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Mundos e mundos por dentro

Hoje partilharei o amor que tenho pela música. Diz que quem canta, reza duas vezes. Eu gosto muito de falar com o Céu a cantar. Mas mais do que isso, a música ajuda a viver cada estado de alma. De paz ou doutro estado qualquer. Costumo dizer que tenho uma música para cada episódio importante na minha vida. Tenho acordes, notas, harmonias e compassos a correrem-me pelas veias. Por vezes, ouvir música é a forma que tenho de encontrar o meu reflexo naquilo que estou a pensar ou a sentir. É a forma de pacificar a alma. De curar a tristeza ou de ampliar a alegria. De viver a solidão, a partilha, a tristeza, o medo ou o amor.

Parece que determinado poema nos lê a alma de forma inequívoca e que a melodia embala a reflexão, a meditação ou todo o processo de pacificação. Hoje é daqueles dias em que não quero estar nem um segundo sem música...momentos intensos de tristeza que também têm que ser vividos, sentidos, aceites e, principalmente, entregues ao Céu. Só o Céu nos pode ajudar a libertar as mágoas. Senti-las de verdade para que depois possam ser libertadas. Para que a alma possa ficar limpa. Para que as marcas sejam de aprendizagem, vivência e aceitação. Nada do que nos acontece é casual. Há sempre uma boa razão para tudo, no sentido do bem supremo da nossa alma. Na verdade, as tristezas, os destroçares de coração e o sofrimento são sentidos porque não conseguimos perceber, compreender a razão das coisas. Se conseguíssemos ver mais além, talvez fosse mais fácil. E a alegria reinava. Resta-nos o consolo de que tudo acontece para nosso bem. A certeza de que é o caminho, por mais tortuoso, para chegarmos mais perto do Pai. Da luz, do amor e da paz. E o caminho é tão tortuoso... é mesmo tão tortuoso, vamos de joelhos, esfolados, em sangue. Com lágrimas. Mas vamos. Seguimos e aceitamos os planos que a vida tem para nós. É sempre o melhor para a nossa alma. Os momentos de tristeza arrebatadora são profundamente solitários. Não devemos lutar contra a tristeza. Devemos lutar contra a solidão. A solidão é má conselheira e aprofunda a tristeza. Nem sempre conseguimos a partilha completa do que nos vai na alma. Uma vezes porque não conseguimos mesmo abrir esse sentimento, outras vezes porque não queremos preocupar os que nos rodeiam. No entanto, temos a maior das graças ao ter o Céu que nos entende antes de nós próprios nos entendermos e colocarmos em ordem os sentimentos e as emoções. Sempre nos acompanha. Sempre nos ampara e aconchega. Mesmo quando dói profundamente. Mesmo quando a esperança se esconde e o cansaço dá conta de nós. Mesmo quando os segredos que carregamos no peito se tornam pesados demais. Mesmo quando os mundos interiores transbordam e custam a caber dentro de nós. Nestes momentos, a música é também a voz de Deus. Tudo o que emociona verdadeiramente tem a voz de Deus. Este é um princípio que, do meu ponto de vista, é inquestionável. Quando o cansaço da tristeza quase nos está vencer, encontrar a voz de Deus é a forma de retomarmos a nossa alegria e de encontrarmos umas gotinhas de consolo e de aconchego. E como já disse, a voz de Deus encontra-se em tudo o que nos emociona à séria. E somos tão únicos, tão especiais, que cada um de nós emociona-se com diferentes coisas e de diferentes formas. Assim, Deus utiliza uma forma diferente para falar com cada um de nós, na nossa particularidade e unicidade. Tão bonito, não é? 

Não vale a pena passarmos a vida a trancarmos o coração, a escondermos as nossas emoções, a não querermos ouvir esta parte mais subjetiva de nós próprios. Perdemos a voz de Deus. A tão embaladora e amorosa voz de Deus. Aquela que sabe exatamente o que precisamos de ouvir. Como perdê-la? No meu caso, oiço-a particularmente com a música. O meu coração só fala e só escuta "embalado" pela música. Nela encontro eco para o que sinto. Nela encontro o meu reflexo no espelho. Nela encontro a companhia, a contensão e a liberdade de sentir o que sinto. Como quero sentir. Com a intensidade que me apetece. Sem filtros, sem juízos de valor. Sentir até doer tanto que já não pode doer mais. Para depois, quando o momento certo chegar, deixar de doer de vez.

Como diz uma maravilhosa música do maravilhoso Pedro Abrunhosa: eu sou um mundo com mundos por dentro. A música é mais um dos meus mundos. Aquele que normalmente pacifica os outros mundos. Aquele que lhes põe ordem quando o caos se quer instalar. Aquele que os ajeita e aconchega para que todos convivam em perfeita harmonia, nesta galáxia chamada Magdala Gabriel. Esta galáxia, como todas as outras, encontra-se sempre em evolução, em movimento. Neste momento, podemos dizer que se encontra em expansão. Vão nascendo mais mundos. O da escrita é recém nascido e vem ajudar o da música a dar conta desta mundaria toda. Galáxia grande, movimentada, intensa, exuberante! Colocar ordem nesta casa não é tarefa fácil! Muita ajuda do Céu. Muita, muita, muita....

Agora, depois de tanta música e de tanto desfiar de palavras, sinto-me uma galáxia um pouco mais pacificada. É sempre um desafio encontrar a paz nos diferentes cantinhos onde ela se esconde. Mas vale tanto a pena...a paz é o princípio e o fim de todas as coisas boas. De todas, sem exceção. Tenho a certeza.  

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