Hoje
dei conta que já escrevi por aqui 50 textos. Meu Deus! 50! Quando comecei
nestas coisas não me imaginava a escrever tanto. Isto porque cada vez que
escrevo um texto, penso sempre que será o último. Parece-me que já não terei
nada a dizer a seguir. É um pensamento tolo mas recorrente. Nunca sei se virá
nova vontade de escrever. Se a inspiração volta. Nem sei bem o que é a
inspiração. Como é que salta e comanda a escrita. Só sei que é um ímpeto que
não me apetece nada controlar. Deixo sair. Parece que as palavras têm vontade
própria. E quando não são as palavras, são os assuntos. Há assuntos que querem ser
falados. Mais ou menos profundos, polémicos ou difíceis de entender, querem ver
a luz do dia, de forma despretensiosa mas incisiva. Querem um bocadinho de
atenção. E para mim é muito fácil fazer-lhes a vontade.
As
palavras, os pensamentos, a contemplações e reflexões fazem parte de mim. São
uma segunda pele. Se calhar até são a primeira pele. Desde que me lembro de mim
que me lembro de mundos interiores tão grandes e tão complexos que os escondia.
Não conseguia perceber se as outras pessoas também pensavam como eu pensava.
Sempre dei conta que gostava de coisas e que me emocionava com coisas que as
outras pessoas nem ligavam. Nem sabiam do que falava. Sempre tive alguma noção
de diferença, de não pertença à maioria dos ambientes. E achava que era um
bocadinho esquisita. Sempre dei uma particular atenção às pessoas. Sempre as
procurei entender, saber os porquês das coisas, dos comportamentos e das
atitudes.
Sempre
fui adaptada aos contextos embora fosse uma adaptação aparente. Utilizando o
registo necessário para a tal adaptação. Sempre um pouco solitário, pois não
poderia ser eu própria verdadeiramente. E fui expandindo os meus mundos
interiores. Foi o possível. Muito poucas pessoas me conhecem a sério. Muito
poucas sabem onde estão as minhas fronteiras. Nem os meus próprios pais têm a
noção de até onde sou o que sou. Mas sem mágoa. Como costumo dizer, a idade é
uma coisa maravilhosa. Antes importava-me com estas coisas. Hoje em dia já não
me importo nada. Já não me importo com o que a generalidade das pessoas pensa.
Importo-me muito com a opinião de muito pouca gente. E fiz um acordo comigo: serei
o mais fiel a mim mesma que for capaz. Tentarei ser o mais verdadeira possível
comigo própria. E é muito bom. Tenho pacificado, aprofundado, serenado. E
afinal, não é o mundo que se modificou mas eu é que alterei as minhas energias.
As minhas formas de pensar e agir. Aprendi a rir de mim própria. Aprendi a
chorar sempre que tenha vontade, sem engolir. Aprendi a tirar alegria de tudo o
que puder. A amar o que o coração disser. E cada vez sou mais livre. Com uma
liberdade pacificada. Estou neste caminho. Não sei se alcanço o fim, não o
conheço. Mas o caminho é fantástico. O processo de ficarmos bem connosco
próprios é uma maravilha! Se soubesse que era tão bom, tinha começado ainda
mais cedo! Mas como sempre digo – embora me custe – tudo tem o seu tempo certo.
Ainda
estou no caminho de limar a exigência. De ser menos exigente comigo própria e
com os outros. De aceitar as coisas tal e qual como são e como a vida as apresenta.
De as aceitar simplesmente sem as querer modificar ou transformar à minha
medida. Também estou naquele processo de aprender a viver um dia de cada vez.
Sem pensar para a frente e para trás. Esta parte não é assim lá muito fácil.
Mas esforço-me. E como sou muito perseverante pode ser que lá vá indo. Uns dias melhor e outros pior. Custa-me muito esta coisa do aqui e agora porque há muita vida para viver e não cabe toda num dia. Há tanta natureza para apreciar, tanta companhia para desfrutar, tanto livro para ler, tanta musica para ouvir, tanto mar, tanto sol, tanto amor. E o que faço a isto tudo? Ainda não encontrei a forma de gerir estas coisas todas com o aqui e o agora.
É bem verdade que já aprendi a retirar alegria de coisas simples, que me acontecem assim de repente, de apreciar momentos que surgem só porque sim. Sem passado nem futuro. E cada vez gosto mais de coisas simples, de pessoas simples, de pureza e de doçura. Dizem que refletimos fora de nós o que somos e sentimos por dentro. Se assim for, fico muito contente pois tenho procurado tornar-me cada vez uma pessoa menos complexa, mais simples, tenho tentado purificar a minha alma e ser mais doce. Sempre que sinto amargura, faço o pino para me livrar dela. Procuro incessantemente encontrar estratégias de limpar a densidade da alma, de expurgar a tristeza, a zanga, o mau feitio e tudo o que não é bom. Nem sempre consigo. Mas já consigo muito melhor do que conseguia antigamente. E quanto mais tento, mais fácil é.
A minha alma tem que ser maior do que tudo o que não a engrandece, do que tudo o que a torna densa e feia. A luz, o bem, o amor, a paz, a justiça e a verdade são os ingredientes para o bem supremo da nossa alma. E da dos outros. Aplicar isto tudo na nossa vida, desafio total! Devem por aí vir mais uns 50 textos à volta do cerne da questão...
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