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Uma florinha selvagem

Tenho uma magnífica flor no meu jardim.

É uma florinha que nasceu à 16 anos atrás. Foi parida com muita dor e com muito, mas muito amor. Foi o botãozinho de gente mais bonito que alguma vez vi! Apaixonei-me imediatamente! A paixão pela flor pequenina transformou-se em amor incondicional. Um amor que dura até hoje e que será eterno. É o sentimento mais bonito do mundo. Porque cresce um bocadinho todos os dias. Também é verdade que a nossa primeira flor é a flor que nos muda a vida. É a flor que entra por nós a dentro, por cada um dos nossos poros. Por cada inspiração, por cada piscadela de olhos, por cada sopro de vida.

Esta florinha, é tão especial! É linda como uma rosa. Das selvagens. Porque a minha flor (que não é minha, é dela própria e do mundo), é um espírito livre. Tem a liberdade na sua essência. E a liberdade tem a ver com o ser coerente consigo própria e com o seu imenso coração.

Por vezes, para mim, jardineira neste jardim, é difícil perceber que esta rosinha tem crescido muito depressa. Também é difícil saber para que lado é que ela quer crescer. O meu papel é ajudá-la a crescer bem regadinha, bem adubada, bem cuidada para que possa ser sempre esplendorosa e para que nunca nenhuma intempérie ou praga a possa debilitar ou derrubar.

Uma jardineira cuidadosa sabe muito bem tratar das suas plantinhas, mas não sabe tudo. E de vez em quando sofre porque gostaria de poder ajudar incondicionalmente as suas flores, especialmente esta linda rosinha, que é a estrela do seu jardim. Mas nem sempre a rosinha quer ou precisa de ser ajudada. A rosinha tem o seu caminho. Tem a sua vontade. Tem o seu conhecimento. Pode escolher estar um bocadinho mais murcha ou mais desalinhada. Só porque sim. Só porque crescer é difícil. Por vezes os espinhos são muitos, são grandes. De vez em quando, viram-se para dentro e magoam o coração da rosinha selvagem.  Mas crescer é assim mesmo. Cá eu, jardineira, gostaria que a minha rosinha nunca sofresse. Que nunca cometesse erros (porque podem ter um preço muito alto) e que fizesse tudo certinho. E que…e ainda…e também…jardineira que é jardineira gosta de tudo perfeitinho. Porque supostamente, o que é perfeitinho evita sofrimento. Principalmente para a rosa.

A rosinha estrebucha, reclama e refila. À sua maneira. Pois é bem verdade que ninguém é perfeito, muito menos a jardineira, e que o caminho se faz caminhando, com quedas, tropeções, nódoas negras e pétalas perdidas. É verdade. A jardineira sabe disto tudo. Mas o seu amor pela rosinha selvagem é tão grande, tão imenso que por vezes cega a razão e inunda o bom senso. É muito fácil deixar as rosas à vontade quando estão no jardim dos outros. As rosas do meu jardim, eu tento proteger e cuidar com todas as minhas forças e com toda a minha dedicação. É o meu jardim. Onde estão guardados os meus tesouros. Onde moram as minhas flores mais raras e especiais.

A minha rosinha é multifacetada. As suas pétalas são de muitas cores. Depende conforme está o tempo, o sol ou a maré. Por vezes, quando se zanga, não é uma rosa é um cato. Com muitas agulhinhas a espetar. Mas como o seu coração é maior do que ela própria, ao fim de um minuto, já não é cato, é uma linda margarida, de petalazinhas abertas para o sol. Ou uma trepadeira, enroscada no suporte mais seguro que encontrar. É de facto, uma plantinha maravilhosa! Temperamental, intempestiva, intensa e amorosa. É tão parecida com a jardineira que a criou que por vezes andam às turras. Chocam um bocadinho. É que gostam demais uma da outra e estão sempre a tentar que uma e outra sejam perfeitas. Amor à grande faz destas coisas. São as duas umas vivaças e sem papas na língua. E admiram-se mutuamente apesar de serem tão exigentes uma com a outra. Também estão ambas a aprender a ser menos exigentes e mais compreensivas. E vão conseguir! Como já se disse, o caminho faz-se caminhando. E quando uma tropeçar, a outra vai estar lá para não a deixar cair. Se cair, ajuda-a a levantar-se. Simples. Mesmo que doa. E sempre que uma das duas sofre, a outra sofre também. O amor é assim. Mas também é a maior força do universo. E a maior força do universo é capaz de tudo!

Esta rosinha é tão especial que por vezes impressiona (mais do que o costume) a jardineira. É que esta rosa ainda em flor, entende coisas e sentimentos que mais ninguém entende! É capaz de perceber, a intensidade com que a jardineira gosta de música. Entende o efeito que a música tem na vida da jardineira. Entende a emoção que um bom texto, uma boa poesia pode causar na alma de uma pessoa. Mais ninguém no mundo (até hoje) conseguiu entender a jardineira no que diz respeito à forma como se emociona com estas formas de expressão. E esta rosinha entende muitas coisas relativamente às pessoas. Mesmo sem muita experiencia, sente. E isso é muito bom! É verdade que existe sempre o outro lado da moeda: quem muito sente também mais sofre. Mas é melhor sentir, viver, do que passar pelas coisas de forma amorfa e anestesiada. 

Por vezes a minha rosa tem uma cor de vermelho fogo! É a cor da causa, da luta pela justiça. É talvez uma das maiores qualidades da minha rosa: o sentido de justiça. Existem 3 pilares para se ser capaz de mudar o mundo. A minha rosa, se quiser, vai poder mudar o mundo e transformá-lo num local melhor. Os 3 pilares são: um grande coração, um forte sentido de justiça e avidez pela verdade. Não só a coerência pela verdade interior, ouvindo o seu coração, a sua essência, como a verdade no sentido lato. No que diz respeito aos outros e ao mundo.

A rosinha da minha vida, está a caminho de poder mudar o mundo! A rosinha vai aprender (se é que já não sabe), que cada pessoa é um mundo, com mais mundos por dentro. E, quando salvamos uma vida, salvamos o mundo inteiro.

Para além destas coisas muito importantes e profundas que se passam entre mim e a minha rosa, existem ainda uma parte muito, mas muito divertida! É que a minha rosa é uma companheirona. É uma ótima companhia, culta, perspicaz e inteligente. Sabe falar de quase tudo e gosta de ver a jardineira bem bonita! A jardineira cuida da rosa mas a rosa também cuida da jardineira. Palpita sobre a forma da jardineira se arranjar e de se apresentar no jardim e nos outros jardins, sempre no seu melhor! As sugestões são habitualmente boas!

Esta jardineira, lá abana a cabeça, vezes sem conta, e diz: como é possível? Como é que uma rosa que ainda no outro dia era apenas um botãozinho de nada, cresceu tão depressa? Como? E como sabe tantas coisas? E como…? E como…? 

Por mais anos que ambas tenham, e por muito que isso aborreça a rosinha, para a jardineira, esta flor vai ser sempre um lindo botãozinho, pequenino, indefeso e admirável! É a vidinha!!!

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