Quando se perde o que não se tem, não se perde coisa
nenhuma.
Chora-se pelo que não é suposto haver. São destroços do que nunca naufragou. São raios de uma tempestade que não relampejou.
São dores de membros-fantasma. São penas de almas salvas. São grilhões de liberdade.
As lágrimas de choro da perda do que nunca nos pertenceu,
não podem ser lágrimas. Podem ser gotas de água, mas não podem ser lágrimas.
Podem ser gotas de alma que rebentam de tanta esperança que carregam.
Mas não podem ser lágrimas.
Mas não podem ser lágrimas.
Que olhos choram as lágrimas que não são suas, se as dores
não lhe pertencem? São dores não nascidas, mal paridas, esvaídas do sangue que
não corre nas veias.
Se a dor não é, se nada se perdeu, e se o sangue não corre, como são fortes as sombras que assombram, os rastos que acossam
e os contornos que atalham. Sulcos rasgados a ferro mal malhado. Que não se vêem. Só se sentem. Aprofundam. Lágrimas que não se choram, porque não são
lágrimas. Engolem-se porque não existem. Não são lágrimas, são gritos. Mudos.
Que não se gritam, afogam-se nas lágrimas que não existem.
Sem lágrimas, sem gritos, sem coração e sem alma. Nada se
perdeu.
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