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Eu e a natureza

Eu gosto muito de animais e de tudo o que faz parte da natureza. Até nas pessoas, adoro o seu estado mais puro, mais natural, mais vindo da essência. Daí que adore crianças. Adoro a sua pureza, a sua frontalidade, são diretas e honestas. São o chamado "pão, pão, queijo, queijo". Tenho sempre imensa pena quando começam a apanhar as manhas da gente crescida. Tem que ser, vão ser crescidas também e têm que se adaptar. Mas lamento sempre um bocadinho que assim seja.

Sou muito feliz no meio da criançada. Fazem-me lembrar da verdadeira beleza das coisas. Fazem-me exercitar o que de melhor há em mim. As crianças purificam-me. Iluminam-me. Sou-lhes francamente grata por isso. Há uma característica nas crianças que gosto e admiro particularmente: elas pensam com o coração. Utilizam-no para tudo e porque sim. Depois nós, gente crescida, estragamos tudo ao ensiná-las a serem essencialmente racionais. E elas vão-se esquecendo de como se usa o coração. Nascemos com tudo o que precisamos para sermos felizes e para sabermos viver da forma como Deus quer. Infelizmente perdemos muita bagagem pelo caminho e carregamos uns pesos e umas penas que nos embaciam os olhos do coração. E lá vamos caminhando só com um GPS: o da cabeça. Temos tanto a aprender com as crianças...

Deus dá-nos exemplos aos molhos de como encontrarmos o melhor de nós próprios. É bem verdade que temos que o fazer olhando para dentro, para o nosso interior. Mas Deus, na sua infinita bondade e compreensão, rodeia-nos de exemplos, de coisas boas para que seja quase impossível não ver, não encontrar reflexos da nossa essência no mundo que nos rodeia. Por vezes até esbarramos, chocamos de frente com este ou aquele bocadinho de nós próprios que é para ver se integramos melhor. Parece-me que basta sermos um bocadinho contemplativos para nos encontrarmos na natureza. Se refletirmos naquilo que observamos, milagres acontecem! Conseguimos encontrar o nosso melhor, na relação com os outros, com os animais, com a plantas, com a natureza no seu geral. Então com as crianças...passamos a vida a fazer com que elas nos admirem e queiram ser como nós quando crescerem. Deveria ser ao contrário, nós é que deveríamos querer ser como elas e lutar por isso com todas as nossas forças.
Deveríamos querer caminhar no sentido da pureza, da simplicidade e da alegria enquanto estado normal. Não há maior absurdo do que uma criança verdadeiramente triste. É insuportavelmente doloroso olhar para o olhar de uma criança triste. Principalmente o olhar, o tal espelho da alma. Todas as crianças são alegres por natureza. Somos nós que lhes carregamos o olhar, que lhes infligimos sofrimento e que as fazemos esquecer de tudo o que elas conversaram com Deus antes de nascerem. Se pensássemos um bocadinho mais nestas coisas seriamos melhores educadores. Amaríamos melhor as nossas crianças e mais importante do que tudo: teríamos a humildade de aprender com elas. Elas ensinam-nos as lições que fazem bem à nossa alma. As crianças dão-nos as coordenadas do caminho para o Céu. Desses assuntos da alma são elas que mais percebem, que mais entendem. Por isso é que elas se dão tão bem com os animais e com os outros elementos da natureza. Eu tenho uma cria que meia volta vai falar com as nossas plantas. Porque sabe que elas precisam de carinho para estarem lindas e para crescerem. E, naturalmente, vai-lhes fazer umas festinhas e diz-lhes palavras bonitas. E eu sempre penso que, de facto, também eu gosto de festinhas e de palavras bonitas. A minha alma fica mais bonita e cresce. Eu fico mais feliz. E desta maneira simples, a natureza e criançada são um reflexo nosso. Uma pequenina mas tão importante lição de vida. Se estivermos atentos, conseguimos ver tantas coisinhas boas que nos ajudam a entender esta coisa da vida e dos seus fantásticos mistérios.

É engraçado que todas as pessoas que fazem parte da minha vida tem um outro nome, carinhoso, pelo qual as trato de vez em quando. Um ou vários. É conforme  (eu não sou muito dada a rotinas). Mas todos os outros nomes têm a ver com animais, plantas, elementos da natureza ou de cariz mais espiritual ou isotérico. Também pode ser apenas uma palavra de mimo. Sempre se arranja qualquer coisa para toda a gente. Esse qualquer coisa sempre traz à luz qualquer traço especial que a pessoa possua e ao qual dou relevância. Sai-me naturalmente. Depois logo penso sobre isso. O que sei é que defino melhor a pessoa por essa palavrita do que pelo seu próprio nome. Tem a ver com o tal reflexo de nós próprios e dos outros que, se observarmos, conseguimos encontrar no mundo cá fora. Basta fazermos algumas associações de ideias. Sem pensarmos muito sobre isso. Sem grande racionalidade. Basta deixar o coração encontrar as palavras certas. Vão sair palavras amorosas, pois de amor é o coração que percebe. Pode ser um simples "pinguim". A minha cria mais nova é tratada muitas vezes assim, por pinguim. Porque os pinguins são tão meigos.

Nem sempre é assim tão fácil encontrar palavras para me definir a mim própria. Este exercício pessoal é sempre um bocadinho mais difícil. E na verdade, não tem a mesma piada fazer para mim. Se for de manhãzinha cedo, uma vez que costumo acordar de mau humor, lembro-me logo de uma orangotanga! A arreganhar os dentes, com a pelagem toda desalinhada e torta da vida! De manhã ao acordar sou um bicho um bocadinho difícil de aturar. Até me custo a aturar a mim própria. A sorte é que à medida que o dia vai caminhando, o animal em mim vai-se tornando menos símio e ficando mais simpático e elegante (espero eu). Portanto, encontrar um animal que me defina, é um bocadinho difícil - tem dias, e nos dias tem horas. Por vezes percorro toda a cadeia alimentar, sem grande esforço. 

Talvez o elemento da natureza que melhor me defina seja o mar com toda a sua imensidão, toda a sua vida, a sua têmpera e diversidade. É capaz de dar para as manhãs mal humoradas, para as horas contemplativas, para as de alegria e as de reflexão. Para as de tristeza e para as de fúria. E as de escrever. Da mesma maneira que o mar devolve o que lhe é oferecido, de bom e de mau, também eu devolvo, tantas vezes pela escrita, aquilo que a vida me tem ensinado...

Também no que diz respeito ao mar e a mim própria, sendo assim mais como o oceano Atlântico e as suas características, procuro ir aperfeiçoando-me, pacificando-me e serenando para ver se um dia destes acordo sendo mais como o mar das Caraíbas. Isso é que era evolução enquanto ser humano, enquanto alma! A esperança nunca morre. Esperança é o meu nome do meio.



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