. Mas é como em tudo na vida, se contemplarmos, se olharmos com olhos de ver, há tanto a aprender com o que nos rodeia. Quem me conhece sabe que adoro oferecer flores e plantas e também gosto de receber, claro. Prefiro uma flor dada com carinho, com amor a outra coisa qualquer. Na verdade, o presente em si mesmo não interessa muito. Interessa sim o cuidado, o tempo que a pessoa gastou a escolher o presente, ou a espontaneidade, o significado.
Quando ofereço uma flor ou uma planta, ofereço um bocadinho do mundo, um bocadinho de beleza, um bocadinho de natureza para que aquela pessoa também possa usufruir dessa bênção. Bem sei que a maior parte das pessoas nem sabe do que estou a falar. Nem pensa sobre isto. Nem recebe as flores e plantas com o significado que lhes coloco. Mas eu não me importo. Eu ofereço à mesma. As flores são os presentes que homenageiam a vida e a morte. Os aniversários, os amores, os momentos especiais. Tal como existem musicas para tudo, cá nos meus mundos, também existem flores e plantas indicadas para cada ocasião. Porque, na verdade, uma flor ou um vasinho de plantas é apenas uma forma disfarçada, socialmente correta, de se oferecer amor. De se dar um mimo ou um abraço com um bocadinho mais de cortesia e protocolo.
Até Santo António teve as suas florinhas, há quase mil anos atrás! Esta coisa do amor pelas verduras já é muito antiga, pelos vistos. Para mim, é o pão nosso de cada dia!
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